63. Lei de Murphy

7.2K 697 276
                                    

POV RAFAELLA

Gizelly me ligou apenas mais uma vez depois daquele dia, apenas pra dizer que continuava bem e que não sabia quando ia conseguir voltar. Era claro que eu a queria perto de mim novamente, mas eu sabia que não podia pedir pra que ela voltasse. Mesmo apavorada com as consequências, eu sabia que ela precisava, naquele momento, estar lá.

Trabalhei tranquilamente naquela semana e já havia criado uma rotina com Larissa e Carla. Tudo parecia estar bem. Eu deveria saber que não ficaria assim.

Era quinta-feira, exatamente uma semana depois que Gizelly tinha voltado para o Espírito Santo, quando eu recebi uma ligação da minha equipe dizendo que o meu divórcio tinha vazado para a mídia. Eles estavam tentando a todo custo esconder o que estava acontecendo, mas estava claro que não iriam conseguir quando finalmente me contataram. Pelo o que parecia, a fonte que havia vazado a informação era confiável, logo, quem tinha a exclusiva não queria largar de jeito nenhum.

Marcella tentou me acalmar, mas eu estava tensa. Pela maneira que as coisas tinham sido contadas - favorecendo claramente a versão de pobre coitado de Pedro - eu sabia bem que tinha sido coisa deles. Eu não ligava pro que diriam de mim, mas me apavorava pensar que isso podia influenciar na aundiência que viria por aí.

"Por quê você não fala com a sua advogada para se acalmar um pouco? Eu tenho certeza que ela vai dizer que isso não vai mudar nada," Marcella tentou me tranquilizar mais uma vez. O que minha prima não sabia, no entanto, é que ela só fez me lembrar que Gizelly não estava ali.

"Ela teve que voltar para a cidade dela por uns tempo," falei simplesmente, sem querer me aprofundar nesse assunto. Se algo entre eu e e Gizelly vazasse, aí sim eu estaria em problemas.

"Você quer que eu contrate outro?" ela quis saber. Eu neguei. Eu sabia que Gizelly voltaria. Eu só havia tido forças para encarar o divórcio por conta dela, isso ainda não havia mudado.

Conversei mais um tempo com minha prima e discutimos sobre como reagiríamos. Ficou decido que no outro dia eu daria uma entrevista para uma fonte de confiança, contando uma versão "enxuta" da história. Ia dizer que havíamos sim nos separado e que estávamos em processo de divórcio. Não entraria em detalhes e muito menos tentaria maldizer Pedro, como haviam feito comigo.

Pensei em ligar para o meu ex-marido e exigir respostas, mas no final, considerei o que Gizelly me falaria para fazer e tenho certeza que ela não aprovaria aquela ideia, então deixei de lado.

Depois da entrevista as coisas se acalmaram um pouco e eu até pensei que poderiam se normalizar, mas não estava acontecendo. Na verdade, eu comecei a perder alguns contratos de evento e estava numa batalha para não perder um dos meus patrocínios. Aquilo não podia ser real.

"Você acha que isso é coisa do Pedro?" Manu me perguntou na noite de sexta-feira, quando fui até seu apartamento para "desabafar". Aquela semana tinha sido interminável e eu precisava do conforto da minha amiga.

"Eu não sei se ele seria tão baixo," confessei enquanto tirava meus sapatos para me pôr confortável no sofá. "Mas não descarto a possibilidade de ser alguém do meio dele," falei suspirando cansada.

Manu me tocou o braço, num gesto de conforto.

"E Titchela?" Manu perguntou quando ficamos em silêncio por um tempo. Acabei tendo que suspirar de novo. Não era normal o tanto que eu estava sentido falta da Gi.

"Eu só consegui falar com ela uma vez essa semana," confessei, não me importando em mostrar meus sentimentos. Estava cansada de deixar eles presos. Manu me entenderia.

"Eu imagino como você deve estar se sentindo, amiga," Manu disse. "Eu também queria que ela ainda estivesse aqui. Eu me acostumei com ela sempre perto de novo e não vejo a hora de tê-la de volta."

Eu sabia o que ela não estava falando com suas palavras. Nós duas estávamos preocupadas com a saúde emocional de Gizelly e cada dia que passavamos sem notícia, isso piorava.

"Ela não ligou pra você?" perguntei.

"Não," Manu soltou uma risada. "Eu até teria ciúmes, mas eu shippo vocês tão forte que entendo que quando ela pode, ela liga pra você."

Sorri para a minha amiga. Era bom finalmente poder conversar abertamente sobre a minha relação com Gizelly. Eu tinha que esconder tantas coisas nesse momento da minha vida, era reconfortante ter ao menos uma pessoa que eu pudesse contar tudo.

"Eu brigo com ela quando ela ligar da próxima vez," prometi brincando.

"Ela falou algo sobre o Carlinhos?" Manu perguntou, ficando séria novamente.

"Não," confessei. "Eu até pensei em perguntar, mas ela não parecia querer falar sobre. Só disse que continuava na correria e perguntou como estavam as coisas aqui."

"Você falou do lance do Pedro?"

"Ainda não tinha acontecido, amiga. Mas eu não acho que vou falar mesmo quando ela ligar de novo," eu disse, mordendo meu lábio inferior, me perdendo um pouco na minha própria cabeça. Eu havia pensado muito e decidi que não iria preocupar mais Gizelly com os problemas que eu estava tendo aqui.

"Ela ia querer saber, amiga," Manu disse, me fazendo voltar minha atenção para o momento atual.

"Eu sei, Manu. Mas ela não vai poder fazer nada de lá. E eu não quero que ela se sinta pressionada a voltar ou algo assim. Ela está onde deve estar e eu vou me virando," falei.

"Eu vou respeitar sua decisão, Rafa. Porque entendo de onde ela vêm," minha amiga disse com seu tom doce. "E Lari?"

"Eu estou blindando ela de toda essa situação. Depois da última que a avó dela aprontou, eu fiquei com tanta raiva que quase não deixo ela ir pra lá hoje, mas não posso fazer isso. Eu não quero afastar Larissa da família dela, sabe? Mas eu não confio nada em Rosana."

Eu ainda não havia engolido direito a história da mulher tentar fazer a cabeça da minha filha para ela não querer voltar para casa comigo naquele dia. Eu conhecia bem a índole da minha ex-sogra e confesso que sabia que ela podia muito bem estar por trás do tal vazamento.

"Eu nunca gostei dessa mulher. Ela parece mais empenhada em perturbar a sua vida do que o próprio Pedro," Manu respondeu.

"Eu penso o mesmo, Manu. Pedro continua sendo o mesmo. Não faz a mínima questão de ver a filha. Ele só vê a Larissa mesmo porque Rosana insiste em levá-la. No início eu achei que isso era bom, mas agora estou começando a me preocupar," fui sincera.

"O que tá acontecendo nesse cabeção aí?" Manu perguntou, me fazendo rir. Só ela mesmo.

"Apenas teorias por enquanto," respondi.

Contei um pouco da minha desconfiança para Manu e ela acabou concordando. Criamos outras mil teorias malucas e no final das contas acabamos em risadas. Até os momentos mais pesados, Manu sabia transformar em leveza. Era um dom.

"Mas eu tô aqui, ok?" Manu deixou claro em meio as nossas brincadeiras.

"Eu sei, Manu. Acredite, eu sei," respondi. Ela sempre estava.

Notas da autora:

Ranu ♥️

ImpasseOnde histórias criam vida. Descubra agora