Tubos de oxigênio colados as laterais do rosto com adesivos redondos, olhinhos fechados, cabelos finos e escuros na cabeça muito menores do que minha mão coberta em uma pequena toca cor creme, orelhinhas, bochechas grandes e boca vermelhos. O cordão umbilical fechado com uma presilha de plástico branco, um tubo de líquido transparente conectado a um dos minúsculos dedos. A menininha que a poucos meses sequer havia sido notada dentro do útero de Clarke foi a primeira a dar as boas-vindas ao mundo, deitada muito confortavelmente com a cabeça virada para a direita, Amanda era tão pequena, mas significava uma imensidão. Minha mão para dentro da incubadora, nervosa, mas feliz até os ossos, uma luz forte logo acima de nós. Minha filha... Eu sorri ainda mais quando os dedinhos se abriram e fecharam como se estivesse curiosa para descobrir onde estava, dois sensores grudados em seu peito pareciam grandes demais, doía vê-la cercada por tantas máquinas, mas a pequena princesa de horas de vida estava bem, o peito subia e descia, pernas e braços se mexiam suavemente.
- Hey, Amy... Oi, filha. – Murmurei, ainda não acreditava que aquilo era verdade. – Amanda, eu te amo... – Carinho estava estampado em minha voz.
Em uma das tentativas de uma garotinha cheia de vida, a pequena Amanda acabou por encontrar a voz que tanto ouvia ainda no útero de Clarke, segurando meu dedo para perto do peito com olhos fechados, nada além de instinto guiando à vontade. Unhas pequenas, nós minúsculos de dedos até um tanto brancos na firmeza, sorri grande e atentamente observei cada detalhe, o toque gentil e morno de pele macia e intacta, sem marcas. Amanda era feita da mais bela pureza, como seus irmãos, ela ainda não havia encontrado nada de ruim no mundo e eu queria dizer que ela apenas encontraria alegria e amor, mas sabia muito bem como a vida funcionava e não mentiria. Eu jamais mentiria para aquela tão inocente criatura.
- Eu vou cuidar de você, Amy... Você e seus irmãos nunca vão estar sozinhos, a Mamãe e eu vamos fazer de tudo, o possível e o impossível. Estão seguros com a gente... Estão em casa. – Amanda abriu e fechou os dedos com um aperto folgado e um pouco mais certeiro a ponta do meu indicador, o mais gentil que eu já havia sentido na vida. Até mesmo podia jurar que ela havia entendido. – A gente te ama tanto...
Eu queria segura-la, queria abraça-la e beija-la, levantei o polegar e gentilmente rocei na têmpora quente. Amanda virou o rosto um pouco mais para o lado, sentindo o toque de carinho em sua pele e só então se aquietando dentro da incubadora. Perninhas se dobraram no ar aquecido, dedinhos continuaram a segurar o meu, peito subindo e descendo no começo de um profundo sono.
- ...Você vai conquistar tudo o que quiser, filha. – Deslizei o polegar, a bebê quieta. Ouvindo. – Até umas broncas minhas e da Mamãe... Mas nunca se esqueça que a gente te ama. Vocês são o nosso mundo.
Eu percebi o poder que aquela criança tinha. Como com Madi, desde o começo eu já a amava, sem condições, sem ressalvas ou limites, amava Amanda com todo meu coração e além, havia me entregado de corpo e alma por uma minúscula e delicada garotinha feita de uma parte minha e outra da mulher que eu amo. Amanda carrega um legado, carrega história e vida, eu estava mergulhada em um amor profundo e não pedia nada em troca, estava disposta a ensinar tudo o que quisesse saber, responder suas perguntas e descobrir as que não soubesse. Não havia nada no mundo que não fizesse por minha filha e seus irmãos para que fossem felizes como nos faziam, apenas por nascerem, apenas por respirarem.
- Bem-vinda ao mundo, Amy... Você finalmente está aqui.
Um último toque de carinho quando a enfermeira se aproximou da incubadora ao lado, gentilmente me afastei dos dedinhos com um deslizar de polegar em sua cabeça e observei como Amanda continuou quieta, havia mesmo adormecido ouvindo minha voz. Tirei a mão do interior tomando cuidado com as bordas do círculo no vidro, observei sabendo que deveria ter o sorriso mais verdadeiro em meu rosto e fui para a segunda incubadora logo ao lado, minha felicidade era apenas uma constante morna no peito, confortável e entregue mesmo quando meu sorriso diminuiu a um mais suave e devoto.
VOCÊ ESTÁ LENDO
FINITUS
FanfictionTudo levou àquilo. As perdas, as derrotas, amarguras e feridas. Manhãs calmas se tornaram em caos no campo de batalha, o brilho das estrelas em fagulhas vindas de uma explosão. Um sorriso puro foi uma breve despedida, desde o primeiro nome escrito n...