The Foggy Thuth

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    Enquanto vidas terminam, outras começam. Ciclos se encerram no brilho intenso de uma tocha pela escuridão, que se apaga com um sopro e traz a oportunidade para outros brilharem no seu lugar. É indeterminado, incerto e simples. Tudo tem um começo e um final, a hora sempre chega.

    Clarke não se lembrava de muito, o cansaço e fraqueza acumulados tiraram bons momentos de sua consciência. Os olhos azuis enxergavam apenas parte do percurso que tão apressadamente era arrastada, em um piscar de olhos seus pés deixaram de tropeçar pelo chão úmido e o corpo foi erguido por um par de braços já conhecidos. A sombra dançante de inimigos de todos os lados, Lexa e sua conhecida firmeza a carregando entre um dos pontos mais sinuosos da vegetação. O hálito quente escapando na atmosfera, assoprando contra o corpo da loira até que o ar branco contrastasse com a nova topografia.

    A luz da lua iluminava a neve sob as botas sujas da morena apressada, galhos e folhas se perdiam abaixo da camada grossa de gelo fofo. Árvores quase não tinham folhas e o frio parecia duas vezes maior, Clarke não fazia ideia do que estava acontecendo quando foi colocada cuidadosamente atrás de uma pedra. A paisagem paradisíaca, além de um penhasco que separava o vale ao meio e dava uma direção ao Sweetwater River, dançando diante de seus olhos, a presença segura da mulher que amava desapareceu e o som do horror surgiu em ecos atrás da rocha. Disparos, gritos e dor por todos os cantos até que Lexa reaparecesse diante de seus olhos cansados, ofegante e preocupada. Derrubou o último inimigo a esquerda com um recuar perigosamente perto do penhasco e engoliu em seco quando luzes azuladas iluminaram seu rosto.

    Clarke foi levantada mais uma vez, Lexa correu como a loira nunca tinha lhe visto fazer antes. Passos afundando na neve fofa até pouco abaixo de seus joelhos, respiração escapando em vapor depois de saltar um tronco caído e continuar a corrida desesperada na borda da fenda que dividia a montanha. A vegetação aos poucos se fechava, uma tempestade de neve estalava em seus flocos. Vento congelante ardendo em seu rosto e adormecendo seus dedos, a morena não enxergava um palmo a frente do nariz, mas de algum modo conseguia se manter longe o suficiente do abismo.

    A corrida apressada não continuou por muito na tempestade, um traço de luz no céu iluminou a névoa, um sopro balançou a atmosfera e abafou os ouvidos de Lexa. Neve caiu das árvores em uma onda vinda de trás de seu corpo, seus joelhos se dobraram na falta de equilíbrio, pedras se desprenderam do penhasco e Lexa se virou para a esposa o mais rápido possível. A empurrou para trás de uma rocha oval entre duas árvores antes que Clarke fosse prensada na pedra fria por uma pressão quente vinda na direção oposta a aquele lado da floresta. Flocos de neve voando junto a gravetos e terra molhada, Lexa acabou sendo repelida no segundo impulso destrutivo, seu corpo rolou pela neve até desaparecer além do penhasco. Sua arma enroscada em uma raiz entre as pedras na borda, um corredor de mais de cinco metros em uma queda profunda até a correnteza gelada do rio metros abaixo.

    Clarke perdeu a consciência completamente, olhos fecharam no cansaço, cabeça pendeu para a direita, o som falho de sua garganta e algo muito menor do que um sussurro por sua esposa. Em sua mente, o cenário de batalhas que já havia vivido desaparecia em memórias, o som da alegria em piadas horríveis e danças na sala de estar, o deslizar das lágrimas mais sinceras no casamento de seus sonhos. A visão de Lexa, mergulhada em nervosismo no altar, a apenas alguns passos do resto de suas vidas. Era o conto perfeito, a vida que tanto tentavam lhes tirar. Olhos jamais a assistiram com tamanha devoção e amor.

    Enquanto sua vida se passava em um lindo filme diante de seus olhos, Lexa se via visitando uma parte específica de sua memória. Algo que pensava já ter esquecido. As vozes ecoando com fantasmas no fundo de sua mente, unhas se fincando em pedras quase trinta metros acima da correnteza no fundo do penhasco. A Comandante não pensava no que podia ter acontecido não fosse a protuberância daquele lado do penhasco interceptando sua queda em uma nada agradável aterrissagem, ela apenas escalava. Olhos na borda acima, lentamente mais próxima até finalmente a neve fofa na superfície estar ao alcance de seus dedos. Pés a empurrando para cima, um rastro fresco de sangue se fazendo na neve, ela desmaiou de exaustão na segurança do outro lado do abismo. Cabeça caída contra a neve, sua respiração assoprando o calor para fora de seu corpo e olhos verdes buscando a presença de sua esposa além da fenda que acabara de escalar. Mas Clarke não estava ali, tudo o que podia enxergar era a neve, caindo sobre seu braço.

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