FINITUS

Purgatory

Purgatory. Uma cidade minúscula que transborda segredos por cada pedaço de terra, durante a noite seus clubes e bares são tão animados quanto a própria cidade de Nova York, durante o dia cidadãos de bem dividem lugar com todo tipo de recompensa ambulante nos quadros da polícia. Longos campos ao seu redor, montanhas, florestas, propriedades que ocupam metade de toda a cidade seguindo a estrada principal ao norte. Lar das irmãs Earp, oficial Nicole Haught e Doc Holliday, o cowboy pistoleiro fora do seu tempo. Da prisão ao infame Pussy Willows além das fronteiras, do colégio local ao Shorty's, em qualquer canto que se olhasse havia algo a fazer.

Eu sou uma garota de Nashville, cidade grande, transito das nove as seis e o barulho infernal da vida moderna, nunca pensei que me acomodaria tanto em um lugar que não fosse minha casa. Nunca pensei que haveria tanta alegria em olhar pela janela de um quarto de hóspedes para encontrar um cercado e um celeiro, sentir o cheiro de café e pão caseiro no andar de baixo, muito menos as risadas com apostas em tiro ao alvo ao lado do quilômetro vinte e sete bebendo uma garrafa de cerveja e fumando alguns cigarros. Até a delegacia tinha sua diversão, o Xerife Nedley era um caso a ser estudado com suas lendas, Nicole reclamando das suas pizzas sem glúten e picles nos seus sanduiches durante as pausas do expediente, Jeremy e Waverly aparecendo com uma descoberta diferente a cada dia no laboratório no fim do corredor, ou as disputas com Wynonna no seu ritmo insano de bebedeira nas sextas a noite. Depois de tudo o que passei, o dia mais acelerado que a cidade pudesse me empurrar era calmo, um dia de férias para o restante do mundo. O sub esquadrão de Purgatory era hospitaleiro como o povo do campo costuma ser e agitado como os moradores de cidade grande, me senti muito bem-vinda.

Mas as coisas em casa não iam muito bem, a situação que se estendeu foi quase insuportável, trabalho, trabalho e mais trabalho, cercas na fronteira para revistar, checagem de aviões, helicópteros, visitas ao hospital a cada semana para os exames de rotina e todo o resto. Minhas escapadas a noite eram no mínimo preocupantes, ainda me lembro da grande reunião em grupo que me forçaram a participar, um jantar fechado organizado por Clarke para uma intervenção que eu não teria escolha que não aceitar. Eu não vinha mantendo meu estado deplorável em tanto segredo e a escolha que eles fizeram foi basicamente me expulsar de casa. Não que eu não tenha gostado da ideia, mas fui pega um tanto desprevenida quando vi minhas próprias malas esperando em frente a porta. Eu não fui a única a partir, provavelmente se sentiram mal por terem me chutado para fora de Polis, mas verdade seja dita todo mundo precisava de um tempo daqueles longos três meses. E assim o esquadrão se espalhou por todos os cantos do mundo, aumentando nosso território exponencialmente, se dividindo pelos traumas e fantasmas que resumiam a guerra.

Aí que está o problema. Isso foi a um ano e meio atrás e eu não podia simplesmente suportar a ideia de voltar, passei pela Índia como quem não tem problema nenhum no mundo, retomei o que perdemos na África sem me lembrar de uma mísera gota de sangue derramado, não estava bêbada, estava furiosa. E China. A ilha foi livre com a ajuda de uma frota, uma esquadra de jatos e mais homens do que podiam colocar dentro das mansões, Lucado e Moody não estavam mais em qualquer lugar que fosse, os resgatados foram enviados dentro de um dos navios, todo o pedaço de terra foi bombardeado até não sobrar uma única palmeira de pé e eu desapareci quando um dos marinheiros me alertou que Abby e os outros estavam planejando fazer uma visita ao meu escritório depois da checagem do médico. Fiz minhas malas, embarquei em um dos aviões e sai de alcancei. Fiquei sabendo que chegaram em segurança na capital quando já estava em campo, lutando com o quadrante dezessete do trigésimo nono pelotão para chutar a bunda dos alemães para fora da costa da França, eu me lembro da batalha, nós vencemos, mas não me lembro de nada que aconteceu depois.

Bellamy, quem veio comigo desde o começo, foi meu informante sobre como as coisas iam na cidade. Eu evitada sequer tocar no meu celular antes ou depois de batalha e como isso era exatamente tudo o que eu ia fazendo por todos os cantos do mundo acabou que eu o evitava mais do que as suas estupidas checagens pela manhã. Fiquei sabendo que Abby foi ignorada por dois meses por Raven, Marcus custou a lhe acolher dentro de casa, mas agora ela se esforça para compensar o tempo perdido com os dois. Monty visita a lápide vazia do Jasper no cemitério da família como eu costumava fazer com a minha mãe, Miller chorou por longos dias quando descobriu que Jackson morreu e embarcou na primeira companhia para o campo de batalha em Washington, recebemos um memorando dizendo que o seu esquadrão foi praticamente apago das tropas, ele voltou para a capital em péssimo estado emocional e se nega a receber ajuda, Harper mantém os dois sob seus cuidados e ajuda a treinar os novatos no centro de comando quando pode. Perry Croft se fez útil como pode em todos as áreas no início da sua estadia, mas veio conosco quando ficou sabendo que eu partiria. Não fez tantas paradas, alcançou Purgatory muito antes que Bellamy e eu, um ano e meio no futuro junto com o restante do grupo como o Blake gostava de dizer. Ele ajuda na organização da segurança na cidade, mantém a mente ocupada todo o tempo com suas investigações, para vê-lo teríamos que visitar seu escritório. Wynonna chama de inspeção de rotina e vai entrando como um carcereiro visitando as celas todas ás vezes, eu acho graça, é bom não ser comigo pelo menos uma vez.