Always

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Não havia música como costumávamos ouvir, naquele pedaço do primeiro andar da torre agora só existia a ausência do frio matinal no esforço da batalha, os eventuais estalos de impacto nos golpes espalmados e sopro. Eu via o rosto de Bellamy logo à frente do meu, concentrado, suado, sem sua camiseta, cabelos bagunçados no dançar da guarda alta, punhos serrados procurando uma entrada para atingir quando as últimas três tentativas não resultaram em muita coisa. Nós costumávamos treinar todos os dias da semana pela manhã durante a viagem, mas ultimamente não havia aquela urgência severa no treinamento quando estávamos em terreno pacífico e assegurado. Eu tinha certeza que havia conhecido muito mais dele dentro do círculo de batalha do que em qualquer outra ocasião, ele vinha aprendendo a se controlar, nós dois compartilhávamos um sério problema com raiva extrema, mas desde a primeira vez que treinamos juntos eu o vi evoluir. E ainda assim, na ausência da válvula de escape, nós acumulávamos a raiva não descarregada. A única diferença é que eu vinha aprendendo a controlar, ele pareceu regredir de alguma maneira, pensando e repensando, agindo com o que dizia seu coração e não a cabeça. Estava sobrecarregado, fingindo que tinha tudo sob controle.

Ele atacou primeiro, empurrei seu punho para o lado e ele defendeu da mesma maneira com sua dança saltante de pugilista. Tentou dois golpes, esquerda e direita, eu desviei de ambos e acertei um soco em seu estômago, defendeu meu próximo golpe e me acertou na costela, segurei seu braço acertei um soco em seu peito, ele arqueou para frente e levou um chute que o empurrou para o chão metros atrás. Caiu rolando, deu um golpe poderoso no chão gritando contra o quadrado de tecido grosso e macio.

- Controle a sua raiva. – Falei antes de avançar.

Ele desviou de meu golpe, acertou uma joelhada em meu estômago que tirou meu ar. Recuei com uma mão na região dolorida e o olhei em um alerta, mas ele ignorou, saltou do chão com punho fechado e acertou meu maxilar com força o suficiente para me mandar cambaleando até a borda do ringue. Passei minha mão na pele procurando por um corte, mas havia apenas suor. O encarei correndo na minha direção com um grunhido raivoso, ele tentou um cruzado apressado de guarda completamente aberta e eu dei um passo abaixo da abertura do seu braço, esperei que tentasse me acertar outra vez, agarrei seu pulso e lhe puxei por cima do meu ombro. Ele foi rolando, bateu as costas com força suficiente no chão para lhe deixar confuso, segurei seu braço torcido entre minhas pernas e ergui a mão direita a frente do seu rosto.

Bellamy ficou parado, ofegante apenas esperando o golpe com rosto virado para a lateral. Soltei seu braço com um leve empurrão, abri o punho fechado para lhe oferecer ajuda e ele olhou fundo em meus olhos, aceitando o aperto com um suspiro cansado.

- Agressivo demais. – Alertei ao puxa-lo para cima. – Qualquer dia desses vai me pegar de muito mal humor e o resultado não vai ser bonito.

- É uma luta. – Ele relembrou movendo o ombro dolorido, caminhei para a ponta oposta do ringue, tomei alguns goles de água da garrafa. Coloquei a embalagem plástica do lado de fora dos cordões. – Não tem como não ser agressivo.

- Isso é só um treinamento.

- É um treinamento para valer, não tem crianças aqui. – Ele bufou, suor escorrendo de seu cabelo para a testa.

- Não. – Apontei para o seu rosto rapidamente quando ele fechou os punhos e avançou. – Eu não vou começar outra luta com você procurando alguma coisa para socar desse jeito.o

Bellamy bufou e virou mais uma vez, passando entre os cordões para caminhar em direção ao saco de pancadas alguns metros a direita do ringue. Eu me apoiei sobre as divisões vermelhas, pendurei os punhos para o lado de fora, meu cabelo grudando nas costas em suor, o tope esportivo estava tão ensopado quanto se tivesse acabado de dar um mergulho.

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