112. GiLari

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POV GIZELLY

Evitar Rafaella era uma tarefa difícil, apesar de sentir que me faltava o ar quando lembrava da ultima vez que estivemos juntas. O significado por trás das suas palavras para mim aquela noite haviam me ferido de uma maneira diferente. Eu não precisava de lembretes de que Pedro era o pai de Larissa, ainda mais nas ultimas semanas onde tudo na nossa vida parecia girar em torno dele. Eu, assim como Rafa, queria muito que ele fosse o pai que aquela menina merecia. E Deus sabe que ela merecia um pai maravilhoso. E eu também sabia muito bem até onde era o lugar que eu poderia tomar na vida de Larissa, e apesar de tudo, eu também tinha certeza de que era um papel muito maior do que aquele que Rafaella me fez sentir ter naquela noite.

Me doeu até a alma deixar aquele apertamento. Antes de sair, encarei o corredor, pensando seriamente em ir no quarto de Larissa para lhe ver mais uma vez, nem que fosse alguns minutos, porque eu sabia que talvez demorasse a vê-la e naquele instante, a saudade dela já era imensa em mim. Mas por medo de acordá-la e me sentindo menor do que jamais me senti entre aquelas paredes, saí dali sabendo que deixava para trás a melhor parte de mim. 

Cheguei no apartamento que dividia com Manu (mas que particularmente já não era a minha casa fazia algum tempo) e fui diretamente para o meu quarto, agradecendo que minha amiga não estava em nenhuma das áreas comuns, porque realmente não tinha forças para lhe explicar o motivo da minha presença ali, naquela hora e naquele estado.

Me joguei na cama que já não via a minha presença fazia mais de semana e encarei o teto, deixando as lágrimas rolarem livremente pelo meu rosto. Eu tentava não pensar para não me pôr ainda pior, mas meu coração doía. Fazia sentido sofrer por algo que eu já sabia? Eu nunca seria a mãe de Larissa.

Manoela obviamente descobriu a minha presença no apartamento no dia seguinte e como era do seu jeito, me deu espaço até eu me sentir bem em compartilhar com ela o que havia passado. Para falar a verdade, eu contei o que tinha acontecido, mas acabei deixando de contar a ela o que realmente me doía, a conclusão da noite anterior. Isso eu imaginei que deveria guardar só para mim.

Passei aquele dia pensando em Rafaella e Larissa. Me perguntei se Rafaella teria tomado café da manhã direito, no lugar de só tomar café puro e passar sabe Deus quantas horas sem se alimentar. Me questionei se Larissa perguntaria pela minha ausência, ao mesmo tempo que me preocupava se Rafa lembraria que aquela quinta-feira era a vez de Larissa levar um jogo da sua escolha para a atividade divertida do mês, que sua professora promovia. Sabia que sim, afinal Larissa tinha costume de questionar minha ausência nas raras vezes que acontecia, depois da minha ida para Vitória aquela vez, e sabia também que Rafa lembraria de todas as coisas relacionadas a Larissa, porque bem, Rafa era uma mãe excepcional.

Não foram poucas as vezes que pensei em responder uma mensagem de Rafa ou até de atender uma de suas ligações, mas foi na terapia, que Rafaella mesmo havia me incentivado e apoiado em fazer, que eu havia aprendido que devia me priorizar. E naquele momento, por mais que me doesse muito não responder as diversas tentativas de contato dela, eu devia isso a mim mesma. Eu tinha que impor meus limites até que eu estivesse bem o suficiente para encarar aquela situação e era isso que eu faria.

Isso no me impediu, no entanto, de dirigir até a escola de Larissa naquela manhã de quinta-feira. Eu não queria passar de nenhum limite, que agora estavam pela primeira vez, tão confusos para mim, mas eu havia feito uma promessa e eu nunca havia quebrado nenhuma até aquele momento e não seria agora que eu o faria. Mesmo insegura com o que pensaria Rafaella, entrei na escola quando eu sabia que a aula já havia começado, exatamente para não ter que cruzar com Rafa (ainda não me sentia pronta) e fui até a sala de Larissa, levando em mãos o que eu e a menina havíamos passado horas conversando sobre.

Como o meu nome estava listado como uma das responsáveis por Larissa e todos ali me conheciam, me deixaram entrar sem nenhum problema. E eu, mesmo um pouco tímida, bati levemente na porta, tentando chamar a atenção de Amélia, a professora de Larissa. Não demorou muito para que a porta se abrisse e eu tentei ficar fora da visão da turma, para não atrapalhar ainda mais a aula do que eu já estava fazendo.

"Bom dia, Amélia. Desculpa interromper a aula," falei em tom baixo, um pouco tímida. A professora apenas sorriu para mim, fazendo um gesto, como se não tivesse problema algum. "Eu apenas vim deixar o jogo que Larissa deveria trazer hoje," falei lhe entregando a caixa. 

Amélia pegou a caixa de minha mão, mas agora parecia confusa.

"Tudo bem, mas a Larissa trouxe um outro jogo," a professora falou.

"Eu sei, mas esse era o que ela realmente queria trazer. É que eu não tinha encontrado onde comprar antes," respondi, dizendo parte da verdade. Eu realmente havia demorado a encontrar o tal jogo que Larissa havia visto em alguma dessas propagandas entre seus desenhos prediletos na televisão, mas obviamente, o motivo de eu o estar entregando apenas naquele momento, era outro.

"Ah, claro!" a mulher falou abrindo um sorriso. "Com certeza ela vai ficar muito feliz, então. Eu vou chamá-la..." Amélia falou e antes que eu pudesse interrompê-la, dizendo que não era necessário, ela já havia chamado Larissa até a porta.

A menina, que até o momento ainda não havia me visto, esbugalhou seus olhos e abriu um sorriso gigante quando viu que era eu quem a esperava do outro lado da porta.

"Titchela!" Larissa gritou, empolgada, correndo na minha direção.

Eu, sem nem pensar, como um gesto automático entre nós, me agachei um pouco para aparar seu corpo no meu em um abraço apertado. Seus braços curtos envolviam meu pescoço, enquanto eu lhe levantava no colo.

"Ei, mini Rafa," falei com meu rosto em seus cabelos, sentindo meu peito inflar em poder vê-la enfim, mesmo que só depois de poucos dias. "Eu vim trazer o jogo que você escolheu," falei quando ela se afastou um pouco em meus braços.

Eu pensei que ela saltaria do meu colo e iria diretamente procurar o tal jogo, porque essa era a sua reação natural quando ganhava uma coisa que queria tanto, mas para a minha surpresa, ela levou suas mãos pequenas para cada um dos lados do meu rosto, o segurando entre elas.

"Você vem ver desenho comigo hoje?" ela me pediu, como se fosse um dos pedidos mais sérios que já fez na vida. E era. Porque, mesmo na sua inocência, aquele pedido significava muito mais que aquilo.

Eu não saberia explicar o que eu senti naquele momento, mas com certeza foram muitos sentimentos misturados, mas o que se destacava, sem sombra de dúvidas, era o amor que eu havia construído por aquela menina. Um amor diferente de qualquer um que eu já havia sentido na vida. E sem nem pestanejar, eu respondi:

"Sempre que você quiser, mini Rafa. Sempre," prometi a apertando em meus braços.

E aquela promessa eu também não tinha mínima intenção de quebrar.

A.N.:

Meu Deus, eu sofri escrevendo esse capítulo. Eu AMO GiLari!!!

Espero que tenham gostado da maratona.

Em breve volto com mais. Até o próximo, boiolinhas!

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