115. Pontos de vista

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POV iza

Os olhos são como janelas que dão vista para um mundo completamente único e diferente, dependendo da maneira individual de cada um de pensar, sentir e perceber a realidade. Eu, nos meus momentos de devaneios intensos, já me questionei algumas vezes, se todos realmente percebmos a realidade da mesma maneira. 

Será que o azul claro e brilhante do céu nas primeiras horas da manhã brilha exatamente igual para as outras pessoas como para mim?

Será que a percepção da vibração de um sussurro no pé do ouvido ressona igual para todos?

Será que a sensação de temperatura de dedos entrelaçados é tão quente para todas as mãos?

E se não, qual a diferença?

POV MANU 

Como quem acompanha uma série de longa data, eu observei com cuidado, atenção e ansiedade a formação inesperada – mas no final não surpreendente – do relacionamento das minhas duas melhores amigas. Como uma expectadora afinca, eu vi elas se conhecendo, se descobrindo, se aproximando e, enfim, se apaixonando. E como quem espera cada capítulo novo com ansiedade, eu vi elas se tornando o que de mais bonito podia existir uma para a outra.

Gizelly era o porto seguro que Rafa nunca se imaginou ancorando seu barco, mas que quando conheceu, descobriu que não havia lugar mais estável para repousar. Gizelly era âncora, fundação, estabilidade, amor completo, incondicional. Eu, mais que ninguém, sabia de tudo o que a minha amiga havia passado na vida e de como tudo isso, no lugar de fazê-la seca e fria, a tinha tornado uma fortaleza para quem for que tivesse a sorte de tê-la ao seu redor. Porém Gizelly, ao mesmo tempo, era fragilidade, abandono, inseguranças, afinal têm feridas que só são curadas com paciência, carinho e atenção. E era isso que Rafa havia oferecido para ela desde o início. Era como, da forma mais clichê possível, elas se completassem. Não só nas coisas boas, nos sorrisos, na paixão; mas principalmente e inquestionavelmente nas suas fragilidades. Gizelly era a armadura, dura e frágil; Rafaella era o interior, resiliente e maleável; as duas juntas, a combinação ideal.

Foi duro para mim ver as duas sofrendo, cada uma em seu canto, depois de ter tido o prazer de observá-las em seu melhor – juntas –, mas ao mesmo tempo tempo eu tinha certeza que tudo aquilo era temporário e que, de alguma forma, só serviria para torná-las mais fortes no final. E eu tive ainda mais certeza disso quando naquela noite, após Rafa finalmente aceitar o meu convite para entrar no apartamento enquanto buscara Larissa, elas voltaram a interagir com a mesma naturalidade – mesmo que ainda um pouco abalada – que se tratavam. Das minhas "janelas", naquele sofá, era impossível não ver família.

POV RAFAELLA 

Os dias que seguiram foram como respirar de novo. Todas as vezes que me encontrava com Gizelly, era como se a cada novo encontro, a gente redescobrisse um pedaço da nossa relação. Os olhares furtivos se transformaram em sorrisos discretos que cresceram para toques inocentes, até que em uma manhã de sábado, se tornou um abraço apertado e cheio de saudades.

Gizelly havia ido levar até o apartamento, a mochila de Larissa que acabara ficando, sem querer, em seu carro na noite anterior. Larissa ainda dormia quando eu abri a porta para receber a minha namorada com a cara limpa, sem maquiagem, o cabelo preso em um coque frouxo sobre sua cabeça e um sorriso tímido que fazia tudo dentro de mim borbulhar.

"Gi!" falei surpresa com a sua presença, afinal faziam semanas que ela não subia até ali.

"Ei, Rafa, desculpa se está muito cedo, mas eu saí para comprar algumas coisas e acabei notando a mochila da Lari na parte de trás do carro e quando eu vi, já estava dirigindo até aqui e..." ela falou do seu jeito nervoso, me lembrando bastante de como ela ficava nos primeiros dias depois de nos conhecermos. Essa memória e o seu jeito adorável, me fizeram rir baixo e interrompê-la com uma das minhas mãos em seu braço.

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