Epílogo

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Pov Larissa

"Quando você cresce, você percebe que as pessoas tendem a complicar as coisas. Desde sempre eu fui criada para compreender o outro, me por no seu lugar e sentir empatia. Fui cercadz de amor, carinho e cresci em meio a um ambiente de respeito e saudável. Você sabe quantas pessoas são capazes de dizer isso? Você diria isso?

Mas apesar disso, apesar da rara chance e privilégio de ter anos formadores cercados desse ambiente, tudo o que eu sempre ouvia era como a minha família era errada. Ouvia na escola, nas redes sociais, nos cochichos em lugares públicos. Por um tempo eu me senti revoltada com a vida. Tive raiva dos meus colegas, de mim mesma, da minha família e do mundo inteiro. Falei coisas que não devia durante ataques de raiva e feri, sim, as pessoas que mais amo na vida. Me arrependo sempre de todas as vezes que isso aconteceu, mas também sei que fez parte do meu próprio processo de entendimento. Pessoal e do mundo.

Hoje, aos meus dezessete anos, não vou dizer que já me entendo por completo. Ou que o mundo não continua misterioso, pavoroso e, às vezes, até insuportável. Mas agora, com os anos e experiências acumuladas, eu não sinto mais raiva dos meus colegas, ou dos estranhos nas ruas com seus sussuros, ou dos comentários covardes por trás das redes sociais. Muito menos sinto raiva de mim ou da minha família. Ao contrário, hoje me sinto triste, porque infelizmente, a maioria das pessoas nunca vai ter a oportunidade de crescer em um ambiente de amor, carinho, respeito, cumplicidade e afetom, como eu tive. E que a frustração e ódio que a maioria das pessoas destila é apenas um reflexo disso.

Hoje, eu só me sinto mal por saber que nem todo mundo teve a mesma sorte que eu."

"E então, o que você acha?" eu perguntei, mordendo de forma nervosa o meu lábio inferior.

"Você vai ser machucar, filha", minha mãe disse, passando gentilmente sua mão sobre a minha boca, para que eu parasse com aquele hábito. Ela tentava isso há anos, mas sempre que algo mexia com os meus nervos, lá estava eu praticamente mastigando meus próprios lábios.

Seus olhos escaneavam o papel a sua frente e eu podia ver suas expressões mudarem a cada frase. Minha mãe tinha um rosto muito transparente, seus sentimentos eram facilmente lidos através do seu rosto. Sorri ao pensar nisso. Isso era uma das coisas que eu mais amava nela.

"Que lindo, bebê. Fico contente que você se sinta assim," ela falou. finalmente deixando o papel sobre o balcão. e se virando para me envolver em seus braços.

Meu riso foi abafado pelo seu pescoço, porque eu já sabia que iríamos acabar em abraços e choro. Típico.

"Por que sua mãe está chorando, Larissa?"

Me virei e vi o olhar divertido da minha outra mãe na porta da cozinha. Ela, como ninguém, sabia que com o passar dos anos, mais manteiga derretida a mãe Gizelly se tornava.

"O meu texto para o trabalho de projeto de vida," falei saindo do abraço, enquanto a mãe Gi limpava seus olhos.

"Oh, meu amor," mãe Rafa disse, tomando o rosto da outra entre suas mãos e deixando um beijo delicado em seus lábios.

"Ao mesmo tempo que vocês me fazem acreditar no amor, vocês me fazem desacreditar nele," eu resmunguei, pegando meu trabalho de cima do balcão e me levantando.

"Do que você está falando?" mãe Gi perguntou.

"Acho que ela está se referindo a aquela menina que ela trouxe aqui semana passada," mãe Rafa falou, me fazendo soltar um grunido de frustração.

"O que houve com ela? Eu achei que tínhamos gostado dela?"

"E gostamos, mas aparentemente ela não acredita em monogamia," mãe Rafa respondeu enquanto elas continuaram falando como se eu não estivesse ali.

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