"Sozinho, eu sento do lado de fora
No pé da montanha
Quando a luz do dia se recolheu, um visitante veio.
Sombra era seu nome".
Wardruna – Skugge.
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Clarke assistia ao movimento cada vez mais lento da visitante tardia. Lexa ainda estava dormindo, o zunido de sua Chama era como um sussurro – quase uma canção de ninar, mas Clarke não conseguia dormir. Ela não queria. Tinha medo do que podia fazer quando não estava no controle da sua própria consciência, ela não queria relaxar mesmo que precisasse desesperadamente, apenas para abrir os olhos e descobrir que Lexa estava morta do seu lado.
O mero pensamento a fez ter vontade de correr para longe, então ela realocou sua mente para a figura minúscula na base da parede. Lentamente batendo asas, Clarke não sabia o que era que tanto lhe prendia na borboleta. Ela havia visto uma dezena delas antes de encontrarem aquele lugar, mas quando a encontrou pela primeira vez o desenho feito a lápis atrás do mapa perdeu seu interesse. Ela desenhava a Arca, no céu estrelado do espaço profundo e fazendo companhia a própria terra.
Enquanto o inseto indefeso ia se esforçando pelo chão, batendo asas para voar por meio segundo e acabar apenas centímetros mais longe no chão coberto por cacos de vidro. Clarke decidiu tentar entender o que tanto a atraia. Talvez fosse a cor em suas belas asas, um marrom amadeirado como as árvores se sacudindo do lado de fora do galpão, com duas formas meio circulares de um amarelo forte. Dois olhos, Clarke reparou, mas ainda não era isso o que a prendia naquela criatura.
A borboleta pendeu e caiu de lado, bateu as asas uma porção de vezes e acabou se segurando na base da parede, pernas fracas tentando subir o metal gelado coberto por ferrugem em suas ranhuras para alcançar a janela de vidros quebrados. Como que ansiosa para escapar da sua prisão, ela bateu asas e caiu no chão gelado. O que para ela deveria ser um pesadelo, para Clarke não tinha som, não tinha importância. Era pequeno e quase insignificante.
Mas a borboleta ao menos era capaz de saber esse tipo de coisa? Medo, em si, era uma reação química em muitos dos animais e insetos na natureza – um modo de escapar dos predadores. Mas ali, não havia nada que a ameaçasse além do próprio destino. O vento. A borboleta sabia que corria risco? Como um rato que sacrifica a própria perna para sobreviver de uma ratoeira, ela saberia dizer quando tudo estava acabado? Quando era tempo de correr, quando era tempo de desistir?
E Clarke, ela saberia dizer?
A Rainha saiu daquela linha de pensamento no mesmo segundo, tentou se concentrar na primeira pergunta que rondava sua cabeça. Negando qualquer outra possível resposta em sua mente. Negando a ratoeira que aprisiona o rato. O chão gelado que sempre atrai a borboleta.
Não podia ser sua graça. Persistente através do esforço, como que a única coisa intocável mesmo depois que os insetos rasteiros a alcançassem para carregar seu corpo ao banquete de uma colônia inteira. Clarke apertou os joelhos, torcendo para que a borboleta conseguisse voar para longe por sua própria suficiência. Por seu mérito, e seu apenas.
Mas não, a borboleta bateu asas e pendeu pelo ar uma última vez, depois foi de encontro ao chão com um único sopro da brisa e parou na base da parede. De volta onde havia começado. Agora, batendo as asas suavemente, como que desistindo de voar e apenas dizendo adeus a sensação da liberdade que ela não mais disfrutaria. Ciente da sua própria ratoeira. Sua cela.
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FINITUS
FanficTudo levou àquilo. As perdas, as derrotas, amarguras e feridas. Manhãs calmas se tornaram em caos no campo de batalha, o brilho das estrelas em fagulhas vindas de uma explosão. Um sorriso puro foi uma breve despedida, desde o primeiro nome escrito n...