POV RAFAELLA
Não era uma manhã como qualquer outra.
Eu havia acordado fazia pouco tempo e diferentemente das manhãs comuns, eu não tive que me desvencilhar com cuidado dos braços de Gizelly para não acordá-la.
Diferentemente de praticamente todos os dias desde que Gizelly havia se mudado oficialmente para Goiânia, nessa manhã eu não tive que lutar contra a vontade de não sair do seu abraço quente.
Não tive que lutar contra a vontade de beijar seu rosto inteiro simplesmente por beijar. E absolutamente não tive que me desviar de seus braços me apertando sobre si para que eu não me movesse da nossa bolha.
Nessa manhã nada disso aconteceu, e nada disso aconteceu porque eu era uma completa idiota.
Suspirei fechando meus olhos e apoiando meu rosto em minhas mãos. Sentia o peso do mundo nas minhas costas e uma constante ardência em meus olhos, consequência da noite de choro. Me sentia quebrada e perdida, sem chão.
No silêncio perturbador do meu quarto, tudo o que eu sentia desde que Gizelly se fora na noite anterior era o vazio que ela havia deixado para trás. Me sentia uma estúpida, uma tonta, porque tinha visto a mulher que eu amava sair da minha casa aos prantos e não fiz nada para impedir. Agora só me restava aceitar as consequências dos meus atos.
Faziam três semanas desde o aniversário de Larissa e apesar de alguns conflitos que a situação com Pedro estava causando entre Gizelly e eu, as coisas andavam bem, ou eu assim pensava. Eu sabia que ela não gostava nada de ter meu ex marido impondo os limites da nossa relação pública, mas ainda assim ela se mostrava paciente e compreensiva como sempre fora. Claro que às vezes ela acabava demonstrando uma frustração e outra e eram nesses momentos, quando eu também me permitia vazar minhas frustrações, que a gente entrava em atrito.
"A Marcela falou que era melhor você não fazer essa entrevista, Rafa, e eu acho que você deveria escutar a sua prima," Gizelly falou, mostrando estar cansada daquele assunto.
"Ela me aconselhou a não fazer, Gizelly, mas a decisão é minha," respondi mostrando minha irritação com a continuação daquela conversa.
"Eu sei que a decisão é sua, Rafaella," ela frisou meu nome, me sinalizando com os olhos que era uma réplica ao que eu acabara de fazer o mesmo. "Mas acho que você não está pensando claramente..."
"Ah, agora eu não estou pensando claramente?!" me irritei. "Eu quero informar a vocês duas, que é a minha carreira que está em jogo," falei me levantando da posição que eu estava na cama e começando a andar pelo meu quarto. "Então obviamente eu pensei claramente!" concluí de maneira exasperada, me virando para encarar Gizelly que ainda ocupava minha cama.
Eu pensei que ela continuaria com suas palavras irritadas, mas me surpreendendo (ao mesmo tempo que não), ela apenas suspirou pesado, fechando seus olhos. Esperei para ver como ela reagiria a seguir e senti como uma pontada forte no peito, quando seus olhos castanho brilharam mareados em minha direção. Eu não sabia exatamente o que tinha causado aquela sensação forte em meu peito, se sua expressão dolorida ou a resignação em seus olhos. Era como ler em seu rosto que ela faria qualquer coisa por mim, mesmo que odiasse. E isso doía. Eu não queria que ela se sentisse assim.
"Gi," minha voz saiu cortada. Imagino que agora meus olhos eram reflexos dos seus e mostravam também tudo o que eu sentia naquele instante.
"Eu não aguento mais brigar," foi o que Gizelly disse depois do silêncio de sons que se instalou naquele quarto. Sim, silêncio de sons, porque nossos olhares contiuavam se comunicando e infelizmente, não era um diálogo agradável para nenhuma das duas.
"Eu não sei mais como resolver isso," foi minha vez de responder com palavras, enquanto levava minhas mãos até a minha cabeça, sentindo que a mesma ia explodir a qualquer momento.
"Eu sei que o que eu vou falar agora pode parecer injusto," ela disse e isso fez com que meus olhos voltassem a buscar por ela. "Mas eu sinto que estou numa relação contigo, onde quem decide por nós duas é você e ele, Rafa," ela falou com a voz baixa e aquilo fez um nó se formar em minha garganta. "O que a gente construiu com tanta cumplicidade, paciência e..." ela pausou quando meus olhos saíram dos seus. "Amor..." ela continuou alguns segundos depois, mesmo quando eu não devolvi seu olhar. "Que o que a gente construiu assim está se desgastando simplesmente para suprir uma necessidade mesquinha do seu ex."
Aquilo sim fez com que eu voltasse a encará-la, agora também resgatando um pouco da minha irritação anterior.
"Eu não faço nada disso por ele," falei mais rispidamente do que eu queria.
"Eu sei que não, Rafaella, meu Deus!" Gizelly disse em um tom de voz frustrado, levantando seus braços como se pedindo paciência, calma ou algo similar para uma entidade maior. "Eu sei que você acha que toma todas essas decisões pela Larissa, mas o que eu não consigo entender é como você não percebe que cada vez isso parece mais com Pedro estar usando essa situação para manipular você do que preocupação com a sua filha!" Gizelly falou aquilo em um tom de voz um pouco alto por sua alteração e isso fez com que meus olhos arregalassem.
"Fala baixo, Gizelly, Deus me livre a Larissa escute algo disso!" falei em uma espécie de grito e sussurro.
"Um dia, infelizmente, ela vai acabar sabendo o tipo de pai que ela tem," Gizelly resmungou num tom de voz tão baixo que eu realmente só ouvi porque a casa estava em total silêncio. E eu, agora relembrando esse momento, sei muito bem o que ela quis dizer com isso. Entendo agora que, Gizelly falava sobre Pedro e Larissa nesse momento, mas ao mesmo tempo também falava dela. E ela, mais que ninguém, sabia que por mais que o restante do mundo inteiro tente te proteger, uma hora as atitudes dos pais acabam afetando seus filhos.
Mas nesse momento eu não pensei assim. Talvez movida pela frustração das constantes brigas por aquele assunto, talvez pela irritação que aquela conversa havia causado ou talvez até por eu ser a maior idiota do mundo, me deixei acertar em cheio por aquelas palavras.
"Ele pode não ser perfeito, mas ele é o pai dela!"
E talvez tenha sido a maneira com que eu disse essas palavras, como se esse título desse uma importância a Pedro que Gizelly nunca teria. Como se, de mil e uma maneiras desde que ela entrara em nossas vidas, Gizelly não tivesse conquistado o espaço dela na vida de Larissa, que sim, talvez nunca tivesse o mesmo peso que o meu e que o de Pedro, mas que era tão valioso quanto.
E eu me arrependi na hora. Me arrependi, porque apesar das minhas palavras não terem sido exatamente duras, eu tinha tido a intenção de dizer realmente aquilo que Gizelly entendeu pela forma que ela se levantava da minha cama (da nossa cama) e buscava suas coisas para sair dali o mais rápido possível.
"Gi," eu tentei pará-la na porta do quarto, mas ela se desvencilhou das minhas mãos, me olhando de uma maneira dura, fria e quebrada ao mesmo tempo. De uma maneira que nunca antes ela havia olhado para mim. De uma maneira que eu nunca imaginei que a faria sentir.
"É mais fácil desculpar palavras que sentimentos, Rafa."
E com essas palavras ela se foi, me despindo de qualquer argumento que eu tivesse, porque ela tinha razão. E como aquela discussão não tinha sido nada comum, com trocas de palavras nada comuns e certamente, com sentimentos incomuns, o dia amanheceu. O dia amanheceu e ela não estava ali.
A.N.:
Oi, bbs! Saudades (hehehe)
Não me matem por sumir e não me matem por esse capítulo também.
Volto em breve.
Até o próximo, boiolinhas!
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FanfictionGiRafa AU (Universo Alternativo) Sinopse: Rafaella era uma influecer de 25 anos, casada com um cantor sertanejo de sucesso chamado Pedro Neto. Os dois se casaram quando ela tinha 20 anos e juntos tinham uma filha de 3 anos chamada Larissa. Apó...