A areia escura e rochosa era úmida pelo ar da estranha praia, em frente a baia de onde ondas grandes se sacudiam e banhavam o próprio mar em espuma branca, pedras rolavam sutilmente pela grama seca das pequenas curvas de um campo gigantesco tomado em vegetação seca e pedras escuras, ao longe, montanhas de topo branco, acima, um céu acinzentado nas últimas horas do dia. O sal embotava o paladar, os cascos do cavalo de couro preto e brilhante cavavam o solo arenoso e fofo, o sopro do vendo sacudia os cabelos e ardia em seus olhos, carregando a neve para baixo. Lexa estava vestida como um monarca de séculos atrás, calça de couro, botas de cavalaria, uma camiseta de algodão abaixo de um colete e sobretudo, capuz volumoso ao redor do pescoço enquanto trotava pela baia, as ondas menores banhando a areia, seus olhos verdes observando ao redor, procurando. Ela não estava na City Of Light, mas também não era o mundo real.
As horas passaram com pressa do lado de dentro daquele estranho mundo abandonado, do lado de fora nem mesmo trinta minutos enquanto seu corpo era apressadamente colocado em uma das macas na tenda branca, sua mão direita caída para fora da superfície de tecido, Madi estava bem ao seu lado, rosto virado para a esquerda com olhos fechados. Lexa continuou cavalgando, passou por longas planícies cobertas de neve, sem civilização, sem animais, os flocos de neve que caiam do céu seguiam o sopro da brisa e ela os acompanhava na mesma direção, uma linha reta, da qual se sentia necessitada a seguir. A imensidão branca foi sendo quebrada pelo ponto negro e sombrio na sua jornada até que ela alcançasse a borda, um grande penhasco interrompido por uma ponte de tábuas de madeira velha e cordas para o outro lado do abismo. Seguiu em frente, montada no cavalo, cascos pesados estalando acima do breu, não olhou para baixo, seu foco era inteiro a luz alaranjada atrás da colina.
O vento soprou forte em seu rosto quando alcançou o outro lado, ela parou puxando as rédeas do cavalo, além de mais uma longa planície escura coberta em cinzas encontrou as ruínas de uma grande cidade. Avenidas partidas, casas aos pedaços, prédios e torres que cediam ao chão e levantavam poeira, escorou o cavalo e trotou para a pequena estrada de terra suja em direção ao campo infértil e morto, seus olhos não podiam mais abandonar a destruição, prédios ainda caiam, o som era pesado demais para o silêncio que lhe acompanhou por toda a jornada. A grama deu lugar a asfalto, cascos estalando na solidão de um mundo quebrado, cedendo ao seu redor enquanto ela observava, alcançou o início de uma breve escadaria, parou o cavalo, desceu e deslizou as mãos por seus pelos macios, o animal olhou fundo em seus olhos e de repente, desapareceu. Lexa se sentiu abandonada e sozinha, observou os arredores, encarou o chão tomado em folhas, raízes e rachaduras, levantou a cabeça e subiu os degraus, parando completamente quando alcançou o topo.
Uma grande estátua, um monumento de tamanho colossal estava caída à sua frente, os olhos acinzentados eram vazios, a seriedade quebrada por uma pequena rachadura na lateral de sua boca, um estranho, pequeno e dolorido sorriso. Ela olhou um pouco mais e se aproximou, parando em frente ao seu rosto, a calma de seu próprio coração era triste e entregue, o sopro gelado do vento que seguiu trouxe a neve a atmosfera destruída e o chão tremeu uma única vez. Lexa fechou os olhos e engoliu sua amargura, o segundo tremor, o terceiro, era seu próprio coração ali em frente, sacudindo o mundo e trazendo a destruição as estruturas que não podiam se aguentar sozinhas. Ela olhou ao redor, ouvindo a queda de mais um prédio ao longe, umedeceu os lábios relembrando sua cobertura no ponto mais alto de Nashville em um mundo diferente.
- Framework. - Ela constatou, seu sobretudo sacudindo ao vento, os flocos de neve pousando sobre o corpo da grande estátua. - E aqui... Não é?
- Sim. - Madi respondeu atrás de suas costas, Lexa não olhou diretamente, uma estranha forma branca demais para que encarasse no canto da visão. - Me deixaram presa nesse lugar por muito tempo. - Ela nem mesmo sabia o quanto, não podia contar os dias quando o sol não se punha e a noite não chegava, Lexa apenas podia contar os minutos por não ser sugada àquela realidade completamente. Sua chama não se deixava levar, as defesas estavam ativadas, o universo em que pisava não lhe permitia se sentir acolhida, e sim desconfortável e indesejada.
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FINITUS
Fiksi PenggemarTudo levou àquilo. As perdas, as derrotas, amarguras e feridas. Manhãs calmas se tornaram em caos no campo de batalha, o brilho das estrelas em fagulhas vindas de uma explosão. Um sorriso puro foi uma breve despedida, desde o primeiro nome escrito n...