Risky Trust

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- Eu entendo que você não tem muitas razões para confiar em mim.

- Nenhuma...

- Mal me conhece.

- Já tentaram me matar sem sequer terem me visto pessoalmente, eu ainda diria que estamos no lucro. Você e eu. – Deu de ombros.

- Se considera com sorte?

- Eu não tenho me considerado ultimamente, talvez seja mais um detalhe para anotar nesse seu caderninho.... – O som aerado da ponta de uma caneta azul soou entre as linhas do papel creme, fino sobre a prancheta de alumínio. – Por falar nisso, o que tanto você anota nisso aí?

- Pensei que já tivesse passado por esse tipo de consulta antes. – Ela levantou um pouco mais o queixo, pernas cruzadas em uma saía grafite e o leve sacudir de seu sapato de sola gasta deixando Lexa suavemente desconfortável. Seus olhos estavam mais do que focados.

- Não com alguém que realmente queria me ajudar. – Negou, facilmente escondendo o efeito daquela análise pesada.

- E como sabe que eu quero? – Arqueou um pouco mais as sobrancelhas, Lexa sorriu para a resposta. – Acabou de dizer que não confia em mim.

- Minha esposa confia.

- E para você isso é suficiente? É tudo o que precisa para se prender em uma sala, completamente sozinha com alguém prestes a entrar em sua mente?

- ....Sim. – Lexa assentiu com um suspiro cansado, não era fácil com certeza, mas ela aceitaria o esforço.

A doutora sorriu pequeno diante do poder de apenas uma mulher sobre o mais perigoso dos humanos na terra, Alexandria estava completamente entregue, a mercê do amor de alguém que jamais poderia lhe fazer mal propositalmente. Era tragicamente lindo.

- Muito bem. – A doutora assentiu e fez mais alguns traços na folha, Lexa olhou para o lado com um sorriso leve para a parede. Seu subconsciente bem treinado facilmente leria o que ela escrevia apenas pelo movimento da caneta, decidiu que não queria saber. – Vamos falar sobre o seu pai. Tudo bem? – Ela assentiu mais uma vez, um pouco mais calada. – Você o amava?

- Claro. – Respondeu, apenas.

- A conclusão da história de vocês, a tragédia e todo o resto... Mesmo depois de ter lutado para sair do manicômio... Eu imagino que tenha sido difícil. – Lexa assentiu mais uma vez, visivelmente menos feliz. – Relembrando tudo o que vocês viveram desde o começo, o que acha que ele te diria agora? Se estivesse esperando do lado de fora da porta...

- Ele me deixou uma carta para o dia do meu casamento. – A doutora ergueu as sobrancelhas, interessada na maneira como disse aquilo. – É, eu tive a mesma reação. Eu imagino que não seja muito diferente...

- E o que ele disse? – Ela percebeu que Lexa não diria se não perguntasse, suas defesas pareciam bastante apuradas quanto àquele assunto.

- Que está orgulhoso de mim, que sente saudade... – Ela tentou demonstrar não estar tão afetada quanto em seu interior e funcionou, para a doutora Lexa transmitia tantas emoções quanto uma áspera pedra de gelo. Mas ela também sabia que como qualquer outro paciente de alta complexidade, a resposta aguardava nos detalhes.

- Vocês eram muito próximos, não eram? – Lexa assentiu, a doutora prolongou o silêncio lhe dando um sinal simples com a cabeça para que continuasse se quisesse fazê-lo.

- Ele nunca desistiu de mim, provavelmente sabia de todas as minhas mentiras, mas... Nem assim. Nunca deu as costas.

Ela se imaginou no carrinho apertado e velho de uma montanha russa prestes a mergulhar pela primeira vez em seus trilhos turvos cheios de curvas. Lexa inflou os pulmões, aquela avaliação era exaustiva.

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