Beautiful Nightmare

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    Ela não tinha medo da morte, não buscava mais do que um consolo no fim de sua vida, quando tudo acabasse e sua sentença fosse finalmente creditada aos longos anos de dor e sofrimento, antes, quando somente o que enxergava no mundo era uma inesgotável capacidade de crescimento, seus olhos observariam os arredores com curiosidade e audácia. Uma mistura perfeita e perigosa, o mantra dos ambiciosos e visionários. A fonte de todo o crescimento, vontade. Tudo o que faltava agora, tudo o que era preciso.

    O vidro diante de seu rosto, rabiscado na escuridão, havia ganhado seu ofuscante raio de luz, vindo do chão abaixo da cela em um tom creme aquecido. O cheiro ferroso, o gosto de carne, quatro membros atirados aos cantos e Lorelei, na poça de sua própria morte. Olhos foscos para o rosto de sua assassina, boca aberta desde seu último grito de lábios arrancados e dentes escancarados, completamente imóvel. Lexa lhe puxou pelos cabelos, a colocou recostada na parede de vidro como um estranho boneco e buscou se sentar na ponta oposta. Pernas cruzadas de maneira infantil, mãos repousando nos joelhos e postura tão reta quanto o apoio gelado atrás das costas. Observando o cadáver encara-la com expressão vazia.

    - Ele te contou como? - Questionou, curiosamente. Sorriso amigável manchado em canibalismo, se inclinou para frente. - Sabe, como me torturou? O plano?

    Esperou alguns segundos, a pressão do silêncio respondendo à pergunta. Lexa sorrindo grande e assentindo ao se ajeitar no chão.

    - É claro que contou, por que esse sacrifício se não soubesse? Não faz sentido, faz? - Riu e encarou as paredes ensanguentadas. - É óbvio... Óbvio.

    Seus dedos se esticaram para alcançar a tira de tecido rasgado e manchado na espeça mistura vermelha, pernas se esticaram, pés pisaram no sangue e o punho direito girou o pedaço de camiseta enquanto caminhava para frente. As gotas se espalhando em um chicote vermelho, manchando o vidro em respingos finos. A morena encarando os traços e sacudindo a cabeça, encharcando o tecido para gira-lo mais uma vez.

    - É muito difícil, às vezes. As pessoas vêm uma coisa como essa e ficam assustadas, apontando para todos os lados, gritando em medo. Ninguém nunca entende que morrer faz parte de todo o processo, ninguém é imortal ainda, então... De que adianta? - Ela deu de ombros, pendendo a cabeça para a direita e se aproximando da parede com uma nova ideia em mente. - É loucura, com certeza. Eu sei que sou louca, completamente... Louca-louca. - Sacudiu a cabeça com um sorriso, uma risada baixa assoprando em sua nuca. Dedos deslizando pelo vidro cuidadosamente. - E eu não estou reclamado, gosto disso. Gosto que tenham medo de mim, é excitante. O poder... Gloria... - Deu um passo atrás, observou parte de sua obra e umedeceu os dedos em sangue mais uma vez. Jogou o tecido encharcado sobre o ombro esquerdo. - Mas se eles se esforçassem um pouco mais, talvez conseguissem ver o que eu quero dizer... Tenho que impressionar todo mundo, o tempo todo. É irritante... Eu só quero aproveitar um pouco. Fazer o que eu tenho vontade pelo menos uma vez na minha vida.

    Seu rosto se voltou para o corpo paralisado, dedos deixaram de colorir o cristal escuro e um sorriso assoprado surgiu nos lábios.

    - É, eu sei. Ouvindo assim parece que eu nunca me divirto... Mas não, eu já tive muita alegria na minha vida. - Concordou. - Sou uma piadista por natureza, já causei muitas risadas por aí. Igual a sua. - Assentiu com uma risada longa, concordou em euforia e se voltou para o vidro mais uma vez. - Mesmo assim, eu tenho que tomar um tempo para mim mesma. Por isso eu gosto desse lugar, é uma bela cela. Uma das melhores de todas as bases, só um problema ou outro no sistema de voz, mas eu concerto isso depois. Quem sabe não peço para Monty? Ele com certeza vai pedir ajuda da Ray e vai ser como nos velhos tempos... - Assentiu em animação, indicador formando um terceiro círculo vermelho. - Velhos tempos...

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