83. Nosso

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POV GIZELLY

Era bom estar de volta "a minha rotina". Porque sim, eu havia criado uma nova rotina em Goiânia e era aquela que me fazia feliz. É claro que eu sabia que não seria eterna, mas faziam cinco meses desde que eu viera para essa cidade, e eu percebi que fazia muito tempo que eu não era tão feliz. Claro que eu sabia que não tinha muito a ver com o lugar, mas sim com as pessoas que viviam nele.

Por falar em datas, faltavam dois dias para que Rafaella e eu fizéssemos três meses de namoro, e coincidentemente, nessa mesma data, seria o dia das mães esse ano. O dia 10 de maio tinha chego mais rápido do que eu imaginei.

Faziam quase duas semanas desde o meu retorno para Goiânia, e eu ainda não havia tomado coragem de contar para Rafaella o que estava entalado na minha garganta. Eu queria muito conversar com ela sobre o que futuro nos reservava, mas ao mesmo tempo morria de medo de estar apressando as coisas. Mesmo que eu estivesse vivendo sobre a ameaça do relógio.

A verdade era que eu não podia ficar tão ausente do meu trabalho e eu precisava decidir o que fazer. Ou voltava para o Espírito Santo ou começava a arrumar outros trabalhos por aqui. Mas para isso eu precisava criar uma certa estrutura e isso só seria possível se eu me desfizesse das coisas em Vitória. Era muita pressão para se pôr em uma relação tão nova, mesmo que ela fosse tão intensa quanto a nossa. Eu morria de medo de assustá-la. Me perguntava às vezes se esse sempre seria meu maior medo.

Era sexta-feira, e eu estava na casa de Rafa a observando brincar de boneca com Larissa no chão da sala. Minha cabeça estava a mil por hora e eu estava distraída, como havia passado a maior part do meu tempo nos últimos dias. O lado bom era que o que me distraía não eram apenas as palavras não ditas a Rafaella, mas também a surpresa que eu havia planejado com a ajuda de Manoela — e de Larissa também — para o dia das mães/aniversário de namoro.

Estava tudo planejado. Eu não dormiria esse noite aqui, com a desculpa de que precisava estar cedo em casa para receber uns documentos importantes de trabalho, mas na verdade, estaria dando os retoques finais para aquele domingo.

Larissa estava sendo incrível em guardar segredo. Claro que ela não sabia muito, apenas que no domingo presentearia a mãe em comemoração a todo o carinho e amor que recebia. Ela tinha ficado muito feliz em me ajudar a pintar alguns desenhos e me auxiliar em decorar a caixa, onde os vários presentes de Rafaella seriam colocados.

Tudo isso tinha acontecido no sábado anterior, quando mais uma vez eu havia me oferecido para cuidar de Larissa na ausência da babá. Tinha sido tudo uma grande coincidência, mas que tinha vindo a calhar. Eu já estava planejando como conseguiria uma tarde livre com Larissa sem Rafa desconfiar dos meus planos, mas felizmente tudo acabou dando certo.

"Ei, tá calada," senti Rafaella sentar ao meu lado e me virei em sua direção, encarando seu rosto.

"Só pensando," falei, sorrindo levemente só pela sua proximidade.

"Pensando no que?" ela perguntou, apoiando seu braço no encosto do sofá e em seguida repousando seu queixo ali.

"Você vai rir," falei olhando rapidamente para o chão, onde eu sabia que Larissa estava. A menina estava distraída inventando uma história para as suas bonecas. Fofa.

"Vou não. Me diz," ela pediu, levando sua mão livre até meu braço e começando uma carícia leve.

"Em você," respondi, não mentindo, mas também não falando toda a verdade.

Ela deu uma risada baixa e eu fingi ficar ofendida, me afastando de seu toque.

"Não, para, desculpa," ela disse saindo da posição que estava para me alcançar e me puxar pelo braço. "Você é muito fofa," ela disse me abraçando e me beijando o rosto.

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