31. Buscando respostas

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Rafaella não estava conseguindo pensar direito. Tudo o que ela queria era ir em sua casa, arrumar suas coisas e de Larissa e sair dali. Por um momento, tudo o que fez até aquele ponto —movida por medo do que Pedro faria se descobrisse que queria se separar —, pensou em jogar pro alto. Mas sabia que não podia. Sabia que tinha que agir racionalmente. Foi assim que se viu em frente ao apartamento de Manoela.

Larissa dormia em sua cadeirinha alta na traseira do carro quando Rafa percebeu que não conseguiria subir com tudo o que tinha em mãos. Ela havia passado na casa que divida com Pedro, apenas para pegar seu carro e algumas coisas para Larissa, já que havia deixado tudo na fazenda.

Pegou seu celular, ainda com as mãos trêmulas por conta do turbilhão de sentimento que estavam borbulhando dentro de si, e discou o número de Manoela. O telefone chamou algumas vezes antes de ser atendido.

"Oi, Rafa!" a voz animada da amiga fez com que o corpo da mineira relaxasse um pouco e um suspiro de alívio escapou seus lábios.

"Manu, eu tô aqui embaixo e eu tô precisando de vocês, eu trouxe muita coisa e não consigo subir sozinha e..." ela falava muito rápido, ainda estava nervosa e a voz ainda continha resquício do choro anterior, o que Manoela prontamente percebeu.

"Eu vou falar pra Gizelly descer. Eu não estou em casa, mas vou agora mesmo," Manu disse rapidamente.

"Tá," foi a resposta de Rafa antes da ligação ser finalizada.

Rafaella se pegou pensando em quais seriam seus próximos passos quando ouviu uma batida no vidro do carro. Gizelly a olhava com um sorriso gentil do outro lado da janela.

A mineira abriu a porta e saiu do carro.

"Você pode me ajudar a subir as coisas? A Larissa está dormindo e eu não queria acordá-la."

Rafaella não olhou nos olhos da advogada nenhuma vez sequer e tentou fazer tudo o mais rápido possível, antes que voltasse a desabar em frente ao prédio de Manoela. Gizelly percebendo que alguma coisa não estava certa, decidiu seguir os passos de Rafa.

Estava claro para a capixaba que a mineira não estava bem. A mulher tinha cara de quem havia chorado recentemente e toda sua postura era de agonia. Antes que a influencer pudesse pegar sua filha no colo, Gizelly a interrompeu com um toque leve em suas mãos.

"Por que eu não levo ela e você leva a mochila e bolsa?" a advogada ofereceu gentilmente e Rafaela hesitou um pouco, mas concordou. Talvez fosse melhor Gizelly levá-la, ela ainda estava se sentindo um tanto trêmula.

Gizelly tirou o cinto protetor que circulava o corpo da menina e gentilmente a pegou em seus braços. Larissa se moveu um pouco e a advogada ficou estática, com medo de acordá-la. Quando pareceu que encontrara uma posição confortável — seu rosto encaixado no vão do pescoço de Gizelly —, Larissa voltou a dormir em um sono tranquilo.

A capixaba sorriu para Rafa que observava a cena com uma expressão esquisita.

"Você vem?" Gizelly perguntou esperando na porta do prédio. Rafaella enfim se apressou e pegou a mochila de Larissa e sua bolsa seguindo a advogada.

O caminho até o apartamento foi silencioso. Gizelly abriu a porta para Rafa e disse que colocaria Larissa para deitar em sua cama. A influencer concordou, deixando as coisas sobre a mesa de jantar e caminhando até o sofá. Ela estava perdida em seus pensamentos quando sentiu a presença de Gizelly ao seu lado.

"Pensei que ia querer," disse a capixaba a oferecendo uma xícara de café.

"Você já me conhece bem," respondeu aceitando o objeto e retribuindo um sorriso um tanto forçado.

"Quer falar ou quer que fiquemos em silêncio?" foi o que Gizelly perguntou em seguida e isso fez a mineira a encarar. Era uma pergunta simples, mas muito atenciosa.

"Acho que o silêncio e sua presença já seriam o suficiente por agora," Rafa se viu dizendo aquilo com sinceridade e a advogada apenas concordou com a cabeça, se sentando ao lado da mineira no sofá.

Elas passaram alguns minutos caladas. Rafaella perdida em seus próprios pensamentos enquanto tomava lentamente do líquido amargo e Gizelly  tentando observar a mulher ao seu lado discretamente.

Assim que Rafa terminou o café, depositou a xícara sobre a mesa de centro e se virou em direção a Gizelly.

"Eu vou querer seus conselhos como advogada em breve, mas agora eu posso te pedir outra coisa?" a fragilidade na voz da mais alta fez o coração da advogada apertar no peito. Gizelly apenas concordou. "Eu posso?" Rafaella apontou para as pernas da capixaba que entendeu prontamente qual era o pedido.

"Claro, Rafa," ela respondeu se acomodando para que a mineira deitasse com a cabeça sobre seu colo. Assim que ela o fez, Gizelly ignorou todos os sentimentos confusos que aquela proximidade trazia a ela, e levou suas mãos aos cabelos de Rafaella, iniciando um carinho.

A advogada fingiu não notar, mas em poucos minutos, Rafa chorava em seu colo e tudo o que Gizelly queria era fazer o que quer que fosse parar de doer.

Gizelly deslizou a ponta de seus dedos até o rosto de Rafa, limpando algumas de suas lágrimas, o que fez a mineira a olhar.

Os olhos de Gizelly tinham um brilho diferente. Neles estavam refletidos carinho, afeto, admiração. Os olhos verdes se perderam nos castanhos. Por um breve momento tudo foi calmaria, silêncio. Naquele breve instante, tudo fez sentido e também não fez.

Rafaella se levantou tão lentamente, que foi impossível para Gizelly não reparar em cada micro gesto que levou o rosto da morena a ficar a centímetros do seu.

POV GIZELLY

Os olhos grudados nos meus ainda brilhavam das lágrimas recém derramadas. As bochechas ainda estavam coradas do choro, assim como a ponta do nariz. A boca estava entreaberta.

Minha cabeça estava em branco, nenhum pensamento entrava e nem saia. Era tudo sentidos. Sentia sua respiração tocar meu rosto, sentia o cheiro de seu hálito fresco misturado com o perfume feminino. Sentia o calor da sua mão em minha coxa, apoiando o peso de seu corpo.

Eu não sabia o que estava acontecendo. Um momento ela estava em meu colo recebendo consolo e em outro seu rosto estava colado ao meu.

"Raf..." eu ia falar, mas sua boca tocou a minha.

Foi um toque rápido, incerto. Nossos olhos ainda estavam presos um nos outros. Era como se ela buscasse alguma resposta me olhando daquele jeito. Assim que fui buscar minhas próprias respostas, a sua boca colou de novo na minha. Ela envolveu meu lábio inferior entre os seus, em uma pressão forte o suficiente apenas para eu fechar meus olhos e levar minha mão até sua nuca.

De repente as nossas bocas estavam se movendo em sincronia e tudo o que eu conseguia pensar, era em como o seu gosto era incrível.

Senti seus dedos se envolverem em meus cabelos e de repente não conseguia mais pensar em nada novamente, só sentir.

Notas da autora:

Hoje não tenho nada pra dizer...
Só sentir.

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