Clarke se apoiou nos punhos, desceu os olhos para o abdômen e se empurrou para cima lentamente. Braços trêmulos, a lateral do rosto gelado pela neve e correntes se sacudindo quando cambaleou em meio aos galhos secos. As duas jovens apenas observando a loira calada continuar seu caminho em uma linha desengonçada adiante, sem dizer uma palavra. Parecendo enxergar muito além do que apenas aquele momento, e de fato ela estava. Assim como a outra metade daquele quebra-cabeça, de olhos abertos e frios para a parede a sua frente. Punhos acorrentados acima de seu tronco, suor escapando de seus poros e dedos firmes contra as palmas das mãos.
Lexa acordou daquela mesma maneira, o corpo dolorido foi rapidamente endireitado no desconforto e a presença poderosa da Comandante tomou a atmosfera daquele retângulo de paredes cinzas em concreto velho. Quatro janelas estreitas pouco acima do teto atrás de suas costas tinham parte de suas grades invadidas por vegetação seca e amarelada, neve mantendo as tiras de metal úmido e enferrujado enquanto seus coturnos mantinham o peso do corpo firme ao chão. O mesmo silêncio de duas horas atrás, e mais um longo período antes disso, sequer grunhia sob a tortura dos homens mascados que entravam no recinto de tempos em tempos. Os mais diferenciados instrumentos de tortura prontos para serem testados.
Ela não estava sozinha, Melinda May estava logo a sua esquerda e Grant Ward a direita. Os três presos no silêncio profundo, mas apenas dois questionando a sanidade de um titã acorrentado logo ao seu lado. Pronto para se soltar e deixar uma inacabável trilha de corpos atrás de seus passos.
- Eu não acreditei quando disseram. - Ward comentou, um rastro de sangue escorrendo na lateral do lábio. Olhos para a Comandante e um movimento um tanto debochado de cabeça em sua dor. - Heda dos Grounders, Alexandria a Comandante de Mount Wheather... Sabia que tinha algo de errado com você, mas... Preciso confessar que estou surpreso.
- O que te afeta mais? - May se fez presente em um murmúrio azedo. - A surra que levou ou o fato de não saber de tudo?
- Você realmente me odeia, não é? - Ele bufou.
- É tão óbvio assim? - A mulher rebateu em um sacudir de cabeça.
O homem deu de ombros, se voltou para a Comandante mais uma vez e lhe analisou mais um segundo. Postura ereta, olhos à espreita de qualquer fraqueza naquela estrutura e músculos rígidos como rocha. Tudo aquilo se parecia com uma piada.
- Você ao menos sente dor? - Ele murmurou em descrença.
Pela primeira vez na última hora, um movimento se fez presente no corpo da morena. Sutil, quase imperceptível. Dentes se prensaram e uma pequena protuberância surgiu na lateral de seu maxilar, dedos se apertando nas correntes e olhos buscando a porta sem pressa alguma. Ward estreitou os olhos em seu estudo, May respirou fundo e ambos encararam a passagem quando o torturador surgiu para mais uma de suas sessões. Um alicate corta vergalhões na mão direita, um martelo na esquerda. Fechou a passagem atrás de seu corpo, ouviu a tranca pesada se arrastar e buscou a frente de Ward.
- Quem são vocês? - O homem resmungou em sua impaciência. - Pensei que fosse- Seu rosto foi jogado para a esquerda, sangue foi cuspido ao chão e a hematoma circular da cabeça de um martelo se fez ouvir em seu maxilar.
Ward perdeu a consciência, joelhos se dobraram, punhos receberam o peso do corpo e correntes se sacudiram. May sequer tremeu quando o homem seguiu para sua direção, a olhou fundo nos olhos e esperou por suas palavras, sem receber uma única palavra por longos segundos de análise. Lexa foi a próxima a ser encarada, o homem sabia que não devia se aproximar demais então deu um passo atrás. Assistiu a morena fundo nos olhos e não quebrou contato visual.
- Charlotte. - O homem finalmente se fez ouvir, May assistiu ao aperto de seus dedos ao martelo e a aspereza em sua garganta. Lexa ainda firme como pedra. - Esse nome te diz alguma coisa?

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FINITUS
أدب الهواةTudo levou àquilo. As perdas, as derrotas, amarguras e feridas. Manhãs calmas se tornaram em caos no campo de batalha, o brilho das estrelas em fagulhas vindas de uma explosão. Um sorriso puro foi uma breve despedida, desde o primeiro nome escrito n...