61. Porque eu sei que é amor

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POV RAFAELLA

Passei o dia em um ensaio fotográfico que parecia não ter fim. Havia chego às 8h da manhã para começar a maquiagem e só havia parado para um breve lanche na hora do almoço. O relógio já marcava 20h13 e eu agradeci que havia finalmente contratado alguém para me ajudar com Larissa naquela semana.

Depois de Gizelly ter cuidado da minha filha no domingo anterior, eu decidi que não podia mais simplesmente contar com a disponibilidade das pessoas da minha vida para olharem Larissa quando eu não podia. Agora eu era oficialmente — ou melhor, praticamente — uma mãe solteira e precisava de alguém para me ajudar a cuidar de Larissa em meio ao caos da minha agenda.

Carla tinha sido recomendação da minha mãe. Era uma senhora muito doce e Larissa havia gostado dela de primeira. Eu confesso que eu também. Ela estava trabalhando com a gente faziam 4 dias e eu já começava a confiar um pouco mais, assim acabava não ligando o tanto de vezes que fiz nos primeiros dias. Não queria deixar a mulher louca ao ponto de pedir demissão. Eu realmente precisava dela.

Quando finalmente o fotógrafo disse que havia terminado a última sessão, eu suspirei aliviada. Tudo o que eu queria naquela quinta-feira era tomar um banho, comer comida caseira, agarrar minha filha durante um filme e dormir nos braços da mulher que eu amo. Ainda estava me acostumando em pensar tão livremente em Gizelly dessa forma, mas confesso que a sensação era incrível. Me sentia cada dia mais apaixonada e maravilhada pela pessoa que ela era.

Assim que me troquei, peguei minha bolsa para checar meu celular e ver se não havia nenhuma ligação de Carla. Eu disse que ainda estava me acostumando. Não havia nenhuma ligação da mulher, mas havia várias de Gizelly. Estranhei.

Tentei retornar suas chamadas algumas vezes, mas nenhuma delas completou. A voz apenas me informava que o celular estava desligado ou fora da área de serviço. Já um pouco mais preocupada, achando que talvez ela tivesse que cancelar nosso jantar, fui até sua conversa no meu whatsapp.

Ei, deusa. Me retorna assim que puder. É urgente. - 13h27

Rafa, tô tentando te ligar e você não me atende. Me retorna, por favor! - 14h11

Acho que você não vai me retornar tão cedo, então vou te explicar por aqui mesmo. Eu tô no aeroporto e estou voltando para Vitória. Lembra do Carlinhos? Aconteceu alguma coisa com ele e dessa vez eu preciso ir pessoalmente. Assim que eu puder, eu te mando notícias. Desculpa estragar nossos planos pra hoje. Eu amo você. ♥️ - 15h17

Tô embarcando - 15h26

Cheguei em Vitória. Tentei te ligar, mas você não me atendeu de novo. Eu tô indo direto para Cachoeiro de Itapemirim, que é para onde transferiram ele. Me liga! - 19h37

Eu vi que a última mensagem havia chego fazia um pouco mais de uma hora. Tentei ligar mais uma vez para ela, mas novamente, fui parar em sua caixa postal.

Meus olhos percorreram pelas suas mensagens de novo e eu senti meu coração se apertar no peito. Não foi algo consciente. Suas palavras me diziam que ela tinha tido uma emergência, mas que voltaria em breve para mim. Mas algo em mim dizia que não seria assim tão fácil.

Tentei ligar para ela mais algumas vezes e quando vi que não teria jeito, arrumei tudo e fui para a casa. Só quando estacionei na garagem do prédio, pensei em ligar para Manoela. Que tonta!

"Rafa!" Manoela me atendeu afobada. "Eu ia te ligar agora mesmo. Você sabe da Gizelly?"

"Eu te liguei exatamente para isso," falei suspirando. Lá se foi minha esperança.

"Eu passei o dia com o meu editor e só vi suas ligações agora que cheguei em casa e ela não estava. Ela me mandou uma mensagem dizendo que você me explicaria o que tinha acontecido," Manu disse.

"Eu também não a atendi. Ela me mandou mensagem dizendo que teve que voltar com urgência para o Espírito Santo, por conta do caso do Carlinhos. Me avisou quando embarcou, quando chegou e disse que estava indo para uma cidade que eu não conheço e que era pra eu ligar para ela. Mas o seu telefone só dá na caixa postal," falei um pouco exasperada.

"Calma, Rafa. Ela deve estar bem. Se você disse que ela estava indo para o interior, ela deve estar na estrada e por isso está dando caixa postal," Manoela deu uma explicação totalmente racional e eu me vi relaxando no banco do carro.  Manoela tinha toda a razão. Estava tudo bem e logo ela me retornaria.

Falei mais um tempo com minha amiga ao telefone e prometemos nos manter informadas caso Gizelly desse qualquer notícia. Saí do carro e me dirigi até o elevador. Passei o trajeto de subida recostada no espelho da caixa de metal, com os olhos fechados em uma prece silenciosa para que tudo estivesse bem com Gizelly. Não queria me preocupar, mas era inevitável.

Quando entrei no apartamento, fui direto a procura de Larissa e Carla. Depois daquele dia que eu estava tendo, precisava de um abraço da minha pequena.

"Boa noite, dona Rafa," Carla me cumprimentou assim que entrei.

"Só 'Rafa', Carla," a lembrei, sorrindo simpática para a mulher. "Boa noite. Cadê a Lari?"

"Tá pintando no quarto," Carla respondeu. "Acabei de vir de lá."

"Tudo bem. Você já pode ir. Desculpa ter demorado um pouco mais que o normal hoje," falei deixando minhas coisas sobre a mesa.

"Não precisa. Você já tinha avisado," ela me lembrou. "Boa noite e até manhã!"

Me despedi dela e fui até o quarto de Larissa. Encontrei minha filha deitada com a barriga no chão em meio a papéis e lápis de cor.

"Boa noite, meu amor," falei escorada na porta.

"Mamãe!" ela disse empolgada, levantando seu rosto até o meu. Percebi que seus olhos procurava alguma coisa, no entanto. "Cadê a Gi?" ela perguntou enfim.

Mais uma vez aquela sensação estranha me tomou e um nó se formou em minha garganta com a pergunta.

"Ela teve que ir viajar, mas volta já," foi a minha resposta incerta.

Notas da autora:

Lembrem que eu amo vocês.

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