16. Café

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POV GIZELLY

Enquanto estava esperando Rafa chegar, pensei que seria uma boa hora para ligar para dona Marcele. Ela demorou um pouco para me atender, mas assim que fez, me respondeu com entusiasmo. Conversamos um pouco sobre como estavam as coisas, atualizei ela sobre o caso de Carlos, - Letícia havia me respondido durante o dia, - e ela perguntou sobre a minha viagem. Estávamos falando sobre as compras que mandei entregarem quando a campainha tocou. Fiquei confusa, afinal estava esperando Rafa, mas ela tinha a chave, então não teria porque estar tocando a campainha.

Quando olhei pelo olho mágico, vi que era Rafa com sacola na mão, pedi um momento para dona Marcele no telefone e abri a porta. Rafaella estava como sempre linda, mas me forcei a não olhá-la por muito tempo, não queria que o que aconteceu sábado se repetisse. Ela tinha um sorriso grande e convidativo no rosto que eu retribuí instantaneamente.

"Delivery!" ela disse me mostrando a sacola em sua mão. Eu sorri dando espaço para ela entrar e pegando a sacola de sua mão.

"Muito obrigada, Rafa, você não precisava," tentei mais uma vez e ela só revirou os olhos pra mim, entrando no apartamento e deixando a bolsa sobre o balcão da cozinha.

Eu deixei a sacola, - que cheirava muito bem-, sobre a mesa e fiz um gesto com o telefone em minha mão.

"Só preciso terminar essa ligação," falei e ela sorriu, gesticulando com as mãos que estava tudo bem. A observei sentando no sofá e coloquei o telefone de volta em meu rosto.

"Dona Marcele," chamei ao telefone.

"Oi, minha filha. Se você está ocupada a gente pode se falar depois..."

"Não, sem problemas. A senhora disse que tinha dúvidas sobre as entregas," falei indo até a cozinha e pegando pratos e talheres. Não sabia se Rafa ia se juntar a mim, mas com certeza eu iria oferecer.

"É que aqui é um bairro perigoso, minha filha, aí tenho medo que..."

"Não se preocupe, dona Marcele," a interrompi gentilmente. "O mercado que eu comprei as coisas é da região e eles me garantiram que entregam no seu endereço sem problemas. Está previsto para amanhã, se eles não forem, a senhora por favor me ligue!" falei e vi que Rafa me observava de longe, mesmo que disfarçadamente.

"Tudo bem, minha filha, eu só me preocupo demais, você sabe," dona Marcele disse.

"Eu sei, mas não se preocupe que eu resolvi tudo, ok? Agora eu preciso ir, mas ainda essa semana eu lhe ligo com atualizações do caso de Carlinhos."

"Tudo bem, vou aguardar. Fica com Deus e que ele te abençoe!"

"A senhora também," desliguei e fui em direção a Rafa.

"Desculpa a péssima recepção," falei.

"Sem problemas, Gi," ela disse sorrindo para mim.

"Você quer dividir o almoço?" perguntei tímida.

"Eu já comi, mas posso te fazer companhia na mesa," ela disse se levantando do sofá e eu sorri, acenando com a cabeça e a acompanhando.

Ela esperou eu me servir e começar a comer para puxar assunto.

"Era sua mãe no telefone?" perguntou com o rosto apoiado em uma das mãos, me observando. Engoli rápido. "Não precisa responder, não é da minha conta..." falou rapidamente quando viu meu desconforto com sua pergunta.

"Não, não tem problema," respondi tomando um gole de água. "Não era minha mãe não."

Ela continuou me observando, como se não quisesse me perguntar mais nada com medo de me deixar desconfortável, mas ao mesmo tempo eu via curiosidade em seu olhar.

"É uma senhora que eu ajudo," falei sem querer entrar em muitos detalhes. Rafaella me olhava com seus olhos verdes intensos. Eu não gostava de expor aquela relação, mas era como se eu quisesse contar tudo para ela. Era uma sensação estranha.

"E quem é Carlinhos?" ela perguntou.

"Quem é a advogada aqui, eu ou você?" falei rindo e ela deu de ombros, ainda me olhando intesamente.

"Um cliente," falei deixando o meu talher no prato.

Rafa viu alguma coisa na minha expressão que a fez pensar um pouco e logo ela me lançou um sorriso gentil. Pensei que ela iria perguntar mais alguma coisa, mas ficou em silêncio e eu resolvi terminar de comer. Terminei de comer em silêncio e quando me levantei para lavar meu prato, ela foi comigo em direção a cozinha, mas ficou atrás do balcão.

"Desculpa se eu te incomodei com minhas perguntas," ela disse e eu me virei para encará-la.

"Não incomodou," menti voltando a lavar a louça. 

Quando eu terminei de lavar tudo, me virei enxugando minhas mãos e algo em seu rosto dizia que ela não tinha acreditado em mim, mas da mesma maneira que antes, ela decidiu não comentar nada.

"Quer café?" perguntei.

"Você também é viciada em café?" ela disse rindo.

"Extremamente!" respondi a acompanhando nas risadas.

Dali em diante não tocamos mais naquele assunto e em nenhum momento ela falou nada que indicasse que queria falar sobre seu divórcio, então eu não puxei esse tópico também. Acabamos mais uma vez conversando sobre diversos assuntos enquanto dividiamos um café na cozinha de Manu.

E eu me vi pensando que eu não ligaria se aquilo se tornasse rotineiro. 

Nota da autora:

Esse é o último de hoje, gentê!

Estão de buchinho cheio? Hahahhaha



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