60. A realidade que eu quero

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POV GIZELLY

A luz entrava por entre o vão da cortina entreaberta e refletia em seus cabelos espalhados pelo cobertor azul bebê. As mexas mais claras e escuras se mesclavam em uma combinação que, naquele momento, tinham a minha total atenção. Eu não entendia o porquê da repentina necessidade de tomar todos os detalhes de Rafaella, mas era isso que eu fazia naquele momento. Eu desenhava com meus olhos cada curva, traço e minúcias da sua figura, como se a pintando em mim.

Ela se moveu um pouco em seu sono tranquilo e eu observei o lençol deslizar sobre seu corpo, deixando à mostra praticamente toda a sua costa desnuda. Tive que me segurar para não traçar meus dedos em seu corpo. Optei por apenas me virar ainda mais na sua direção e continuar a minha observação.

Meus olhos passaram pelos tracejados artificiais em sua pele, àqueles que eu passei a noite inteira acariciando com minhas mãos e boca, enquanto Rafaella me contava as histórias por trás deles. Tinha sido um momento tão íntimo. Não o toque, mas o modo como ela se abriu de maneira tão vunerável e ao mesmo tempo entregue. Era como se na noite anterior, ela tivesse me mostrado o de mais íntimo que ela tinha. E eu nunca me senti tão lisonjeada.

Rafaella tinha umas pintas naturais espalhadas entre as suas omoplatas. Elas eram pequenas e em tons claros, o que me fez pensar que poucos sabiam de sua existência. Dessa vez, não resisti e as toquei com as pontas dos dedos. Deslizei meus dedos ali e senti o corpo de Rafaella se movimentar. Não parei com as minhas carícias, no entanto.

"Ainda não cansou de mim?" ouvi sua voz rouca de sono, enquanto sua mão procurava cegamente a minha, já que ela ainda permanecia deitada de costas para a minha direção.

Acabei com a sua procura, levando minha mão que estava em sua costa até segurar a que ela me oferecia. Rafa me puxou sem força por ela e eu entendi o que ela queria. Aproximei meu corpo do seu, até que minha frente ficasse totalmente colada às suas costas e a abracei por trás.

"Hum," soltou em aprovação à nossa nova posição.

O que eu havia percebido nessas duas semanas que estávamos oficialmente juntas, era o quanto Rafaella amava estar em contato comigo. Principalmente quando estávamos a sós. E é claro que eu amava tê-la perto também, era como se ela recarregasse as minhas baterias. Rafaella tinha se tornado, inegavelmente, meu porto seguro.

Encaixei meu rosto em seus cabelos e aproveitei o seu calor. Eu não tinha nada que queria dizer naquele momento. Ela sabia que eu preferia mostrar do que dizer e parecia contente com isso.

Acabei me sentindo tão em paz que devo ter dormido de novo, pois me assustei um tempo depois com o toque estrondoso do celular de Rafa.

"Que droga," ela resmungou, ainda sonolenta, esticando sua mão para buscar o celular no móvel ao lado da cama. Eu a soltei em meus braços, dando espaço para que ela se movesse.

Continuei com meus olhos fechados, enquanto a sentia se movimentar na cama. Passaram alguns segundos com ela em silêncio até que senti seu toque em meu rosto.

"Bebê," ela me chamou. Eu respondi com um "hum" abafado pelo travesseiro. "Eu tenho que levantar. Era a Má no telefone e ela está marcando uma reunião urgente. Mas você pode ficar deitada aqui se quiser," ela disse ainda acariciando meu rosto.

Me forcei a abrir um dos olhos para encará-la.

"E a Lari?" perguntei. Sabia que ela tinha que ir buscar a menina na casa dos avós paternos naquela manhã.

"Eu vou buscá-la e a deixo com a minha mãe," ela falou se levantando da cama. "Quer dizer, vou torcer para que ela possa, né? Não estava programado. Eu odeio ficar dependendo dela assim. Preciso mesmo achar alguém que me ajude," ela foi dizendo enquanto ajeitava alguma coisa pelo quarto.

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