5. Imprevistos

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Gizelly esperava impaciente por Manoela na porta do aeroporto. O vôo da advogada havia pousado em Goiânia às exatas 10h23 da manhã, treze minutos atrasado. Gizelly havia esperado pacientemente até que a fileira de pessoas diminuísse no corredor da aeronave para poder desembarcar e ainda esperou mais um pouco até sua bagagem aparecer na esteira rolante. Durante a espera, a capixaba enviou diversas mensagens a amiga e não obteve nenhuma resposta. Já fazia mais de meia hora desde que tinha saído da área de desembarque e nenhuma notícia de Manoela.

Gizelly estava irritada e perdida. Irritada por motivos óbvios e perdida porque não conhecia nada e nem ninguém naquela cidade e muito menos no estado. O que faria se Manoela não aparecesse?

A advogada já ia buscar se sentar em algum lugar para pensar em uma solução praquela situação em que estava quando seu telefone tocou e um número desconhecido apareceu na tela. Franziu o cenho, pensando de onde seria aquele DDD, mas atendeu mesmo assim. Com a sua profissão não era incomum receber ligações de números estranhos, mesmo em seu telefone pessoal.

"Alô," falou ao telefone.

"Gizelly?" uma voz estranha soou na outra linha. Gizelly era muito boa com nomes, fisionomias e vozes, então sabia que aquela era uma voz desconhecida.

"Sim, é ela," respondeu com cautela. "Em que posso ajudar?" falou se perguntando quem teria passado seu número pessoal. Odiava quando isso acontecia - e olha que acontecia frequentemente. Mesmo a advogada tento três números distintos, - dois deles sendo exclusivamente profissionais -, sempre acabavam ligando pra ela no número pessoal a respeito de trabalho.

"Ah, claro, desculpa," falou a voz que apesar de grave, era claramente feminina. "Aqui é a Rafaella, amiga da Manu. Acho que ela falou de mim..."

Alguém que pode me ajudar nessa cidade, Gizelly pensou aliviada.

POV GIZELLY

"Sim, Rafaella, ela falou sim. E desculpe ser um pouco para frente, mas estou muito feliz que você ligou porque Manoela não veio me buscar no aeroporto e não está me atendendo ou respondendo de jeito nenhum e eu já estava sem saber o que fazer," confessei rapidamente.

Não era muito profissional da minha parte soltar tudo aquilo, ainda mais do jeito tão desesperado que falei, mas a verdade é que eu odiava situações que fugiam do meu controle e um sentimento de ansiedade estava se apoderando de mim naquele momento.

"Oh meu Deus!" a voz um tanto desesperada da mulher me tirou de meus pensamentos e me preocupou um pouco. "Me desculpe! Na verdade é tudo minha culpa, Manu está presa em uma seção de estúdio e eu que fiquei responsável em ir te buscar, só que deu tudo errado na minha manhã. A minha filha teve um acidente na escola e eu tive que vir correndo aqui e aconteceu tudo tão rápido que eu acabei perdendo a hora..."

Rafaella falou tudo tão rápido que eu tive que me esforçar para entender. Ela estava claramente chateada e preocupada pela situação, o que me fez sentir um pouco culpada por tê-la deixado daquele jeito.

"Não, está tudo bem," tentei acalmá-la. "Não tem problema a espera, eu entendo que essas coisas estão fora do controle."

Esperei que a minha resposta fosse o suficiente. Não queria que ela se sentisse culpada, afinal eu entendia.

"E está tudo bem?" perguntei.

"Como assim?" ela me respondeu parecendo estar distraída.

"Com sua filha..."

"Ah, está sim. Ela só havia caído e ralado um pouco o joelho, mas acabou se desesperando muito a ponto da professora ligar," falou suspirando pesado.

Como eu não tinha filhos, não poderia me por nunca no lugar dela, mas imaginei que devia ser um pouco assustador receber esse tipo de ligação, afinal eu sabia através das minhas conversas com Manoela durante as semanas anteriores, que a menina acabara de começar a estudar. Imaginava que Rafaella ainda estava se acostumando com a ideia de deixar a filha na escola sozinha.

"Fico contente," respondi enfim.

"Eu juro que já estou chegando aí pra lhe buscar. 20 minutos no máximo!" ela falou.

"Tudo bem, vou aguardar você na entrada do estacionamento," eu disse e ela concordou antes de desligarmos.

Esperei mais uns 15 minutos dentro do aeroporto antes de caminhar para onde havíamos combinado. O calor que fazia na àrea de fora me fez tirar a jaqueta que cobriam meus braços do frio dentro do prédio. Fiquei, então, apenas com uma blusa social de botão branca fina que enrolei até um pouco abaixo dos meus cotovelos.

Meus cabelos estavam presos em um coque em cima da minha cabeça e eu tinha meus óculos de grau no rosto. Eu não sabia que a minha "cliente" viria me buscar, então não tinha me preocupado em manter meu visual profissional e depois de tanta espera e o calor que estava fazendo, aquilo ia ter que dar.

Não esperei muito ali até que um Fiat Touro prata parou em minha frente. Me desencostei do muro onde tinha minhas costas apoiadas e esperei até que o vidro do carro se abrisse.

O vidro se abriu lentamente e eu confesso que fui pega de surpresa com a imagem da mulher que estava atrás dele. Rafaella era incrivelmente... Linda. Não tinha outra palavra para descrever a mulher. Seu rosto era arredondado e suas feições eram delicadas. O nariz era era pequeno e boleado, os lábios cheios e desenhados e os olhos... Os olhos eram grandes e verdes de um jeito que eu nunca havia visto igual.

Não sei se passei muito tempo encarando a mulher, mas ela me acordou da minha análise ao seu rosto me chamando pelo meu nome. Eu corei na hora, esperando que ela não tivesse percebido que eu estava praticamente babando em sua beleza. Isso sim era totalmente falta de profissionalismo.

"Gizelly, né?" ela confirmou com um sorriso educado. Se ela percebeu alguma coisa, ela fingiu bem e eu a agradeci internamente por isso.

"Isso. Rafaella?" falei pra confirmar, mas logo me senti boba com a pergunta. Lógico que era ela.

Ela confirmou com a cabeça e saiu do carro para me ajudar com as minhas malas. Eu ia protestar, mas o que quer que fosse falar morreu na minha garganta quando eu a vi fora do carro. Se o rosto dela era lindo, o conjunto completo era simplesmente de tirar o fôlego.

A sua "solterice" está mais que evidente, Gizelly, me auto critiquei enuanto desviava meu olhar da mulher.

"Prazer," ela disse me oferecendo sua mão em cumprimento. Retribuí o seu gesto.

"O prazer é meu, Rafaella," encontrei minha voz de alguma forma para respondê-la.

"Desculpa novamente por todo o transtorno que eu lhe causei. Você veio até aqui só para me ajudar e eu ainda faço isso..." ela começou a falar rapidamente e eu tive que interrompê-la.

"Não precisa se desculpar. Eu entendo bem, juro!" falei firmemente. Ela parecia mesmo chateada com a situação e eu não queria que ela se sentisse assim.

Ela me lançou um sorriso tímido com a minha resposta, o que fez algo no meu estômago remexer. Que sensação era aquela?

Engoli em seco quando ela disse pra colocarmos as minhas coisas no carro e a segui.

Não interessava que sensação era aquela, era inapropriada e tinha que parar.

Nota da autora:

Não teve GINU, mas teve Girafa.

E aí, o que acharam?

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