88. Meus lugares

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POV GIZELLY

No início daquela semana eu havia encontrado um ótimo lugar no centro de Goiânia para instalar meu novo escritório. Não era nada muito grande, muito menos luxuoso, pelo contrário, parecia muito com o primeiro que eu e as meninas abrimos logo depois de formadas. Para alguém de fora podia parecer um retrocesso, mas pra mim era eu tomando coragem de ir atrás da minha felicidade. Eu tinha força de vontade e experiência para recomeçar, não deixaria as coisas me abalarem tão facilmente.

Marcella, a prima e assessora comercial de Rafa, havia me ajudado a encontrar o lugar e também disse que me ajudaria com meu cartão de visitas, além de dar meu nome para algumas pessoas que ela conhecia. Fiquei sem graça no início e agradeci muito, mas ela me calou com um abraço espontâneo e algumas palavras que eu não entendi muito bem, mas que soaram muito com "continue fazendo elas felizes". Eu teria que conversar com Rafaella sobre isso.

Rafaella queria me auxiliar financeiramente a mobiliar o escritório e me ajudar a dar meu começo, mas eu neguei. Ela já pagava meus honorários em relação ao seu caso e eu ainda tinha algum dinheiro guardado, além de alguns bens que pretendia vender na minha viagem para o ES. A verdade é que antes de vir para Goiânia, eu vivia como uma viciada em trabalho, então eu tinha uma vida financeira confortável, não tendo tantos gastos assim.

Manoela se ofereceu para ir comigo pra Vitória, para que eu não voltasse dirigindo sozinha até Goiânia, algo que estava preocupando minha namorada mais que o normal. Ela não poderia fazer a viagem comigo, pois estava bastante enrolada no trabalho. Eu não me importava em viajar sozinha, mas fiquei feliz com a companhia.

Eu iria uma semana antes de Manu, porque ainda tinha muitas coisas para resolver. Eu tinha que arrumar um corretor para lidar com meu apartamento, além de resolver coisas do escritório e aproveitar para ver como estavam Carlinhos e sua família.

Eu acabei apressando a minha viagem, porque a nova audiência de Rafaella tinha sido marcada para daqui um mês e eu não queria que nada ficasse na frente disso. O divórcio dela e garantir a guarda da Larissa eram minhas prioridades, obviamente que porque eu queria ver Rafaella feliz, mas devo confessar que eu também não conseguia mais imaginar a minha vida sem Larissa.

Assim que cheguei em Vitória, não tive tempo pra nada. Passava o dia no escritório resolvendo as burocracias necessárias para sair da sociedade com as meninas sem causar nenhum tipo de inconveniente a elas. No horário de almoço, eu me encontrava com o corretor que Taís havia me indicado e resolvia outras coisas pendentes. Marquei de passar aquele final de semana com minha família em Piaçu e contar a novidade. Queria muito poder levar Rafaella e Larissa comigo, sabia que minha família ia amar Rafaella e babar por Larissa.

Todas as noites eu falava com Rafa, como era normal, e adicionamos à nossa rotina de distância as minhas conversas diárias com Larissa. Ela gostava de me falar sobre o seu dia e me encantava ouví-la e matar a saudade também.

Quando chegou sexta-feira, eu já tinha resolvido a maioria das coisas no escritório e empacotado a maior parte dos meus pertences com a ajuda de Dona Marcele, que assim que soube, tinha insistido em ir me ajudar. Eu tentei negar, porque sabia que ela já estava muito ocupada com sua própria vida, além de ajudar Carlinhos — que estava em casa recebendo tratamento totalmente pago pelo governo —, mas a mulher insistiu.

Estávamos empacotando as coisas da minha cozinha, quando ela falou algo que me surpreendeu:

"Você parece mais feliz, minha filha. Ela faz bem pra você", a mulher disse, fazendo eu largar algumas panelas que colocava em uma caixa para encará-la.

Ela me olhava com olhos doces e um sorriso gentil no rosto. Suas palavras somadas às suas expressões me disseram que ela sabia exatamente do que estava falando. Ela sabia de mim e de Rafa. Não sei porque aquilo me emocionou um pouco e eu senti algumas lágrimas se formarem em meus olhos. Dona Marcele andou passos lentos até mim e me tomou em seus braços.

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