Capítulo 79 - Machado

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...Em meio a um mar de fumaça e línguas de fogo, Amadeo avança por entre os escombros de um prédio que cai. "É sua culpa", ele escuta uma voz dizer. As paredes começam a colabar e novas explosões fazem estilhaços voarem para todas as direções. "É sua culpa", ela repete, centenas de vezes, incessante. Ele tosse, como se seus próprios pulmões estivessem preenchidos pelas chamas. Ele escuta choros e gritos. Todos são dolorosamente familiares. Na distância, ele vê uma janela, mostrando a lua a pino. "É sua culpa", a voz repete conforme ele avança em direção à liberdade. "É sua culpa", a voz diz ao pé de seu ouvido, junto de um arrepio febril. Suas pernas se tornam pesadas e ele agarra algo. Uma mão. Carbonizada. "É sua culpa", a voz parece ecoar no interior de sua mente, como se preparasse a próxima explosão. Ele corre, desesperado e estica os braços o máximo que pode para...

_ Amadeo! Acorda!

Um solavanco súbito retira o Paragon do transe. Ainda entorpecido pelo sonho, ele olha ao redor, deparando-se com Johan, mais uma vez com aquela expressão preocupada.

_ ...a culpa não... eu... o Anjo da Guarda... eu... não...

Amadeo gagueja e, finalmente, solta o pulso de Johan que pressionava com força. O moreno suspira, aliviado, quando o outro fecha os olhos mais uma vez para pegar no sono. Marjolin diz:

_ Emília estava certa, hein. Ele realmente tem "crises sonambulísticas".


Assim que o sol desponta, a rainha ruiva decide que é hora de começar o dia. Sem pudor ou piedade, ela invade o quarto em que seus pupilos estão hospedados, já com o machado imenso em mãos. Amadeo a cumprimenta, já com o uniforme, pronto para sair. Johan, por outro lado, grunhe e se esconde sob as almofadas. Emília o puxa pelas pernas e grita:

_ Eu PRECISO que você venha comigo, desgraçado!!

Enquanto ela o arrasta pela gola, Yomi surge na porta. Fitando Amadeo, diz:

_ Quero te apresentar o último membro da nossa Unidade. Vem.

Sem questionar, Amadeo obedece, curioso.

Yomi o leva através de um conjunto de túneis subterrâneos que deixam o forte para penetrar nas profundezas da montanha. As paredes são de gelo e ferro, úmidas e escuras. O clima assustador é completado pelos gemidos suaves que ecoam pelos corredores. No caminho, Yomi explica:

_ Existem Fabulares de todos tipos. Alguns parecem e agem como outros animais, outros são entidades mágicas, espíritos e fantasmas. Uns poucos são seres completamente malditos.

Com essas palavras, ela para diante de uma porta metálica, de onde o choro sinistro emana. Abrindo-a lentamente, ela apresenta:

_ Esse é nosso Joi.

A criatura com a qual Amadeo se depara parece ter saído de um pesadelo: Um esqueleto retorcido, com mais de 20 ou 30 metros de altura, envolto por um halo de escuridão púrpura. A entidade emite o som triste e assustador. Amadeo sabe que se trata de um Gashadokuro, uma entidade sombria nativa de Flavi, famosa por devastar e destruir sem propósito. Ele sente as pernas trêmulas.

_ Isso... "Ele" é racional?

_ Não. Nós o chamamos de Joi, porque é fofo, mas ele não tem carinho pela gente. Nós só o usamos a noite, em emergências. Sayuri que o controla.

Um fio frio de suor desce pela nuca de Amadeo quando ele percebe que talvez o indivíduo mais poderoso naquele lugar fosse realmente aquela lontra de 60cm. "Ela é usuária de habilidade psiônicas, tipo telecinese e telepatia, eu acho. Ugh, eu tenho dificuldade com essas coisas que precisa de muita concentração.", ele pensa, conforme caminha ao redor de Joi com Yomi. "Também tem o negócio de controle e leitura de mente serem super problemáticos por coisas de ética, privacidade e tal. É perigoso.", conclui.

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