POV GIZELLY
Já era sexta-feira e pode-se dizer que uma espécie de rotina tinha sido criada durante aquela semana. Eu acordava, mandava algumas mensagens importantes e respondia a alguns e-mails, depois tomava banho e dividia o café da manhã com Manoela. A baixinha às vezes passava o dia fora trabalhando em seu livro ou escrevia no conforto de seu escritório, enquanto eu trabalhava no meu quarto. Algums dias Rafaella vinha para o almoço, às vezes ela aparecia na hora do café, mas não tinha tido um dia sequer nessa semana que ela não tinha vindo mesmo que brevemente ao apartamento.
Naquele dia, no entanto, Manu me convenceu a finalmente sair de casa e largar o trabalho por algumas horas. Desde que eu chegara em Goiânia, eu só havia saido do apartamento para fazer compras e ir ao cartório resolver algumas coisas.
Manu havia me convencido a ir em um evento que Rafa estava participando. Era um evento sertanejo grande que Rafa havia passado a semana inteira ajudando a promover e organizar, por isso ela estava na cidade a semana inteira.
"O marido dela vai estar lá?" perguntei assim que Rafa foi embora aquele dia depois do nosso ritual café da tarde. Manu nos acompanhou nesse, assim como no de quarta-feira.
"Não, é um evento para as novas vozes sertanejas e a Rafa não gosta de vincular a imagem profissional dela a do marido, o que é muito esperto, ainda mais agora," Manu respondeu.
Ainda tínhamos algumas horas antes de precisarmos ir nos arrumar, por isso estávamos na sala jogando papo pro ar.
"Semana que vem eu vou te tirar mais desse apartamento," Manoela prometeu. Eu ri, dando de ombros.
"Eu terminei os papeis de Rafa e só estou esperando a luz verde dela, agora tenho tempo de perambular com você pela cidade," disse me deitando no colo da minha amiga e levando sua mão até meu cabelo. Manu nunca foi muito carinhosa, mas como eu era uma das suas melhores amigas e adorava um carinho, ela acabou tendo que "aprender na marra", como ela dizia.
Ela começou um cafuné agradável e eu relaxei em seu colo, fechando meus olhos. Naquele momento era como se eu tivesse me transportado para um tempo onde as coisas eram mais simples.
"Canta a minha música," pedi em uma voz pequena e senti os movimentos de Manu pararem brevemente, antes de ela continuá-los acompanhando de sua voz baixa. Cantando só para mim, como ela costumava fazer quando tinha vergonha de expor sua música para o mundo.
"Eu só queria ser normal, mas eu não sou. É só puro trauma, confusão e se quiser...Te mostro o meu melhor, te mostro o meu pior. Te mostro a verdade que é ser imperfeita e só..." senti lágrimas se formando em meus olhos e os apertei tentando evitar que elas caíssem. "Que sonho ser estável, sonho ser amável..." continuou cantando, mas senti uma de suas mãos limparem o canto do meu olho e sabia que não tinha conseguido evitar o choro. "Que sonho não botar tudo a perder, ser controlável. Mas eu sinto demais, me desculpo, eu faço errado..." abri meus olhos e vi que os de Manu estavam colados nos meus. "Ser de verdade tem um preço, eu sempre pago."
Ela parou de cantar nessa parte e continuou me olhando com carinho. Me olhava como se entendesse minhas lágrimas, minhas dores, minhas frustrações.
Eu queria saber o que dizer para ela naquele momento, mas a verdade é que eu não queria e nem estava pronta para mergulhar naqueles assuntos cara a cara com Manu, a pessoa que mais me conhecia na vida. A única pessoa que conseguiria exergar facilmente aquilo que eu escondia até de mim mesma. Então eu continuei, na minha voz desafinada e rouca de choro:
"Eu só queria menos culpa e mais amor. Poder contar, poder falar sobre o que for..." e claro que tinha tudo a ver com o que eu estava sentido. Manu sorriu pra mim, um sorriso dolorido, mas carinhoso. Eu sorri de volta e ela continou a música.
"Controlar meus impulsos, ser menos visceral. Fazer mais sentido me faria menos mal..." eu voltei a fechar meus olhos e ela voltou a cantar para mim e afagar meus cabelos.
Sim, eu tenho a melhor amiga do mundo.
POV RAFA
A semana passou voando em meio a levar e buscar Larissa na escola, trabalhar na promoção e na organização do evento de hoje e das minhas visitas a Gizelly. Na segunda-feira eu acabei indo lá apenas porque parte de mim se sentia um pouco culpada de ter arrancado a mulher da cidade dela, sem nem mesmo ter decidido a minha vida. E como eu sabia que Manu estaria ocupada o dia inteiro, imaginei que ela precisasse de companhia. No entanto, conversar cm Gizelly era tão bom e fácil que acabou se tornando algo que eu esperava no meu dia. Ter tempo de conversar com ela.
Na segunda-feira eu a observei falar no telefone e a maneira carinhosa e cuidadosa com que ela tratava a pessoa na outra linha me deixou curiosa. Assim como o termo "dona" que ela usava para se referir a mulher. Estranhei e fiquei curiosa para saber do que se tratava, ainda mais quando ela falou de algum "caso". Quando tive oportunidade de perguntar, Gizelly pareceu não querer tocar no tema, mas com o pouco de informação que ela deixou escapar, eu consegui entender que se tratava de uma mulher que aparentemente era parente (ou algo assim) de um caso em aberto seu. E que Gizelly estava ajudando a tal mulher, acima de tudo. Confesso que fiquei extremamente curiosa com aquilo, mas não forcei porque não queria que Gizelly se sentisse pressionada. Reparei esse dia também, que ela em nenhum momento falou do divórcio ou me tratou como uma de suas clientes e aquilo foi reconfortante.
Isso se repetiu durante o restante da semana, até mesmo quando Manu nos acompanhou. Não falávamos de coisas pesadas quando estávamos juntas, apenas aproveitávamos a companhia uma da outra e conversávamos de coisas em comum e supreendentemente, eu e Gizelly tíhamos inúmeras dessas.
Eu reparei durante a semana também, que os olhares que eu havia reparado de Gizelly em mim haviam cessado desde sábado. Me perguntava se isso tinha acontecido por conta de eu ter demonstrado que notei, ou se por ela ter me dito sua orientação sexual ou até mesmo por um outro motivo qualquer. Só sabia que hora ou outra eu me pegava pensando nesses olhares, mesmo sem entender o porquê.
Sempre que isso acontecia, eu tentava pensar em outra coisa. Dessa vez, eu foquei no evento que ia participar em algumas horas.
Nota da autora:
6 é o número mágico de hoje.
1. Ginu é tudo, né não?
2. Rafa está jogando migalhas pra gente?!
3. Eu amo os comentários de vocês. Tem uns que me matam de rir!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Impasse
FanfictionGiRafa AU (Universo Alternativo) Sinopse: Rafaella era uma influecer de 25 anos, casada com um cantor sertanejo de sucesso chamado Pedro Neto. Os dois se casaram quando ela tinha 20 anos e juntos tinham uma filha de 3 anos chamada Larissa. Apó...