101. Quebra-cabeça

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POV GIZELLY

Eu sabia muito bem que umas das minhas maiores vulnerabilidades era o caso de Carlinhos de maneira geral. Várias coisas relacionadas a ele, se ligavam em cicatrizes profundas minhas que eu agora, aos poucos, estava começando a entender e curar com a ajuda da minha psicóloga. Mas eu ainda tinha um longo caminho pela frente. No entanto, eu já era consciente de que eu poderia perder a razão e agir de forma impulsiva quando qualquer coisa, mínima que fosse, tinha relação com o menino.

Conscientemente, eu sabia disso, mas era difícil para mim, ainda, conseguir controlar minhas reações. Mas eu estava dando meu máximo.

Subi até o apartamento de Rafaella e respirei fundo antes de passar pela porta, pois sabia que como todos os dias que ficava ali, seria recebida pelo meu mini furacão com as feições de Rafaella. E Larissa não merecia nada menos que meu carinho e afeto. Meus sentimentos conflitantes não tinham lugar perto dela.

Quando senti que estava tranquila o suficiente, abri a porta e, dito e feito, fui recebida por um abraço caloroso até onde a menina conseguia alcançar em meu corpo e acabei sorrindo imediatamente. Levei minhas mãos até seus cabelos e os acariciei, num cumprimento gentil.

"Boa noite, meu amorzinho," falei assim que ela levantou seu rosto para encarar o meu. Ela tinha os olhos verdes brilhantes e um sorriso desdentado — o que tinha acontecido há alguns dias.

"Boa noite, Gi. Cê demorou," ela reclamou, apoiando o seu queixo na minha barriga para continuar me olhando enquanto conversávamos. "Eu tive que ver Jovens Titãs sem você," ela disse fazendo bico.

Minha feição suavizou e eu levei minhas mãos até suas bochechas, fazendo um carinho leve com os meus polegares em seu rosto.

"Desculpa, meu bebê. Eu fiquei presa no trabalho, mas juro que vou compensar você, tá bom?" prometi e ela concordou com a cabeça.

Ainda estava presa em meu momento com Larissa, que nem pensei em procurar para ver se tinha outra pessoa com a gente por ali. A babá de Larissa, ou até mesmo Rafaella. Mas não precisei, porque a voz rouca da minha namorada ecoou pelo cômodo com um singelo "boa noite".

Larissa e eu nos viramos em direção a voz de Rafaella, a menina se afastando do nosso abraço, mas ainda me puxando pela mão para que eu a acompanhasse na direção da mãe.

"A Titchela chegou, mãe!" Larissa anunciou, como se fosse uma grande novidade.

"Eu estou vendo, bebê," Rafa disse divertida para a filha e eu me peguei analisando suas expressões.

Seus olhos logo desviaram até o meus e eu pude ver tensão neles. Ela sabia que eu já sabia. Aquilo ficou claro.

Nos encaramos por alguns segundos, sem dizer nada, antes de Larissa voltar a chamar minha atenção para conversar sobre seu dia e coisas aleatórias. Era sempre assim quando eu chegava, mas especialmente quando tinha ido passar uns dias no apartamento que dividia com Manu.

"Boa noite, Rafa," falei apenas para não deixar a mulher sem resposta, mas também não me aproximei para o nosso cumprimento usual. Não gostaria de ser falsa com os meus sentimentos, ela obviamente percebeu e pareceu respeitar, mesmo eu vendo que aquilo a incomodou.

"Pois então eu já vou indo, dona Rafa," a babá de Larissa apareceu no corredor.

"Tá bom, Carla. Obrigada e tenha uma boa noite, ok?" Rafaella falou em seu tom educado e gentil.

"Tá certo. Boa noite, Lari. Boa noite, Gi," a mulher falou, fazendo eu e Larissa, sorrirmos e acenarmos para ela do nosso lugar no sofá. Por eu estar passando até mais tempo que Rafa ali no apartamento, a mulher tinha mais intimidade comigo do que com a minha namorada.

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