92. Alegria

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POV RAFAELLA

Contar sobre eu e Gizelly para a minha família foi um pouco menos assustador do que contar para Larissa. Claro que eu tinha medo que eles reagissem de maneira negativa, mas também sentia uma força dentro de mim que era difícil de não dar ouvidos. Fazia tempos que eu desejava aquela felicidade que eu estava vivenciando e era disso que nascia minha coragem. Sabia que quem me amava de verdade, veria o brilho nos meus olhos e, mesmo que demorasse, acabaria me entendendo. E quem não pudesse entender, eu sabia que doeria, mas eu não estava disposta a arriscar minha felicidade pela de ninguém. Não mais.

Felizmente, no entanto, minha mãe já desconfiava e me abraçou muito quando eu finalmente confessei.

"Mãe sabe dessas coisas", foi a sua resposta quando perguntei como ela sabia.

Passamos horas conversando. Ela querendo saber dos detalhes da evolução do meu relacionamento com Gizelly e eu mais que contente em compartilhar com ela. Sempre fomos próximas nesse nível e ela, assim como eu, queria que isso continuasse. Eu não falei, na verdade não precisava falar, mas eu estava muito grata.

Reuni Tato e meu pai para contar ao mesmo tempo no final da semana. Eu tinha receio da reação dos dois, afinal apesar de meu irmão ser jovem, apenas uns poucos anos mais velho que eu, ele tinha alguns pensamentos conservadores. E meu pai, bom, meu pai podia ter nascido na roça, mas ele tinha um pensamento bem aberto para a sua idade. O problema é que quando é com os filhos, ainda mais com a filha que sempre foi hétero, eu imaginei que ele podia ter alguma desistência.

Gizelly se ofereceu para estar comigo todas as vezes, mas eu neguei. Não porque eu não queria o seu suporte emocional, mas porque eu sentia que precisava fazer isso a sós com minha família. Tanto por eles, quanto por mim, quanto por Gizelly mesmo. Não queria que a presença dela pressionasse eles e não queria que eles, quem sabe, falassem algo que a pudesse magoar.

No final, eu não precisei me preocupar com isso. Meu irmão ouviu tudo calado, enquanto meu pai segurou minha mão em forma de apoio quando eu terminava de falar tudo o que eu tinha para contar. Falei de como nos conhecemos e como tudo foi crescendo ao acaso e de como ela respeitou meu momento, meu espaço. Falei como ela me fazia sentir e como eu queria que eles me apoiassem, pois eu estava realmente feliz depois de muitos anos. Que ela me fazia feliz.

"Talvez eu não entenda 100%, minha filha. Mas te amo assim mesmo e vou sempre te apoiar", meu pai disse me puxando para um abraço apertado, onde encaixei meu rosto em seu pescoço e fechei os olhos sentindo o seu cheiro. Faziam anos que eu não corria para aquele abraço para buscar conforto, mas saber que ele sempre estaria ali, me trazia uma tranquilidade inexplicável.

Meus olhos se abriram e buscaram meu irmão que ainda se mantinha calado e sentado na mesma posição. Meu coração se apertou em receio que sua reação fosse diferente, que ele não me aceitasse. Não nego que doeria muito. Ele eu sempre fomos parceiros em tudo. Assim que meu abraço com meu pai terminou, eu me vi parada, encarando Tato, na espera de sua reação.

"Quando eu te peguei aquele dia na fazenda da família de Pedro para lhe levar até a sua casa e você foi chorando o caminho inteiro, tudo o que eu senti foi raiva e pavor. Pavor de que você passasse o resto da sua vida fingindo que aquele relacionamento ainda existia. Que você e Pedro davam certo", meu irmão falou sério, porém seu tom de voz era suave. "Quando mamãe me falou do seu divórcio, eu quase não acreditei. Você não sabe o quanto eu fiquei aliviado. Rafa, você é uma das melhores pessoas que eu conheço, tem um coração tão lindo e um sorriso que irradia a todos ao seu redor. Tinha tempos que esse seu brilho estava apagado, minha irmã. O mesmo brilho que eu vejo na sua filha, que eu vejo na minha filha. E me doía tanto não saber como te ajudar", ele se levantou, vindo em minha direção. Sua mão tocou minha bochecha, limpando meu rosto de lágrimas que eu nem senti escorrerem pelo meu rosto. "Hoje você tem esse brilho de novo", ele disse me oferecendo um sorriso. "E não me importa o gênero da pessoa que teve o poder de reacendê-lo. Eu só fico grato."

Não aguentei e me joguei em seus braços e fui apertada mais uma vez. Senti nosso pai se juntando ao abraço e pude jurar ouvir ele fungando uma vez ou outra. Meu pai não era de chorar, mas eu entendi sua emoção. Ali, nos braços dos dois homens da minha vida, depois das suas palavras, eu me sentia invencível.

Antes de ir para casa, meu pai falou que tínhamos que fazer um churrasco para receber Gizelly na família como tinha que ser feito. Eu ri do jeito empolgado e aberto do meu pai e concordei, falando que ele podia marcar o dia e me avisar. Abracei os dois mais uma vez, antes de dirigir em direção ao meu apartamento, me sentindo mais leve.

Quando abri a porta da sala e me deparei com Gizelly e Larissa abraçadas no sofá, em um sono sereno, meu coração acelerou mais uma vez, e eu senti uma alegria que eu não sabia nem como dar vazão. E de maneira irônica, eu me apoiei na parede e comecei a chorar. Eu não sabia se chorava de alívio ou de felicidade. Talvez um misto dos dois. Sem eu perceber, Gizelly se aproximou de mim, me apoiando com suas mãos em minha cintura e seu olhar preocupado

"O que houve, meu amor?" ela perguntou, buscando a resposta em meus olhos.

"Eu acho que eu sou a pessoa mais feliz do mundo", falei soltando uma risada em meio ao choro.

Sua feição mudou de preocupada para um misto de confusa e divertida.

"Isso é choro de alegria?" ela perguntou, me acompanhando na risada baixa.

"Sim, meu amor. De muita alegria", falei tomando seu rosto em minhas mãos e colando nossos bocas.

Gizelly sorriu entre o beijo e me puxou para mais perto do seu corpo.

"Deu tudo certo, então?" ela quis saber, ainda com a boca colada na minha. Eu me afastei para poder encará-la.

"Nunca nada deu tão certo", eu respondi, com meus olhos presos nos seus.

Esperei que ela entendesse o sentido mais profundo das minhas palavras.

Notas da autora:

Boa tarde, boiolinhas!

Desculpa o sumiço. Juro juradinho, que mesmo que demore, eu não vou abandonar essa história, ok?

Ela é meu amorzinho e eu também não faria isso com vocês.

Eu sei que o Capítulo foi pequeno, mas eu falei tudo o que queria com ele. Vou postar mais uma vez essa semana e prometo um bem maior para compensar, ok?

Desculpem de novo o sumiço. E até o próximo!

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