Pick A Liar

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Naquela noite, outro passo foi dado em direção ao objetivo principal, um novo aliado trago a trama e inimigo reconhecido na multidão de rostos já vistos antes. Nada era levado para o fim da vida naquele momento, como em outras jornadas, a cenários e dias em que deve se aliar com a menos suporta para conseguir o que quer. Uma selva, nossas vidas são feitas de conexões e contatos, puxe o fio correto e vai conseguir o que quer sacrificando uma ou duas marionetes apenas. Com um pouco de sorte, ninguém precisa sangrar além de você mesmo.

Era preciso manter em seus pensamentos que o inimigo pode estar por perto, mas o aliado sempre esteve bem ali. Ao seu lado, ouvindo cada palavra. Cuidado com o que pensa, com o que diz e como age. Torne-se o Juiz.

As coisas pioraram rápido demais. Lexa se contorcia em dor, Azazel não conseguia mantê-la parada quando até mesmo suas diretrizes tinham de priorizar a vida do seu hospedeiro e naquele momento adormecer não era uma alternativa, a ferida no abdômen forçada pela faca, as pontas dos dedos trêmulos de Jackson se enfiavam no músculo e a faziam insultar as vozes em sua cabeça.

Sangue transbordava, Clarke estava pálida e trêmula, olhavam para seu rosto em busca de sinais, um aviso de que deveriam parar, já Lexa dizia que fossem o quão fundo precisassem, ela suportaria, e foi aquilo que começaram a fazer, deixaram a delicadeza de lado quando gritou palavras longe de serem gentis, ordenando que parassem com a frescura e acabassem com aquilo de uma vez.

O frio começou a aumentar, Alex passou para o lado de dentro colocando lenha em ambas as pequenas fogueiras e teve que ajudar Clarke a se controlar quando sua impaciência acabou afetando o desempenho do procedimento. Praticamente toda a equipe de pesquisa teve deve de segura-la até que Eldim viesse da cabana vizinha e lhe desse mais um dos seus sedativos naturais, aquele não deveria adormecê-la, apenas acalma-la o suficiente para que tudo voltasse ao controle, mas Clarke estava exausta e acabou adormecendo do mesmo jeito assim que tudo acabou.

Em seus sonhos, ela relembrou a ansiedade em esperar o fim de um coma, a felicidade em encontrar um par de olhos verdes depois de um mês, o período difícil que deu entrada a uma vida feliz e quase perfeita. Um baile de formatura, risadas, música, dança e toda a simplicidade da inevitável alegria. Aos poucos, seus pensamentos calmos foram se dissolvendo, o cheiro forte de fumaça a trouxe de volta e a sonolência manteve seus olhos fechados enquanto ouvia as vozes desesperadas do lado de fora da cabana. Becca e Jackson murmurando além das paredes de madeira, o som da dor aumentando, exclamações desesperadas de Jane, Lexa os apressando quando estava prestes a desmaiar e sendo atingida por uma descarga de choque vinda do interior.

Passou tempo demais quando finalmente conseguiu enxergar de verdade onde estava, não havia luz do sol escapando no topo de madeira da cabana, não havia claridade, a noite caia com seu conhecido azul intenso e o acampamento era iluminando pelas tochas fincadas ao chão entre suas extremidades. Estrelas no céu, corujas e morcegos disputando o último canto, insetos ressoando em acompanhamento. Suas mãos a colocaram sentada, não estavam mais sujas de sangue, uma tigela de água esperava ao lado da pequena fogueira. Estava confusa e desorientada, levantou da cama vegetal e levou as mãos aos joelhos, tentando se equilibrar quando o mundo tremeu.

- Deus... – Fechou os olhos, estômago embrulhado. Já tinha tido o suficiente daqueles apagões, podia ouvir as vozes do lado de fora. O som da dor disparou seu coração e a fez fechar os punhos, suor escorrendo em gotas grossas pelo queixo.

O chão estalou diante da porta estranhamente aberta, Clarke levantou a cabeça e parou completamente. A visão de sua própria filha veio para colocar um fim na euforia, pequena e frágil, pantufas aconchegantes passando para o lado de dentro da estrutura e mãos minúsculas fechando a porta ao entrar completamente. Vestia seu pijama, uma camiseta azul coberta de pequenas árvores verdes de copas redondas como as que costumava desenhar, a calça de mesma cor era estampada com uma porção de arco-íris por todos os lados, o cabelo solto pelos ombros, dedos rechonchudos apertavam o guaxinim de pelúcia debaixo do braço.

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