104. Acima da água

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POV RAFAELLA

Na semana que se iniciou, as coisas mudaram completamente de novo. Marcella e minha assessora de imagem estavam recebendo várias ligações depois que eu acabei me assumindo, com todas as palavras, na entrevista com Matheus. Eu, honestamente, estava surpresa. Eu sabia como o meio midiático podia ser preconceituoso, ainda mais em Goiânia, mas as coisas estavam se mostrando diferentes.

Marcella, que lidava com meus contratos e parcerias com empresas, estava recebendo propostas para eu aliar com várias empresas. Obviamente que isso estava ligado ao fato dos fãs terem surtado nas redes e o engajamento com meu nome e de Gizelly estar nas alturas.

"Eu sei que você não gosta de colocar sua vida pessoal no meio da sua carreira, Rafa, mas como foi meio sem querer, eu acho que você deveria dar uma entrevista," Marcela falou e Joana, a minha outra assessora, concordou.

"Concordo, Rafa. Apesar do buzz está sendo extremamente positivo, ainda existem muitos meios que estão distorcendo as histórias e espalhando suposições, já que você não deu muitos detalhes..." Joana de repente parou de falar e eu vi que foi por conta de um olhar duro que Marcella lançou a ela.

"O que foi isso? O que vocês estão me escondendo?" eu quis saber.

"Rafa..." Marcella começou em um tom protetor que eu não gostava nada

"Má, eu sei que você faz tudo pensando em mim, mas essa é a minha vida. Eu preciso saber de tudo," insisti e vi a expressão de derrota em seu rosto. Ela sabia que eu tinha razão.

"Ok, a gente não queria que você soubesse, mas também sabíamos que não ia demorar pra você descobrir. É que você estava tão feliz depois de tanto tempo abatida..." minha prima disse, se cortando no meio da frase. Eu sorri abertamente para ela, levando minha mão para tocar a sua sobre a mesa.

"Obrigada, meus amores. Eu sei que vocês se preocupam comigo e eu sou muito grata por ter as duas ao meu lado nesse período difícil," falei, tentando mostrar minha gratidão com minhas palavras e meus olhares. "Mas vocês me conhecem, eu sou forte. Então podem me contar."

"O Pedro está sendo anunciado para dar uma entrevista na sexta," foi Joana quem começou.

"Ok?!" falei, sem entender.

"É naquele programa do gazeta Goiânia que é super sensacionalista," Marcella continuou. "Você sabe, aquele que o apresentador tem opiniões ridículas..."

Eu sabia bem qual era o programa que elas falavam. Era um local, onde passavam matérias que acabavam sempre ridicularizando alguém. Lembro que eu e Pedro odiavamos aquilo alguns anos atrás.

"Mas Pedro odeia esse programa e esse apresentador," falei, me sentindo ainda mais perdida.

"É, mas você sabe quem ama, né?"

"Rosana," falei sem emoção na minha voz, já revirando meus olhos. Tudo o que eu conseguia sentir por aquela mulher era ressentimento.

"Sim, Rafa e ele não vai lá falar sobre música..." Marcella disse me olhando, como se pedindo para eu entender para ela não ter que explicar em voz alta.

Eu finalmente entendi e meus olhos se arregalaram enquanto meus joelhos perderam as forças e eu acabei me sentando no sofá da sala do escritório de Marcella, como se eu fosse um saco de batatas.

"Ele vai falar da gente..." saiu fraco.

"É o que a gente acha," Joana falou em tom delicado.

Eu passei alguns segundos repassando a ideia de ter meu relacionamento falido com Pedro e minha vida pessoal ainda mais exposta na televisão aberta. Meu ex marido, com certeza, não tinha a mínima intenção de medir suas palavras em relação a tudo, se ele havia escolhido aquele programa em específico.

"Eu não entendo," falei com a voz fraca. "Estava tudo bem entre a gente. Essa era a única parte de toda essa complicação que estava bem."

Neguei com a cabeça, lembrando de quando ele me deixou ter guarda unilateral de Larissa e ficar com os imóveis que eu havia pedido no divórcio e até alguns a mais. Pensei nas conversas rápidas que havíamos tido nas últimas semanas, nele indo buscar Larissa para um passeio ou outro. Não era muito, mas era algo. Eu achava mesmo que era o início de uma nova relação saudável para mim, para ele e principalmente para Larissa.

"Vocês conversaram sobre a Gizelly?" minha prima perguntou. Joana já estava a par de tudo e era de confiança, então não me preocupei em ter essa conversa na frente dela.

"Nunca surgiu o assunto. Você acha que é isso?" perguntei e logo me senti burra, claro que era isso.

"Ele pode não ter se pronunciado diretamente, Rafa, mas alguns posts nas redes sociais dele geraram burburinhos," Joana respondeu, já pegando seu aparelho celular para provar o que estava falando.

Os twits que o meu ex marido havia postado em consecução, variavam de decepcionados para um outro extremo preocupante, vingativo. Mas o pior de tudo eram as curtidas dele. Algumas ensinuavam coisas fortes, como eu sendo uma mãe inapta, que estava no caminho da perdição e etc. Meus olhos começaram a marejar e meu coração apertou no peito.

"Desculpa, Rafa, eu não queria te fazer sentir assim," Joana falou ao meu lado. Sua cara mostrava que ela se sentia péssima.

"Não, Jô, a culpa não é sua," falei enxugando minhas lágrimas com as pontas dos dedos. "Eu preciso fazer uma ligação," falei, já me levantando e indo em direção a porta da sala, sem nem mesmo olhar para trás.

Andei passos rápidos até o final do corredor, onde a minha sala ficava e fechei a porta atrás de mim, me apoiando na mesma. Minhas emoções já estavam fora do meu controle e as lágrimas escorriam livremente pelo meu rosto. Tirei meu celular do bolso da minha calça com mãos trêmulas e disquei o único número possível.

"Oi, meu amor," a voz animada de Gizelly soou do outro lado da linha. "Tô atrasada para o nosso almoço? Desculpa, nem vi o tempo passar..." ela continuou falando e eu não resisti, acabei soltando um soluço enquanto o meu choro se intensificava. "Rafaella, amor, o que está acontecendo? Você tá bem?" sua voz agora extremamente preocupada.

"Vem me buscar, preciso de você," pedi.

"Você tá no escritório ainda? Tô indo," Gizelly respondeu sem nem pestanejar.

Por que a minha vida tinha que ser assim tão fora do controle? Eu sentia como se a felicidade estivesse nas minhas mãos em um segundo, apenas para ser arrancada em outro. Por que as pessoas não podiam simplesmente me deixar viver? O que eu havia feito de tão errado além de buscar minha felicidade da melhor maneira que pude?

Eu era forte sim, mas a maresia de altos e baixos na minha vida, estavam me consumindo. E eu estava cansada de não saber quanto tempo eu tinha para respirar em paz ou quando ia me afogar de novo.

"Não demora," pedi mais uma vez ao telefone, ainda chorando muito. Gizelly não havia desligado e eu sabia que ela não iria.

"Tô indo, meu amor. Respira fundo. Eu tô aqui... Eu tô aqui."

E esse era o único motivo de eu ainda estar acima da água.

Notas da autora:

Bom dia, boiolinhas!

Eu não aguento mais a Rafa sofrendo, eu juro. Mas tá acabando, prometo 🥺🥺

Até o próximo!

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