98. Espaço desenhado

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POV RAFAELLA

Cheguei exausta em casa e sabia que tinha passado da hora que havia prometido a Gizelly que voltaria para o apartamento. A verdade é que as coisas estavam agitadas no trabalho. Eu estava aprendendo da pior maneira como o cenário sertanejo era preconceituoso e atrasado. Vários dos meus eventos haviam sido simplesmente cancelados depois da minha foto beijando Gizelly ser vazada. Eu estava a um passo de perder mais patrocinadores também, afinal do que valia me manter no contrato se eu não teria como expor os produtos? Marcella e minha equipe trabalhavam incansavelmente em uma solução, mas eu devo dizer que sentia minhas energias baixas. Era sugador demais ver todo o trabalho de uma vida sendo julgado e condenado simplesmente por estar com alguém que me fazia realmente feliz.

Entrei no meu apartamento escuro e deixei minhas coisas pela sala mesmo, deixando o meu corpo cair sobre o sofá de maneira pesada. Eu estava exausta.

Tirei meus sapatos e tentei escutar algum barulho vindo dos outros cômodos, mas não ouvi nenhum. Já era tarde, provavelmente Larissa e até Gizelly já deveriam estar dormindo.

Gizelly. Minha namorada estava sendo perfeita como sempre nesses tempos de turbulência. Ela passava quase todos os dias em casa, me ajudando com Larissa, sem nem mesmo eu pedir. Era clara a sua preocupação comigo e a maneira como ela tentava me ajudar da maneira que podia. Eu sabia que era difícil para ela me ver assim por conta do nosso relacionamento, mas eu tentava assegurá-la sempre que eu sabia que nada disso era sua culpa e que eu não permitiria isso interferir entre a gente.

Ainda perdida em meus próprios pensamentos, a voz de Gizelly me despertou.

"Tá no escuro feito assombração por quê?" ela disse divertida, me fazendo virar em sua direção. Ela estava escorada na parede que dava para o corredor já vestida para dormir, com os braços cruzados e um sorriso lindo em seu rosto. Inevitavelmente eu sorri em resposta.

"Sentei para tirar os sapatos e acabei me distraindo em pensamentos," respondi e vi seu sorriso diminuir enquanto ela andou até mim, sentando ao meu lado.

"Dia difícil?" ela disse, como se lendo minha postura e já sabendo a resposta.

Eu suspirei e dei de ombros, escorando meu corpo de lado no sofá para ficar de frente a ela. Suas mãos buscaram as minhas em um aperto gentil.

"Tem algo que eu possa fazer?" sua voz era gentil, me fazendo sentir o aperto gostoso no peito, aquele de quem tem a sorte de ter alguém que te olhe da maneira como ela me olhava no momento. Acabei sorrindo e puxando o corpo dela pelas nossas mãos entrelaçadas.

"Um beijo de boa noite, que tal?" pedi com nossas bocas quase coladas e ela sorriu antes de selar nossos lábios. Me deixei relaxar no seu beijo e senti suas mãos tocarem minha cintura, colando nossos corpos de maneira orgânica, habitual.

Nos beijamos com calma, nossos lábios apenas se encontrando em uma sincronia reconhecida por nós duas. Era uma conversa sem palavras, uma forma de conforto no final do dia, de dizer que estávamos ali, que sempre estaríamos ali.

"Você quer que eu esquente a comida para você enquanto você toma um banho?" ela perguntou, quando finalmente terminamos os beijos e estávamos apenas curtindo o abraço uma da outra.

"Eu não estou com muita..." eu comecei, mas o olhar de repreensão de Gizelly me fez parar minha frase no meio do caminho. Acabei sorrindo, porque sabia que ela estava cuidando de mim. "Ok, amor."

A minha resposta a fez sorrir grande e, deixando um beijo estalado na minha boca, ela se levantou.

"Se comer direitinho, quem sabe até ganha uma massagenzinha nos pés," ela disse me mandando uma piscadela.

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