100. Exposição

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POV GIZELLY

Tentei ligar para Rafaella, mas minhas três tentativas foram diretamente para a caixa postal. Exalei, me sentindo frustrada e tentando não deixar toda aquela situação me deixar aborrecida. Eu não sabia o que estava acontecendo. Não estava gostando nada, mas mesmo assim não sabia de tudo e precisava me manter calma para que Rafaella me explicasse.

Estava sentada em meu carro, ainda no estacionamento do escritório, e quando vi que não conseguiria falar com Rafaella por telefone, retornei a ligação de Dona Marcele como havia prometido. Expliquei a ela que não sabia de entrevista ou reportagem alguma, mas que iria me informar e assim que pudesse, lhe retornaria com mais informações. Lhe aconselhei a não responder ninguém no momento e que, no máximo no outro dia pela manhã, já teria respostas para ela. A mulher concordou com tudo e pareceu se preocupar com o meu estado de espírito, afinal eu realmente estava inquieta. Eu tentei lhe apaziguar, mas não sei se consegui. No entanto, ela deixou passar e disse para eu não ter pressa, que ela não falaria com ninguém sem que eu lhe aconselhasse. Me desejou um "fica bem, minha filha" que me tocou por conta de seu tom gentil, quase maternal, e desligamos.

Antes de eu ir em direção ao apartamento de Rafaella, eu fechei meus olhos e respirei fundo, tentando encontrar em mim calma e paciência para lidar com o que quer que viesse. Quando já estava um pouco mais tranquila, decidi sair da rua, afinal isso ainda era Brasil e era perigoso ficar parada ali. Dirigi sem pressa e tentei não pular para conclusões precipitadas. Havia decidido que antes de subir para encontrar Larissa e a babá (assumi que Rafa ainda não estaria em casa), eu tentaria achar a tal reportagem e entrevista em meu celular no estacionamento mesmo.

Tentei achar o vídeo completo, mas logo vi que seria uma missão impossível. O máximo que eu encontrava eram reportagens em diversos sites de notícia e fofoca, mas a maioria destes focava nas palavras de Rafaella, porém eu não queria ver apenas citações, queria entender tudo, logo ignorei todos. Quando já estava quase desistindo, lembrei que provavelmente encontraria o que eu procurava no twitter. Abri rapidamente o aplicativo e me assustei com a quantidade de notificações que alertava na tela do meu celular. Ignorei essas e também as inúmeras DM's, indo diretamente para a ferramenta de busca.

Meus dedos batiam impacientemente no voltante do meu carro, enquanto a internet ruim na garagem do apartamento de Rafaella carregava os resultados da minha pesquisa. Depois de muito rolar pelo aplicativo, finalmente encontrei algo que me fez clicar.

"Thread explicativa sobre a entrevista de Rafaella e sua advogada (ou diria namorada?! Eu shippo e vocês?)" li em voz alta e meus olhos arregalaram. Namorada?

Sim, a foto havia sido vazada e houve especulações, mas nenhuma que me chamasse de namorada. Engoli em seco e abri a sequência de twits, sem estar preparada pro que quer que estivesse ali.

O primeiro comentário da thread indicava que havia saído uma reportagem em um jornal local do Espírito Santo sobre o caso de Carlinhos. Algum repórter havia tomado conhecimento dos acontecimentos que levaram o menino até o hospital e logo sobre a sua mudança para prisão domiciliar, assim como tratamentos. A reportagem era bem séria e técnica e retratava mais uma crítica sobre o sistema penitenciário capixaba do que sobre o caso em si. Isso, provavelmente, porque o jornalista não teve acesso a família de Carlinhos para entrevistas (porque eu e Letícia sabíamos que isso podia acontecer e pedimos para Dona Marcele não falar nada com medo de prejudicar os recursos ainda em andamento). Li toda a matéria e meu nome foi falado,  juntamente com os das minhas antigas sócias, como advogadas citadas nos documentos oficiais do caso. Até aí não tinha nada demais. Respirei aliviada, saindo da página da notícia oficial e voltando para o twitter para ler o restante da thread.

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