Turret

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    O suave trepidar da fogueira se estendeu na melodia das árvores, insetos por todos os lados, folhas rolando em meio a neve e o estalar da lenha em meio as chamas e brasa. O balançar dos galhos mais altos, olhos cansados para o céu e o brilho da lua iluminando o que o tom alaranjado não alcançava. Clarke adormecida sobre o chão a sua esquerda, usando seu braço como a mais confortável das almofadas, o casaco de pelo aberto sobre ambos os corpos em um curto e improvisado cobertor. Lexa apoiava a própria cabeça sobre o punho direito e assistia a imensidão com um quieto respirar.

    - Você não dorme? – Toni cochichou calmamente, surpresa em encontrar aqueles olhos tão alertas àquela hora da noite. Corpo desconfortavelmente sentado contra a árvore, Cheryl abraçada a sua cintura e o peso da pistola amassando as folhas secas a sua esquerda.

    - Não estou cansada. – Ela negou com simplicidade.

    - Você parece bastante cansada para mim. – Toni respondeu e Lexa não disse nada. – Não é esse tipo de cansaço, é? – Respirou fundo, olhos se perdendo na hipnótica dança das chamas. – É muito pior, uma coisa que vem de dentro.

    - Não vamos ter uma sessão de terapia agora, Topaz. – Lexa negou e a mais nova riu baixinho no silêncio. – Eu disse que podia tomar conta da vigia, não precisamos de duas pessoas acordadas.

    - Do que precisamos é que todos tenham pelo menos duas horas de sono. – Ela respondeu com um sorriso amigável e a Comandante soltou um ruído baixo que se perdeu na descrença e princípio de alegria. Olhos ainda focados nas estrelas. – O que tanto procura lá em cima?

    - O que?

    - Passa horas encarando o mesmo pedaço do céu, estava fazendo o mesmo antes que Wanheda te tirasse da beira do penhasco. – Ela relembrou, Lexa engoliu em seco. – O que tanto te chama a atenção?

    Um longo suspiro, Clarke se remexeu em um breve desconforto e parou apenas depois de um beijo no topo de sua cabeça. Assistiu sua esposa se aproximar o máximo possível em uma resposta ao frio e acariciou seus cabelos sem pressa, sorrindo de maneira nostálgica ao assistir as estrelas mais uma vez. Topaz não recebeu a resposta que queria, e algo em seu interior lhe dizia que era melhor daquela maneira. O olhar de quem enxerga detalhes muito além de sua compreensão era o mesmo que tinha para o mundo através de sua câmera a longos anos atrás. A tristeza de alguém que enxerga a beleza e pureza até na mais obscura paisagem por saber que algo muito pior existe no mundo, algo escondido em sua própria existência.

    - Nunca teríamos conseguido não fosse a sua ajuda. – Ela comentou baixo. – F.P. te venera desde o dia que saiu do bar.

    - Eu não fiz nada demais.

    - Nada demais? – A mais nova repetiu, incrédula. – Você salvou as nossas vidas.

    - Vá dormir, Topaz. – Lexa advertiu com um pequeno sorriso no canto da boca. Toni entendendo o recado com uma risada baixa.

    - Não estou com sono. – Negou. – Durma você... Precisa dar um descanso aos seus ferimentos.

    Lexa finalmente se moveu para buscar uma rápida olhadela na garota, sacudiu a cabeça quando um sorriso pequeno e amigável parecia brilhar tanto quanto a fogueira. Se remexeu no chão outra vez e buscou os mesmos pontos brancos no céu, contando cada uma das várias constelações em uma tentativa de desligar sua mente, mas de nada adiantou. As imagens continuavam frescas, o gosto ferroso ainda surgia das laterais de sua boca, vozes e chamados por todos os lados da floresta. Alguns vinham do próprio chão, se fechasse os olhos podia sentir o sangue escorrer na pele e o aperto de dezenas de dedos por seus punhos e pernas, puxando-a para baixo.

FINITUSOnde histórias criam vida. Descubra agora