FINITUS

Celebrate Memories

O carro veio derrapando pela curva fechada, fumaça saindo das rodas de borracha, o mar agitado além do cercado de madeira branca e o paredão de dezenas e dezenas de metros. Não estávamos mais em Purgatory, não estávamos mais com a mesma equipe na calmaria da cidade minúscula, aquela parte do mundo estava literalmente do outro lado do oceano, nas encostas da Itália em uma missão de execução, o alvo era nada mais, nada menos do que um dos membros da inteligência inimiga, nossas fontes indicaram sua localização exata no sudeste litorâneo, mantendo as aparências em uma grande e histórica propriedade entre os vinhedos. Um excêntrico milionário como qualquer outro, fingiu que não sabia de nada da Aliança, implantado no meu domínio para tramar uma retomada no pais. Anya e eu éramos os alvos, as iscas, chegamos no país a uma semana, aceitamos o seu convite para a festa como quem não suspeita nada poucos dias depois, usamos a desculpa de que estávamos apenas de passagem, uma pausa para o encouraçado Jon Paul Jones para provisões, passamos a noite inteira entre as paredes de pedra sem demonstrar qualquer suspeita. Era a típica aventura da classe alta, álcool, drogas, mulheres dançando para todos os lados, algumas quase completamente nuas, outras se esfregando em homens pelos sofás. Era quase como um bordel.

Para nós foi como esperar o fim de uma tortura no canto ao lado do bar, um gole ou outro de whisky, alguns charutos para matar o tédio, nenhuma diversão quando as mulheres que amávamos não estavam ali. Fomos convidadas para uma pequena sessão privada com as melhores dançarinas da noite em cabines separadas, a garota sequer chegou perto de mim quando apenas a visão de uma arma a colocou tremendo sobre o sofá. Eu garanti que nada de ruim aconteceria com ela, encontrei Anya no corredor e nós avançamos para o alvo, mas Leonardo, o piloto egocêntrico de Formula Um, usou a garota responsável por seu entretenimento duvidoso como escudo humano até o andar de baixo da festa. Ele tinha mais aliados em campo do que nós, nos enfiamos em uma briga enorme no salão de entrada, ele fugiu em um dos seus carros, nós roubamos outro.

- Eu disse que era para ter explodido a garagem. - Anya resmungou no banco do carona, agarrou o painel nervosamente na curva fechada. Vestia calça social, um par de saltos Prada que ainda brilhavam, a gola da camiseta social manchada com sangue dos outros.

- Tem ideia de quanto um carro desse vale? - Subi a marcha, apenas o som do motor era o suficiente para se saber que era uma grande fortuna sobre rodas.

- Muito, mas o cara é um piloto profissional... O que é mais importante para você, um carro desses ou o alvo? - Apontou para o poste de concreto quando desviei de um fazendeiro levantando poeira da estrada.

- Você não ia me perguntar isso se fosse uma das suas motos favoritas. - Desviei do poste facilmente.

- Justo. Ray, quanto tempo? - Virei para a direita. Duas batidinhas na buzina, o trator que ameaçava seu caminho em direção a estrada que cortava o vinhedo parou ocupando dois terços da abertura a nossa frente. - Guaxinim...

- Relaxa, até parece que nunca me viu dirigir um carro antes. - Virei a mão direita no volante suavemente, as garras gigantescas sujas de terra passaram ao lado da janela escura da Lamborghini. Anya ficou olhando um tanto agoniada o desastre evitado a sua direita.

- Esse não é só um carro.

- Ah, então agora tem algum valor... - Debochei.

- É claro que tem, eu sou uma das idiotas dentro dele.

- "Azazel analisou os padrões de direção. Ele está seguindo para o heliporto descendo a colina. Sabe que vai ser mais difícil pega-lo assim." - Raven respondeu. - "E também... O seu velocímetro está funcionando?"

- Está, nós estamos a DUZENTOS QUILÔMETROS POR HORA?! - Anya berrou.

- Cento e oitenta e dois... Seis... Cento e noventa... Uh, essa belezinha corre. - Sorri animadamente.