Sempre existiu algo misterioso na religião, a arte de acreditar no impossível, depositar sua fé, sua esperança, nas forças de outros. Às vezes em algo em que sequer se pode ver. Um completo estranho, mudo e onipotente, que fala através de sinais gloriosos ou simples como a brisa do vento, que traz uma tempestade e carrega almas em alguma outra parte do mundo. Aquele lugar tinha tudo para os repelir, uma grande cruz de ouro no topo do altar de mármore, um púlpito de madeira onde descansava uma bíblia aberta nos Salmos, imagens sagradas nas vidraças. A própria luz do sol parecia sagrada, esculturas de rostos doloridos, sempre olhando para cima com seus olhos amargurados. Pareciam sentir algum tipo de dor, como todos os que buscavam aquele lugar.
Os quatro estavam ali, Mary e Lexa entraram na pacífica memória levantando suas cabeças dos bancos mais ao fundo. Lucas estava isolado a esquerda, mais perto das velas e do pequeno altar nas laterais do salão, Adam um banco atrás das mulheres. Havia música no andar de cima, ecoando por todos os lados com suavidade, da maneira mais mórbida e delicadamente linda possível. Eles escutavam os instrumentos mais ao longe, mas não havia ninguém que pudessem enxergar de fato de onde a canção vinha se não de cima.
A presença de sombras e fantasmas caminhando entre os bancos, atravessado pilares com cochichos e risadas. Lexa sentiu os braços se arrepiarem.
- Uma catedral... - Mary assentiu depois de estalar os lábios. - Legal, ahn... O que- O que estamos fazendo aqui? - Lexa respirou fundo, ela se virou. O banco estalando ao fazê-lo. - Não achei que fosse do tipo religioso.
- Eu não sou. - Adam negou, batendo a bengala no chão e retirando sua cartola da cabeça em sinal de respeito. - Mas existem lugares piores. - Encarou as vidraças. Mary franziu o cenho e se virou para Lucas.
O rapaz estava incomodado demais, sequer parava quieto, olhando para os cantos como se a qualquer momento alguém fosse pular de dentro das sombras para lhe crucificar.
- O que estamos fazendo aqui?! - Ele cochichou do outro lado do corredor inclinando a coluna. - Que lugar é esse?
- Espera um segundo... - Mary franziu o cenho, olhou para o pai e Adam.
Lexa ficou de pé lentamente, caminhou para a esquerda tomando cuidado entre os bancos e ignorou o olhar de Lucas ao parar no centro do corredor. Tomou fôlego como se estivesse nervosa e caminhou em direção ao altar, parando diante da cruz para encarar a imagem do homem em sua dor. Engoliu em seco e se afastou alguns passos para sentar no primeiro banco.
- O que? - Mary franziu o cenho. - Lexa não é religiosa.
- Todo mudo precisa de um pouco de fé, não acha? - Adam questionou. Era a primeira vez que a morena lhe via com um sorriso pequeno, legítimo em seus lábios.
- Não faz isso... Não sorri... É estranho. - Ela negou e se virou para frente, observando Lexa se inclinar para frente para cruzar os dedos a frente do rosto e apoiar os cotovelos nas rochas. Seu longo suspiro foi forte como o vento do lado de fora, os olhos piscaram lentamente e se voltaram para cima. O ambiente perdeu parte de seu foco, apenas a crucificação tinha cores vivas.
- Deus... - Ela começou, não tinha certeza se fazia certo. - Eu nunca me confessei, tenho a impressão que também não deveria fazer isso aqui, mas uma amiga me disse que a única coisa que importa é a intenção...
- Amiga? - Lucas questionou, mãos entre as pernas como um cachorro acuado. - Que amiga? Clarke?
- A garota que Lexa não conseguiu salvar. - Adam negou. - Summer.
- A que deu o nome da cadela estúpida?
- Insulte aquela Husky mais uma vez e eu te faço voar pela janela. - Mary alertou.
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FINITUS
FanfictionTudo levou àquilo. As perdas, as derrotas, amarguras e feridas. Manhãs calmas se tornaram em caos no campo de batalha, o brilho das estrelas em fagulhas vindas de uma explosão. Um sorriso puro foi uma breve despedida, desde o primeiro nome escrito n...