68. O resto...

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POV RAFAELLA

Eu não entendi o que Gizelly quis dizer com "corrigindo meu erro", mas ainda estava tentando assimilar tudo o que estava acontecendo. Aceitei a mão que ela me oferecia e ela me guiou para fora da sala de audiência até onde Manu nos esperava.

"Como foi?" Manoela perguntou se levantando, parecendo ansiosa. "Pedro e Rosana passaram por aqui parecendo furiosos. Na verdade, Rosana parecia furiosa e Pedro parecia o peso morto que ele sempr foi," ela falou a mil por hora, demonstrando seu nervosismo. "Desculpa, Rafa," ela completou de repente.

"Foi tudo como eu imaginei. Ele recusou o caso e vamos esperar uma nova data ser marcada," Gizelly falou me observando com atenção. Acho que porque eu continuava calada.

"Tá tudo bem, Rafa?" Manu me tocou o braço. Balancei a cabeça em confirmação e soltei um suspiro como se tivesse prendendo meu ar até aquele momento. "Melhor a Gi levar você pra casa. Você não tá em condições de dirigir."

Fomos andando até o estacionamento e Gizelly se mantinha um pouco distante de mim. Eu não podia culpá-la, eu estava agindo totalmente estranha. A verdade é que ainda não tinha assimilado a sua presença e nada que tinha acontecido.

Quando chegamos até o meu carro, Manu me abraçou apertado e depois fez o mesmo que Gizelly.

"Vocês conversem e me liguem se precisarem de algo," ela ofereceu, se despendido.

Oferecemos palavras de despedida para Manu e eu percebi que Gizelly me olhava de novo.

"Você prefere que eu vá com ela?" ela perguntou em uma voz pequena. Meu coração se apertou e eu percebi que precisava sair da minha própria cabeça. Neguei rapidamente.

"Me leva pra casa," pedi. Ela sorriu pequeno.

Busquei a chave do carro na minha bolsa e a entreguei, rodeando o carro para chegar até o banco do carona.

Gizelly prontamente deu partida no carro e começou a sair do estacionamento do fórum.

"Me ensina as direções," ela pediu e assim eu fiz. Foram as únicas palavras que trocamos durante todo o trajeto.

Não demoramos a chegar no meu prédio e subir até o meu apartamento. Assim que entramos, eu senti uma espécie de deja vu. Gizelly permaneceu parada próximo a porta de entrada, parecendo não saber o que fazer.

Caminhei até o sofá da sala e me sentei, tirando meus sapatos e colocando meus pés debaixo de mim, em uma posição confortável.

"Vem," a chamei carinhosamente com as mãos.

Ela andou em passos lentos até mim e se sentou ao meu lado. Peguei uma das suas mãos na minha e entrelacei nos sos dedos. Eu não sabia muito bem o que dizer naquele momento, mas queria tocá-la, garantir que ela estava mesmo ali.

Senti seu dedão acariciar as costas da minha mão  e a olhei no rosto. Ela encarava nossas mãos entrelaçadas. Tinha uma timidez nela que eu não reconhecia.

"Eu ainda não acredito que você está mesmo aqui," falei finalmente, a fazendo me encarar.

"Eu não acredito que eu não vim antes," foi sua resposta aflita. "Desculpa, Rafa, eu..." quando as lágrimas começaram a se formar em seus olhos, eu fiquei confusa, mas prontamente a puxei até mim, a envolvendo em um abraço. Seu rosto foi diretamente até o vão do meu pescoço. Ela continuou falando, mas as palavras ficaram abafadas.

Me afastei lentamente dela e segurei seu rosto em minhas mãos, a fazendo me encarar os olhos.

"Você não precisa pedir desculpas," falei com firmeza. "Eu decidi não te contar," afirmei. "E ainda assim você salvou o dia," concluí com um sorriso.

Ela negou a cabeça, fazendo com que eu que eu a soltasse.

"Não, Rafa," ela disse, se levantando do sofá e começando a andar de um lado para o outro na sala. "Você não entende... Eles me avisaram," ela disse parando e me olhando de volta. "Eu não vi porque eu estava tão..."

Eu finalmente entendi o que ela estava tentando dizer e me levantei rapidamente, me pondo a sua frente. Segurei mais uma vez seu rosto com minhas duas mãos, mas dessa vez a calei com um beijo. Não foi nada mais que um toque de lábios, mas eu senti o corpo dela relaxar, então dei um passo, aproximando ainda mais nossos corpos. Beijei seus lábios, depois sua bochecha, sua sobrancelha... Cobri seu rosto de beijos gentis e a cada novo beijo, mais seu corpo relaxava.

Quando eu senti que havia conseguido o que eu queria, eu a puxei para um abraço.

"Não precisa se desculpar, meu amor," falei a chamando tão naturalmente daquilo. Porque era o que ela havia se tornado para mim. Devagar. No tempo certo. Sem eu nem mesma me dar conta no início.

Ela me apertou, retribuindo o abraço e ficamos assim, no meio da sala. Finalmente uma nos braços da outra.

"Você me chamou de 'meu amor'," ela disse de repente, minutos depois.

Quando me afastei para encará-la, vi que ela sorria.

"Você me chamou de 'amor' primeiro, lembra?" retruquei, colocando uma mecha do seu cabelo atrás de sua orelha.

"Eu senti tanto a sua falta," foi a sua resposta.

"Eu também, bebê. Eu sei que já falei isso antes, mas ainda não acredito que você tá aqui de verdade."

Ela colocou nossas bocas em um beijo calmo.

"Acredita," ela disse quando nossos lábios desgrudaram.

Eu observei seu rosto de perto e notei todas as marcas que o estresse das últimas semanas a haviam causado. Seu rosto — que estava sempre sereno e feliz perto de mim — parecia esgotado. Assim de perto, nem mesmo a maquiagem conseguia enganar meus olhos atentos.

Ela pareceu perceber o que eu analisava e tocou meu rosto, fazendo com que eu levasse meus olhos de volta até os seus.

"Eu vou te contar tudo, desde o início," ela prometeu.

"Não precisa, se você não se sentir..." eu comecei, mas ela me interrompeu.

"Eu quero, Rafa. Eu preciso. Eu confio em você e eu não quero nunca mais que isso que aconteceu, aconteça entre a gente. Eu quero saber tudo o que te aflige e quero que você saiba o mesmo de mim. Quero que conheça todas as minhas partes, até aquelas que eu não gosto..."

Eu entendi aquelas suas palavras como insegurança. Ela queria me mostrar tudo, porque tinha medo que eu não fosse aguentar. O que ela não sabia ainda, é que não tinha mais jeito. Eu já estava envolvida. E não tinha nada que ela me mostrasse, que eu não estivesse disposta a ajudar.

"Você quer conversar agora?" perguntei.

"Hoje não. Amanhã?" ela pediu e eu concordei com a cabeça. "Hoje só quero matar a saudade de você e da Lari," ela confessou, rindo.

Sorri quando ela mencionou o nome da minha filha.

"Ela vai amar te ver," falei.

"E eu a ela," ela respondeu.

E eu senti como se as coisas se encaixassem de novo. Eu sabia que nada tinha terminado, mas era um começo. E Gizelly estava de volta. O resto a gente daria conta.

Notas da autora:

Eu prometi, então cumprido!

Atualização da madruga. Não teve momento GiRaRi, mas no próximo terá!

Boa noite/bom dia, boiolinhas!

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