70. Matando a saudade

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POV GIZELLY

O som suave do murmurinho da televisão contrastava com o som ritmado e aconchegante que a respiração de Rafaella fazia. Ela dormia um sono tranquilo em meus braços enquanto Larissa assistia um desenho que eu não saberia identificar.

Depois da lasanha, nos colocamos na sala para ver televisão — como era habitual antes da minha viagem — e eu tomei conforto naquele momento rotineiro. Era bom estar de volta.

Eu tentava deixar todos os pensamentos sombrios longe da minha cabeça nesse momento. Tudo o que eu queria era aproveitar a "folga" que Rafa me propôs. Mesmo que fosse difícil. Mesmo que querendo ou não eu tivesse meus medos e angústias. E sabia que teria que conversar com Rafa em breve. Eu tinha decisões a tomar, mas dessa vez não a deixaria de fora delas.

Ela se mexeu em meus braços e eu desci meus olhos até seu rosto, velando em silêncio seu sono. Como eu sentia saudades disso.

Fiquei um tempo apenas a observando dormir, até voltar meus olhos para a televisão e depois para Larissa que ria contente de algo que acontecia na tela.

Um sorriso involuntário se fez em meu rosto. Acho que agora sim eu podia dizer que voltei para casa.

Deixei Rafaella dormir mais um pouco antes de acordá-la com beijos no rosto quando Larissa também adormeceu no sofá. Os olhos verdes abriram lentamente, ainda um pouco perdidos e desorientados. Quando eles me encontraram, ela me ofereceu um sorriso leve.

"Ei," ela disse com a voz rouca de sono e eu não pude evitar e tive que roubar um beijo dela.

"Desculpa te acordar, mas acho que temos que levar essa festa para outro lugar," falei indicando com a cabeça Larissa, que dormia ao nosso lado.

Rafa se virou para olhar o que eu indicava.

"Acho que estávamos sentindo falta de dormir com você," ela disse, se virando de volta para mim e sorrindo.

"Não mais que eu," respondi retribuindo seu sorriso. "Eu levo ela pra cama," disse me levantando do sofá e esticando rapidamente minha coluna.

"Ta, eu arrumo aqui e te espero no quarto," ela disse também se levantando.

"Não vou dormir no de hóspedes?" perguntei confusa. Afinal quando Larissa estava em casa, era lá que eu dormia.

Rafaella se aproximou lentamente de mim e tomou o tecido na minha blusa em sua mão, me puxando para perto. Seu rosto se aproximou do meu ouvido e ela falou com um tom baixo e sugestivo:

"Não quando eu tenho tanta saudade para matar."

Me arrepiei inteira em atencipação e ela riu da minha reação, se afastando.

"Te odeio," brinquei me sentindo sem graça.

Ela apenas negou com a cabeça e foi em direção a cozinha. Eu então, tomei Larissa no meu colo e levei a menina até sua cama. Ela já estava de pijamas, então apenas a cobri e passei minha mão em seus cabelos. Não tinha palavras para dizer o quanto eu tinha sentido falta dela. Eu estava apegada e não tinha como mudar.

Fiquei um tempo ali a observando dormir tranquilamente e de, certa forma, aquilo me tranquilizou. Fui interrompida de meus pensamentos pelas mãos de Rafaella em minha cintura e seu rosto no meu ombro.

"É pacífico, né?" ela disse baixo.

Eu coloquei minhas mãos sobre as dela e relaxei meu corpo no seu.

"Muito," respondi.

Ficamos assim por alguns minutos. Apenas aproveitando aquele momento. Nunca imaginei que algo tão singelo pudesse ter um significado tão impactante.

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