Tudo levou àquilo. As perdas, as derrotas, amarguras e feridas. Manhãs calmas se tornaram em caos no campo de batalha, o brilho das estrelas em fagulhas vindas de uma explosão. Um sorriso puro foi uma breve despedida, desde o primeiro nome escrito n...
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Tudo o que Lexa conhecia era medo e incerteza. Ela não sabia o que estava acontecendo, sua mente se sacudia como uma árvore magra na tempestade, os pensamentos eram altos demais para que ouvisse, o ar cheirava a natureza, essência de morango com madeira queimada, um pouco de fumaça e morte... Não chegava a ser carne podre, mas cabelo... Cabelo queimado. Como quando as bombas começam a cair no campo de batalha e carbonizam até a própria terra.
Lexa sentiu a cabeça doer, dedos apertaram a lateral da mesa com pavor. Ela ouvia os sussurros do passado preencherem o vazio e o sopro intenso do silêncio torturar sua consciência. Sua chama nunca havia passado um mísero segundo fora de suas funções desde que foi colocada; anos e anos mais tarde toda sua consciência deixa de existir por dias. O vibrar em sua nuca era incessante, apenas aumentava seu medo ter uma arma como aquela fincada pelos cantos do seu cérebro.
Ela teve de se lembrar quem. Procurar além do medo em sua mente para encontrar os sinais de identidade por seu próprio corpo, suas mãos tremeram, o frio sob as unhas perfurava a carne, a batida em seu próprio peito era opressora. Lexa segurou as laterais de madeira áspera e sentou, o deslizar de seu cabelo molhado contra os músculos tensos das costas nuas e o frio do próprio ar a deixavam ereta, muito mais do que o normal. A cicatriz na mão esquerda, seus dedos cobertos em hematomas, a tatuagem em seu braço direito. O que encontrou no próprio tórax a deixou apavorada, a primeira fenda no centro do peito tinha uma abertura profunda, em meia lua para a esquerda, no vale entre seus seios. Outra era menor no topo do abdômen na diagonal, mais uma pouco abaixo outra e outra, ela simplesmente não podia mais olhar, eram sete no total, sete perfurações profundas demais, com interior escuro, sem sangue, tão morto quanto a palidez da pele e uma fenda grande de saída por sobre um dos ombros.
Ela morreu. Lexa sabia que tinha falhado no torneio, mas as provas eram um pesadelo cravado na carne. A pele jamais iria se curar, as marcas do seu fracasso ficariam na memória enquanto seu coração estivesse batendo; o que era ainda mais verdadeiro do que sua mente conseguia absorver. Lexa não conseguia pensar, ela não conseguia agir, sua mente ia para todos os lugares, deletando e armazenando perguntas sobre a confusão. Sua existência – consciência, era uma verdade? Como ela estava de volta?
Alguma coisa áspera ecoou no ar, Lexa percebeu apenas um minuto inteiro depois que se tratava da sua própria respiração confusa e descompassada, seu olho esquerdo se encheu de lágrimas que nunca caíram e a alertou de algo errado com o direito, escuro nos entornos de sua visão. Em tamanho estado de perdição, ela ia de uma consciência completa em desespero para o vazio de uma história que não conhecia, sua mente falhava em guardar as poucas informações que descobria. Emoção batalhando a lógica, nenhum dos lados conseguia sequer imaginar qual tinha razão.
A mulher levantou a mão esquerda em busca de uma resposta no ambiente sem espelhos e tentou toca-lo sob a pálpebra, mas o pequeno roçar na pele foi de um desespero profundo, o indicador empurrou suavemente a pele e não havia o globo sob a carne gelada para ser encontrado. Seu olho havia sumido e com aquela nova descoberta, ela chegou a esquecer seu próprio nome. Lexa se sentiu presa, condenada e indesejada em sua própria pele.