Haiplana Kom Haiplana

110 11 7
                                    


Eu não fazia ideia de que merda estava acontecendo...

Em um segundo eu estou com Clarke, na nossa mansão, amassadas sobre o tapete da sala de estar completamente nuas e quase dormindo, eu fecho os olhos e pronto. O mundo muda, por isso eu tenho quase certeza de que é um sonho criado por nós duas como sempre costuma ser quando alguma coisa muito fora da realidade os encontra na inconsciência, mas... Se eu estou realmente certa, meu Deus, nossa imaginação estava aflorada.

A última coisa que eu vi foi o sorriso preguiçoso de Clarke sobre meu peito, cochichando que me amava, a sensação do calor e exaustão nos envolvendo enquanto finalmente conseguíamos dormir. Eu mantive minha promessa, a chuva fraca caia do lado de fora da janela no começo de um dia nublado, eu estava tão cansada que podia ter apagado quase tão rápido quanto um computador arrancado da tomada. Não era a City Of Light, eu podia perceber algo menos realista, mesmo que tivesse riqueza em seus detalhes, conseguia dizer a diferença, com certeza não era o Framework, então deveria ser apenas uma simulação temporária, algo que Clarke devia ter imaginado em seu sonho a qual minha mente estava suscetível em aceitar. Tudo o que vinha dela eu era mais do que suscetível, para ser honesta.

Eu sentia como se estivesse parcialmente dormente até aquele segundo da minha vida do lado de dentro, meus olhos focados na única janela daquele cubículo de detenção juvenil, ou Caixa, como os outros costumam chamar... Ou ao menos minha mente imaginou que chamavam para que não me perdesse entre erros de codificação e pudesse me concentrar na tarefa original, que eu também não sabia qual era e estava mais do que óbvio que seria inútil tentar entender com tão poucas informações ao meu redor.

Estrelas e luminosidade poderosa batendo contra o vidro grosso, e a imensidão do espaço zunindo junto do maquinário pesado nas paredes, o oxigênio era puro demais, limpo demais se não intoxicado por químicos de tratamento na reutilização, e minhas roupas passavam longe de ser as que eu usava em polis. Uma camiseta de lã verde escura desbotada com alguns furos em sua barra, calça jeans, tênis cano alto, pelo menos ainda tinha minha tatuagem e ainda reconhecia meu próprio rosto no espelho velho sobre a pia. Era estranho, minha mente dizia que todos os dias eu fazia a mesma coisa, me exercitava, batia na porta para pedir o meu banho diário não muito antes do café quando obviamente deveria existir algum racionamento, era empurrada para o lado de dentro da cela em seguida para comer o que haviam colocado na minha bandeja -que eu duvidava ter a aparência, consistência e cheiro de qualquer coisa em qualquer realidade que podia ser chamada de comida-, escovava os dentes e me deitava no chão como os guardas me falavam para fazer sempre que chegavam perto demais para checar minhas coisas em busca de alguma arma caseira e levar a bandeja. Quando eles tivessem saído, eu viraria de costas e colocaria meus tênis na parede, olhando para a imensidão da janelinha no teto.

Espaço profundo e sem fim até a margem de onde a humanidade podia apenas imaginar. Pacifico, calmo e ao mesmo tempo assustador, do lado de fora daquela janela não havia nada e a única coisa me mantendo longe de uma morte excruciante era feita de vidro. Madi estaria louca se estivesse aqui, dependendo do que esse sonho se tratasse eu poderia até mostrar para ela, era tão real... Minha memória mentindo para mim, me fazendo lembrar da caminhada espacial de alguma garota trabalhando na manutenção do casco com um cordão longo batendo no vidro.

Não fazia ideia de onde Clarke havia se metido, até onde podia entender de toda aquela encenação, nós nunca sequer nos conhecemos aqui, eu ficaria preocupada se não pudesse sentir sua presença em algum lugar além da parede grossa a minha esquerda, ouvindo o arranhar contra a superfície de metal, provavelmente desenhando para passar o tempo. Nós estávamos separadas, mas ao mesmo tempo juntas, nossa conexão mantinha nossas mentes ancoradas na realidade, da mesma maneira que eu sabia que aquilo não era real, ela também deveria saber.

FINITUSOnde histórias criam vida. Descubra agora