28. Você nem imagina

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Com o passar dos minutos, Gizelly finalmente conseguiu relaxar um pouco sua postura e até pegou algumas informações do filme, mesmo que ainda não conseguisse se concentrar totalmente. Só tinha entendido que era um filme adolescente, onde uma menina recebia dinheiro por fazer o trabalho escolar dos outros.

Os dedos longos de Rafa percorriam seus cabelos em um ritmo lento e algumas vezes a influencer repousava sua mão sobre a cabeça de Gizelly e arranhava levemente alí com as suas unhas. Esses eram os momentos preferidos e mais temidos pela advogada, porque era quase impossível não reagir e a mulher acabava arrepiada e se movendo um pouco desconfortável. Numa dessas, Rafa parou com seus toques e Gizelly percebeu que ela a encarava.

"Desculpa," a capixaba falou, fazendo menção em se levantar do colo da outra. Rafa negou e a segurou na mesma posição.

"Por que cê tá pedindo desculpas?" falou divertida e negando com a cabeça. "Não tem necessidade. Só que eu tô achando que você não tá gostando muito desse meu cafuné não."

"Claro que eu tô," falou rapidamente. Rápido até demais. O que claro, fez Rafa rir mais uma vez. Achava fofo como Gizelly, que era sempre um mulherão confiante, se desmanchava em timidez às vezes.

"Então tá bom. Eu vou voltar um pouco o filme," disse voltando sua atenção para a tela e voltando os minutos do filme que perderam por conta da conversa.

Gizelly se forçou a relaxar, fechando os olhos e contando até dez. Dessa vez quando Rafa voltou com os carinhos, ela já estava mais preparada e conseguiu aproveitar o conforto que estava recebendo. Ela sempre amou cafuné e carinhos de maneira geral, e os de Rafaella podiam facilmente se tornar seus favoritos.

Manoela retornou a sala eventualmente com um sorriso estranho no rosto, na opinião de Rafa, e de quem "queria morrer", na opinião de Gizelly. A cantora ocupou o lugar aos pés de Gizelly e se acomodou para ver o filme.

"Ele já pediu pra ela ajudar com a menina?" perguntou Manu.

"Já sim," falou Rafa e Gizelly percebeu que havia perdido grande parte do filme, então se concentrou.

De vez em quando, Rafa e Manu comentavam uma coisa ou outra.

"Acho que ela se apaixonou pela menina também. Que fofo!" comentou Rafa.

"Se ela ficar com o boy, eu vou te matar, Manoela," disse Gizelly olhando com cara feia para a amiga.

"Sem spoiler," disse a mais baixa dando de ombros e rindo baixo.

Continuaram vendo o filme, até que o mesmo se aproximou do final e Gizelly se sentou no sofá, parecendo revoltada.

"Não acredito que não vai rolar um beijinho entre elas," a advogada falou, fazendo as outras duas rirem.

"Amiga, sua gayzice tá aparecendo," brincou Manu.

"Ah, então a minha também, porque também quero beijo," falou Rafa.

Antes que alguma das duas pudesse responder, o beijo finalmente aconteceu na tela e Gizelly e Rafa começaram a dar pulinhos animados no sofá.

"Ah, que fofas, amei!" disse a mineira quando o filme finalmente terminou.

"Sim, ficou tipo com uma abertura para continuação. Gostei," falou a capixaba.

"A Netflix anda até fazendo algumas coisas pra representatividade, né?" disse Manu, iniciando um assunto que ela sabia que Gizelly amava e não conseguia parar de falar a respeito.

"Sim, com certeza!" a advogada disse empolgada. "Ela está investindo bastante em representatividade LGBTQ+ para os jovens e isso é tão importante pra quem ainda está se descobrindo."

"Eu nunca havia pensado nisso," falou Rafa. "Deve ser difícil sentir coisas diferentes do que as pessoas consideram normal e ainda ter a mídia ajudando nessa normalização do casal hétero," a mulher disse claramente pensando sobre o assunto. Gizelly nunca quis beijar tanto Rafaella como naquele momento e ela nem teve medo de admitir para si mesma.

"Sim, é complicado, porque o jovem, principalmente, busca essa identificação; procura se encaixar e quando ele recorre à mídia para isso, ele ou não se vê representado ou se vê representado de uma maneira errada, estereotipada," disse Gizelly.

"Isso é tão importante, Gi," disse Rafa. "Você teve problemas em se aceitar?" perguntou curiosa.

"Bastante. Eu sou do interior, né? Não é comum você ver pessoas LGBTQI's andando por Iúna out and proud, mas eu conversava muito com a Manu," respondeu a capixaba virando na direção da cantora e oferecendo um sorriso de agradecimento. "Ela me ajudou a entender o turbilhão de coisas que eu sentia."

"Meus pais sempre foram do meio artístico e eu sempre convivi com todos os tipos de pessoas, então para mim era mais que comum," disse Manu. "A Gizelly sempre foi muito corajosa e assim que ela entendeu que também se atraia por mulheres, virou Iúna de cabeça para baixo com a militância," falou rindo se lembrando das histórias da adolescência.

"Você sabe que eu sou louca e eu queria mudar as coisas, foi aí que meus protestos contra o desmatamento," disse rindo em direção a Manoela. "Se tornaram protestos para a causa LGBTQ. O que deixou a minha mãe um pouco irada e meus avós extremamente confusos, mas valeu a pena."

"Então sua família já está bem sabendo da sua orientação?" perguntou a mineira.

"Hoje em dia sim, demorou um pouco, mas já estamos num bom patamar," respondeu Gizelly contente. Foram alguns anos difíceis, mas ela ficava feliz em saber que tinha a aceitação e amor de todos os familiares que importavam para ela de verdade.

"Eu não sei como minha família reagiria se eu fosse gay," Rafa disse e aquilo chamou a atenção das duas outras mulheres. "O meu pai seria mais fácil e  minha mãe provavelmente aceitaria eventualmente, eu acho."

"Você nunca teve curiosidade de ficar com uma mulher?" Manu perguntou na cara e Gizelly quase se afoga com a água que estava bebendo no momento. A cantora sorriu cínica para advogada, enquanto Rafaella pareceu não notar.

"Não sei," ela respondeu rindo. "Eu já achei mulheres bonitas e atraentes, mas nunca passou disso. Eu passei muitos anos com Pedro e eu nunca olhei pra mais ninguém com esse tipo de intenção depois que começamos a ficar juntos," disse com um ar triste no final. Pensar na relação falida dela com o cantor era difícil.

"Eu entendo. Quando eu gosto de alguém, só tenho olhos para a pessoa," disse Gizelly tentando consolar a mulher ao mesmo tempo falando a verdade.

"Isso é verdade. A Gizelly é a pessoa mais cadelinha que eu conheço!" Manu disse rindo da cara da advogada que a encarou séria.

"Ser cadelinha é bom, Gi, fica assim não," defendeu Rafa rindo da cara feia da advogada também.

"Quando a cadelice é correspondida é ótimo," disse Manu fazendo Rafaella concordar e Gizelly a olhar desconfiada.

Notas da autora:

Oi, gentê! Apareci!!

Como vocês estão? Gostaram do capítulo? Hahhahhaha.

A Manu é mais engenheira civil que o Igor, como vocês podem ver hahahahha.

Eu queria introduzir a conversa sobre sexualidade na cabeça da Rafa. Será que sai? Hahaha

Obrigada pelos comentários e amor que vocês dão pra mim e pra história. Eu leio e amo tudinho, viu?

Queria dedicar esse capítulo ao meu shipp #Tamy. Meu casal (eu faço a ponte igual a Manu porque sim hahahhahaha). Amo vocês, migas!

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