73. Crianças

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POV GIZELLY

Tínhamos acabado de almoçar e estávamos as quatro no sofá maratonando os filmes prediletos de Larissa. Rafaella estava em meus braços, enquanto eu estava escorada no sofá. Manu e Larissa estavam deitadas, com a menor nós braços da minha amiga. Fazia alguns minutos que Larissa brigava com o sono e parecia que ele tinha ganho. O que eu não imaginei era que Manoela dormiria também.

"As duas dormiram," falei em sussurro para Rafa, que se mexeu na minha frente para poder ver melhor.

"Verdade," ela disse rindo e se virando pra mim.

Eu me aproveitei da nossa proximidade e posição conveniente para lhe roubar um beijo. Quando eu tentei me afastar, ela me puxou para aprofundar o mesmo. Eu me entreguei ao momento, pois se eu pudesse, beijava ela o tempo inteiro.

"Vamos pro quarto?" ela sussurrou na minha boca.

"As crianças tão aqui, Rafa," falei assutada.

Ela riu, se afastando com um selinho.

"Vem, mente suja," ela disse me puxando pela mão.

Desligamos a televisão e apagamos a luz da sala.

"Pega um cobertor pra gente pôr nelas?" pedi quando já estávamos no corredor. Rafaella parou para me encarar. "O que? Tá frio."

"Você é muito amorzinho, bebê," ela disse sorrindo grande, entrando no quarto de Larissa e indo até o armário. Pegou o cobertor da parte mais alta e me entregou.

Eu fui até a sala e coloquei a coberta sobre Manoela e Larissa. A minha amiga abriu os olhos e resmungou alguma coisa antes de voltar a dormir, agora abraçando Larissa como se ela fosse um bichinho de pelúcia. Eu ri da cena, achando a coisa mais fofa do mundo.

Quando me virei para voltar pro corredor, vi que Rafa encarava a gente da entrada e tinha um sorriso bobo no rosto. Fui até sua direção e estendi minha mão, que ela prontamente pegou na sua. Fomos até o quarto assim e quando entramos, ela se sentou na cama.

"Então não foi pra safadeza que você me chamou aqui?" perguntei e ela riu.

"Não, besta," Rafa disse em um tom divertido. "Apesar de que eu queria, mas com as nossas filhas na sala assim não dá..." as palavras morreram em sua boca e ela arregalou os olhos. "Meu Deus, eu não quis dizer isso, é que você falou antes 'crianças' e eu tava só brincando e..."

Ela estava realmente sem graça, falando sem parar. Eu dei rapidamente os passos que faltavam até ela e segurei seu rosto com as minhas mãos, interrompendo seu monólogo. Meu coração batia acelerado no peito e eu não podia negar que suas palavras me afetaram sim. Mas não do jeito que ela imaginava.

"Eu sei que você falou brincando, mas eu ia amar," falei fazendo que ela me olhasse nos olhos. "Um dia, eu quero muito que essa seja a nossa família, Rafa. Eu, você, Lari e a Manoela de brinde sim!"

Lágrimas se formaram em seus olhos e ela me puxou para um beijo, fazendo com que meu corpo tombasse sobre o dela. Caí sobre ela na cama e rimos juntas da situação. Eu tinha metade do meu corpo sobre o dela e metade na cama. Me apoiei sobre o colchão para poder limpar uma lágrima que caia lentamente do seu olho.

"Eu quero tanto que isso às vezes me assusta," ela confessou.

"Por quê?" perguntei de maneira gentil. "Eu sei que a gente ainda tem muitas batalhas a nossa frente, mas a gente se ama e contanto que a gente continue conversando e compartilhando os nossos medos e receios uma com a outra, eu tenho certeza que vai ficar tudo bem. Agora que eu tenho você, eu não quero perder não," concluí sorrindo.

Ela tinha um sorriso tão grande quanto o meu no rosto e me puxou pelo pescoço.

"Sei que a gente falou 'sem safadeza', mas você falando essas coisas aí, dá não," ela disse antes de me beijar.

Apesar de suas palavras, o beijo não passou de carícias leves e trocas gentis. Quando nos afastamos, eu tomei fôlego porque precisava falar de uma coisa importante com ela.

Me sentei na cama e Rafa continuou deitada, me encarando.

"Queria falar com você sobre o Espírito Santo," eu falei e ela se sentou também, notando que o assunto seria mais sério.

"Eu imaginei que teríamos que falar sobre isso," ela disse.

"Eu vou ter que voltar," simplesmente falei logo o que me afligia. Busquei em seus olhos alguma indicação de que ela tinha ficado brava, mas só encontrei compreensão. "Você não está brava?"

"Claro que não, amor. Eu já sabia que você teria que voltar. Se não pelo Carlinhos, porque sua vida é lá," ela respondeu, se mostrando um pouco trisre no final.

Peguei sua mão que estava próxima a minha na cama.

"A minha vida era lá," respondi em voz baixa, dando ênfase no "era". Ela me olhou e eu prendi seus olhos nos meus. "Eu tenho que voltar pelo Carlinhos e para resolver algumas coisas do escritório também. A gente não precisa decidir nada agora, mas eu queria que você fosse comigo?" perguntei incerta. "Eu sei que você tem sua vida aqui e tem Larissa, mas eu queria muito que você fosse," admiti, me sentindo tímida. Eu sabia que não precisava, mas não queria parecer carente ou exigir dela mais do que ela podia me dar.

"Ei, olha pra mim," ela falou quando desviei meus olhos. "Eu sei que vai ser uma viagem difícil e se eu puder facilitar ela de alguma forma para você, claro que vou fazer," ela disse gentilmente, me tocando no rosto. "Tá bom? O resto a gente dá um jeito."

Eu sorri, concordando. O que eu tinha feito para merecer alguém como Rafaella?

"Quando você está pensando em ir?" ela perguntou.

"Eu tenho que ir logo. Eu falei para Dona Marcele que não demoraria a voltar," falei. "Você pode ir comigo ficar apenas um final de semana. Eu acho que vou ficar lá por umas duas semanas..."

"Amanhã mesmo eu ligo para a Marcella e vejo se consigo tirar uns dias de folga para ir com você, pode ser? Não prometo as duas semana, mas eu quero estar do seu lado quando você for, ok?" ela disse e eu a puxei para um abraço.

"Mais que 'ok', Rafa. Você não sabe o quanto eu sou grata a Deus por ele ter colocado você na minha vida," eu disse com o meu rosto enfiado em seu pescoço. Eu precisava que ela soubesse o quanto eu era grata por ela. "Eu não sei como eu estaria agora se não fosse por vocês três, de verdade."

Ela levou sua mão até minha nuca, começando o carinho gentil que ela sabia que eu gostava ali.

"Eu sou igualmente grata, meu amor. Você me deu algo que eu sempre sonhei," ela disse, fazendo eu me afastar do abraço para encará-la com curiosidade.

"O que?" perguntei.

"Amor baseado em cumplicidade. Família."

Notas da autora:

Oi, meus boiolinhas!

Esse capítulo saiu de uma ideia tão natural somada ao surto da Mari (obrigada bb). Espero que tenham gostado!

Dando início a maratona. 1/4!

Ate o próximo!

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