62. Caixa postal

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Rafaella não estava dormindo muito bem. Já era sábado e ela não tinha notícias de Gizelly desde sua última mensagem na noite de quinta-feira. Ela havia tentado ligar para a advogada diversas vezes durante aqueles dias - Manoela também - e sempre dava no mesmo. Caixa postal.

Ela se sentia angustiada e perdida. Tinha medo que algo tivesse acontecido a sua namorada e ela não estivesse fazendo nada a respeito. Mas também temia estar exagerando e se corroendo por dentro por preocupações sem fundamento. Ela só queria que Gizelly aparecesse.

Larissa havia sentido a falta da outra mulher naqueles poucos dias. Rafaella chegou até a questionar se tinha feito o certo de aproximar tanto as duas daquele jeito. Como a filha lidaria com a perda? Deveria ela ter se preocupado mais com isso antes? Deveria ela se preocupar com isso futuramente? A sua cabeça estava tão cheia que ela sentia como se fosse explodir a qualquer momento.

Se levantou da cama sem muita vontade e se arrumou para o dia. Mesmo que não se sentisse bem e animada, precisava mostrar que estava por conta de Larissa. Ela tinha que ser o escudo emocional da filha.

Preparou um café leve e se forçou a comer algumas coisas, enquanto esperava Larissa acordar. Seus olhos sempre iam até o aparelho que não saia do seu lado desde que lera as mensagens de Gizelly. Ainda se sentia culpada por não tê-la atendido naquele dia.

Foi entre uma uva e outra que a tela do aparelho brilhou e a mesa inteira vibrou, sinais claros de ligação recebida.

Rafaella rapidamente tomou o aparelho em suas mãos, e mesmo sem reconhecer o número, ela colocou o aparelho próximo a sua orelha.

"Rafa?" a voz era distante e a ligação bastante ruim, mas era ela. O coração de Rafaella acelerou no peito e ela quis chorar de alívio.

POV RAFAELLA

"Gi?" falei sem acreditar.

"Sim, deusa. Sou eu. Meu deus, que delícia ouvir sua voz," Gizelly disse, soltando um suspiro cansado.

Senti o frio habitual em meu estômago com suas palavras.

"Que saudades. Eu estava tão preocupada," lamentei sem conseguir me segurar.

"Desculpa ter sumido. Não tem sinal direito nessa porcaria de cidade. Eu não queria te preocupar, mas eu estive tão ocupada..." a ligação falhava um pouco, mas eu conseguia entender suas palavras mesmo com dificuldade. Eu reconhecia em seu tom de voz cansaço e tristeza também.

"O que houve?" perguntei preocupada.

"O Carlinhos está mal, Rafa. Apanhou feio de novo. Eu vim mais que depressa porque a dona Marcele me ligou desesperada..." a voz dela pareceu falhar, como se ela prendesse o choro e tudo o que eu queria era que ela tivesse ali ao meu lado para eu poder envolvê-la em meus braços. "A gente não sabe se ele vai sobreviver," ela disse essa parte em um sussurro.

"Meu Deus," falei mais pra mim mesma que pra ela. "O que houve?" perguntei.

"Eu não tenho tempo de te contar tudo agora," ela disse, sua voz ganhando um pouco mais de força. Senti como sela tivesse recolocando suas armaduras depois do pequeno momento de vulnerabilidade comigo. "Esse telefone nem é meu. Eu vou arrumar um jeito de falar com você mais frequentemente, eu prometo. Mas agora eu preciso ir. Eu só precisava dizer que tava bem e ouvir sua voz..."

"Ei, eu tô aqui e não vou a lugar nenhum, ok? Obrigada por me ligar. Eu realmente estava enlouquecendo sem notícias," confessei. "Faz o que você que você tiver que fazer aí e conta comigo, tá bom?"

Ela soltou uma risada baixa e eu quase pude ver o sorriso em seu rosto.

"Pensar em você é o que está me deixando sã," foi uma confissão simples, mas de um peso tão grande. Eu ainda entendia pouco, mas sabia que isso podia ser o começo de uma recaída.

"Ei," chamei suavemente, tentando pôr em minhas palavras todo o carinho que corria em mim. "Eu amo você e vai ficar tudo bem, ok?"

"Quando é você que diz, eu até acredito," ela disse, não parecendo assim tão convencida do mesmo jeito. Ficamos em silêncio um tempo. Eu apenas ouvindo a sua respiração através da ligação ruim. "Eu amo você também," ela disse de repente, com uma suavidade tamanha que fez meus olhos fecharem. "Eu tenho que ir agora, infelizmente..." ela completou, parecendo tão infeliz com a informação quanto eu.

"Me liga logo," pedi rapidamente.

"O mais rápido que eu puder. Juro. Manda um beijo pra Manu e pra Mini Rafa, tá bom?"

"Mando sim, bebê. Você se cuida aí e manda notícias!" frizei mais uma vez.

"Tá bom, amor. Até mais!"

Eu não tive tempo nem de raciocinar que ela havia me chamado assim pela primeira vez. A linha foi desconectada e eu me peguei pensando em como era possível estar aliviada e apavorada ao mesmo tempo. Se algo acontecesse com aquele menino, eu não sei em que estado Gizelly ficaria. E aquilo me apavorava.

Assim que consegui controlar meus pensamentos para focar no lado positivo - Gizelly estava bem e entraria em contato assim que pudesse -, decidi ligar para avisar Manoela.

Ela me atendeu rapidamente e eu a atualizei de tudo, inclusive das minhas angústias.

"Rafa, ele vai ficar bem. A gente tem que ter esperança. Por ele, pela família dele e pela Gi," Manu disse. Eu sabia que ela se preocupava como eu, mas ela tinha razão.

"O que nos resta é orar por isso," e era o que eu faria.

Notas da autora:

Boa noite, boiolinhas! ♥️

Confiem mais em mim, ein? Hahahha.
Até o próximo!

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