Clarke odiava se lembrar de tudo em momentos tão simples, sentada na borda do rio, caminhando de volta para o acampamento e assistindo a fogueira enquanto aquecia as mãos. Tudo ao seu redor a lembrava da filha, e os olhares que recebeu a faziam lembrar o porquê do julgamento silencioso, quase uma bola de neve sem fim esfregando em seu rosto o que perdeu do lado de dentro, Aden a fez lembrar o que perdia do lado de fora com um único olhar. Esperando pelos pedaços de carne.
Alguns do restante do grupo haviam voltado da caça a pelo menos quinze minutos quando ela tomou a coragem que precisava para se afastar, pequenos esquilos, rãs e animais menores foram levados para tratamento por Indra e Shapiro. Clarke observou o fogo por mais alguns segundos, assistindo os membros do esquadrão caminharem por todos os lados ao seu redor, percebeu que Eldim não estava ali. Quem não deveria ter abandonado o campo para começo de conversa, recebeu uma ordem.
Algo trouxe uma sensação estranha em seu interior, ela observou os rostos ainda desconcertados com o que ouviram a pouco, friamente analisando o ambiente ao redor. As carnes estavam temperadas, havia lenha o suficiente na fogueira, Murphy não acordaria tão cedo. Eldim não sairia dali não fosse uma ordem Lexa, ter alguém observando seu banho não era exatamente agradável para alguém introvertido quanto ela.
Ela resolveu buscar seu celular no bolso da calça, primeiramente assistiu o controle de clima e as nuvens densas que logo chegariam naquele precário acampamento. Aproveitou a distração dos olhares ao seu redor quando um estalo de lenha na fogueira levantou fantasmas vermelhos ao ar. Encontrou o rastreador de Lexa parado na margem do rio, Jane logo ao seu lado antes que ambas levantassem e caminhassem para a direita. Seguindo a margem para ainda mais longe do acampamento. Clarke levantou os olhos, sequer havia notado que Jane não estava ali, a pouco tempo ela estava logo do outro lado da fogueira. Se voltou para o aparelho mais uma vez, confusa.
Anya tinha olhos perfurantes em suas costas, Clarke podia ser muito transparente para aqueles que soubessem ler os sinais. A morena cruzou os braços no círculo de conversa com Raven e Marcus, abaixou a cabeça para os coturnos tentando se livrar de um pedaço de grama em seus cadarços quase no mesmo segundo que a loira levantou a cabeça. Sentindo que alguém lhe observava. Não gostava de pensar que Clarke tinha largado sua irmã mais nova para cuidar de uma tarefa dolorosa, depois da briga que causou para fazê-la confessar um segredo se sentia no mínimo em dívida. Envergonhada.
Clarke se colocou de pé, checou o acampamento mais uma vez por observadores e seguiu em direção ao lago, viu as manchas de sangue vermelho em uma das pedras e as vísceras de um cervo escondidas sob uma pedra bastante grande. Continuou com calma, abaixou a cabeça para rastrear a esposa e parou. Não havia mais os pontos no radar, bufou em descrença e enfiou o aparelho no bolso, foi fácil de encontrar o caminho, os rastros de sangue vermelho lhe guiaram pela floresta um pouco densa, pela planície de pinheiros cortada por uma fenda de rochas grandes aglomeradas e úmidas, quanto mais seguisse em frente, mais escuras e mais lisas até finalmente serem banhadas pela água gelada do lago.
Clarke deu uma olhada ao redor, percebeu a lateral circular de terra e pedras, areia escura, a água mais limpa que imaginava refletia a paisagem quase desenhada no seu suave ondular. As montanhas que subiriam em breve estavam cobertas de neve, pareciam rochosas e perigosas demais para uma trilha, mas talvez a aldeia não fosse tão alto quanto tivesse imaginado. Ao menos esperava que sim, ou subir seria uma péssima ideia, mas que escolha eles tinham?
Buscou o celular, sacudiu a cabeça por não encontrar nada e resolveu seguir em frente. Três vozes vieram ao longe e ela se encolheu com pressa para longe de vista, não havia pontos no radar, não podia reconhecer as vozes, estavam distantes demais. Esperou com apreensão e logo o timbre de Jane foi reconhecido, a sensação veio mais uma vez e Clarke continuou escondida na areia escura, o próximo a aparecer foi Eldim e sua esposa veio em seguida. O Viking olhou para as laterais e Wanheda recuou para trás do barranco na lateral do corredor de pedras, bufou por ter trocado a visão do que faziam por uma porção de raízes no meio da terra úmida.
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FINITUS
FanfictionTudo levou àquilo. As perdas, as derrotas, amarguras e feridas. Manhãs calmas se tornaram em caos no campo de batalha, o brilho das estrelas em fagulhas vindas de uma explosão. Um sorriso puro foi uma breve despedida, desde o primeiro nome escrito n...