97. Megera

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POV GIZELLY

Faziam alguns dias que Rafaella se mostrava ainda mais angustiada que antes. Era difícil vê-la tão aflita e estressada. Ela tentava ao máximo não demonstrar como as coisas a estavam abalando na frente de Larissa, e até mesmo na minha. Várias vezes durante isso tudo, eu sentia a fagulha da culpa se acender em mim, mas os exercícios com meu psicológico me ajudavam a desviar o foco. Ainda estava no início da minha jornada de saúde mental, mas não podia negar que já me sentia mais em controle das minhas próprias emoções. E isso era muito bom, principalmente na situação em que estávamos. Rafaella precisava de mim para ser seu apoio nesse momento.

A mídia a estava bombardeando por todos os lados e a família de Pedro — lê-se Rosana — tentava a todo momento desestabilizar ainda mais a minha namorada com ligações e insinuações sem fundamento. Rafaella estava sendo paciente com a mulher por conta de Larissa, mas eu via que ela estava chegando a beira de um colapso.

Eu conseguia ver as sombras escuras embaixo dos seus olhos antes que ela as pudesse cobrir para um novo dia. Eu podia ver seus sorrisos cansados e forçados na mesa do café da manhã. Era difícil pra mim, mas eu me sentia impotente, porque não havia nada que eu pudesse fazer. Rafa, Marcella e a equipe delas decidiram que o melhor a fazer era continuar trabalhando e não dando ideia aos rumores. Rafaella não queria me expor na mídia, pois sabia que não era algo que me interessava, mesmo que eu já tivesse dito que, por ela, eu sim o faria.

Eu estava trabalhando de home office no apartamento de Rafaella enquanto reparava Larissa. Era uma tarde na semana posterior a nossa foto sair no Instagram quando Rosana interfonou. Eu fiquei sem  saber o que fazer. Não poderia deixar a mulher subir se Rafaella não estava, poderia? Mas parte de mim tinha muito o que queria falar para aquela víbora.

"Ricardo, você pode avisar a ela que a Rafaella não está," respondi enfim ao porteiro, controlando meus impulsos protetores.

Eu ouvi Ricardo tentar falar algo do outro lado do interfone, mas não consegui entender direito antes de uma espécie de comoção acontecer.

"Dona Gizelly, a senhora me desculpe, mas a senhora Rosana está subindo. Eu tentei impedir, mas ela..." o coitado do porteiro falou, ainda atônito do que quer que a outra mulher tenha feito para conseguir subir sem ser liberada.

Suspirei alto, tendo os meus próprios sentimentos de espanto com a audácia da mulher.

"Tudo bem, não tem problema, Ricardo," falei rapidamente, tentando assegurar o homem antes de pensar no que faria a seguir.

Pensei em ligar para Rafaella, mas não sabia como ela reagiria, e parte de mim também não queria adicionar ao seu estresse nesse momento. Ela estava tendo reuniões e testes praticamente todos os horários úteis dessa semana. A escolha foi tirada de mim, no entanto, quando a campainha do apartamento tocou.

Instintivamente olhei pro corredor, onde eu sabia que Larissa estava em seu quarto. Ela tinha acabado de dormir ao meu lado no sofá e eu a havia levado para a cama para poder trabalhar um pouco enquanto ela dava seu cochilo vespertino. Torcendo pra Larissa não acordar, respirei fundo e caminhei até a porta, colocando minha máscara de imparcialidade e abrindo a porta.

"Eu devia imaginar que você estaria aqui," foram as palavras que me receberam assim que abri a porta do apartamento. Os olhos azuis da mulher brilhavam com um misto de desprezo e raiva. "Rafaella não satisfeita em fazer meu filho passar vergonha nacionalmente beijando mulher, ainda tem a cara de pau de enfiar a advogadazinha dela na casa da minha neta!"

Eu esperei a mulher terminar de falar e, controlando todos os meus instintos, a encarei com uma feição imparcial. Eu sempre disse que para ser advogada era necessário ser um pouco atriz, então eu fingi que ela não havia me abalado com suas palavras.

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