80. Mudei de vida tão de repente

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Fazia alguns dias que Rafaella havia voltado para Goiânia. Tinha ido com o coração apertado e vontade de levar Gizelly consigo, mas sabendo que a namorada precisava ficar e resolver as coisas. Hoje, entendendo melhor Gizelly, Rafaella tinha orgulho do quanto a mulher se importava, mesmo que temesse por sua intensidade. Queria muito que ela voltasse para perto dela e ela finalmente pudesse a ajudar de maneira mais contundente.

Apesar de triste por ter que voltar antes de Gizelly, rever sua filha foi muito bom. Uma semana tinha sido o maior número de dias que ela havia passado longe da sua filha e o coração dela estava apertado de Saudades. Beijou muito o rostinho que amava tanto quando a buscou na mãe assim que chegou. Larissa estava feliz em vê-la e contava animadamente sobre as aventuras que vivera nos dias na casa da avó. A menina perguntou por Gizelly e Rafa - com um sorriso nos lábios pelo carinho claro da filha pela namorada - prometeu que quando a advogada ligasse, as duas conversariam com ela.

Gizelly tinha passado o dia inteiro preparando a petição e, assim que concluiu, deu entrada no pedido de Habeas Corpus com pedido de liminar e a substituição da prisão preventiva por prisão domiciliar para Carlinhos, tendo em vista a situação médica que ele se encontrava, já que o Estado não tinha sido capaz de garantir a sua segurança no presídio e muito menos teria estrutura para acomodar um paciente que está passando por um tratamento como o que o menino precisaria. Ela tinha segurança que seu pedido seria aceito e isso a tranquilizava em partes, pois ao menos daria tempo e conforto para a família, enquanto a Apelação que ela e Letícia haviam preparado ainda estava em andamento.

Chegou em casa cansada, mas com uma ponta de esperança em seu peito que não achou que seria possível. Carlinhos estava começando seu tratamento e em breve, ela poderia dizer a ele que estava em prisão domiciliar e que não precisaria voltar a prisão. Era apenas o começo, mas um começo que ela se apegaria e torcia para que o menino visse dessa forma também.

Chegar em seu apartamento e não ter a presença de Rafaella era como voltar no tempo. A casa que parecia mais habitável na semana anterior, voltou a trazer sentimentos que estavam guardados no fundo da mente da advogada. Mas ela não queria se entregar a eles. Diferente das outras vezes, ela conseguia ver além de seus problemas. Era como se as paredes, nas quais a sua ansiedade queria lhe manter presa, estivessem desmoronando aos poucos e ela conseguisse ver além delas. E a vista era incrível.

Fez uma comida rápida, pensando em como Rafaella ficaria brava se ela não comesse nada, e acabou sorrindo com o pensamento. Desde que viera morar na capital aos seus 18 anos, nunca mais tivera alguém que se preocupasse assim com ela. Era estranho ver o quão solitária era sua vida e ela não se dava conta.

Depois de comer, tomou um banho para relaxar e colocar sua roupa de dormir. Antes havia mandado mensagem para Rafa, dizendo que lhe ligaria em 20 minutos, já que a namorada queria saber se podiam se falar aquela noite.

Assim que Gizelly finalmente deitou em sua cama, iniciou a ligação por chamada e esperou pacientemente a namorada atender. O que ela não sabia era que Rafaella estava deitada na cama, acompanhada de Larissa, que estava extremamente empolgada com a ligação e, por isso, havia pedido à mãe para ser quem atendia. Quando a foto da advogada apareceu, Rafaella deslizou seu dedo pela tela, mas deixou Larissa segurar o aparelho em seu rosto tomado pela empolgação.

"TITCHELA!" a menina gritou quando a chamada conectou e um sorriso de surpresa se formou instantâneamente no rosto de Gizelly.

"Mini Rafa! Que saudades, bebê!" a capixaba respondeu com sinceiadade, sentindo seu peito encher com um misto de alegria de ver aquele rostinho e saudades por estar tão longe.

"Mamãe tá aqui também," a menina disse virando o celular rapidamente para Rafa, que apenas acenou com a mão com um sorriso relaxado no rosto.

A influencer apenas observava a cena com amor nos olhos. Se Gizelly estivesse ali fisicamente seria mil vezes melhor, mas ela conseguia apreciar que mesmo com as dificuldades - nesse caso a distância - elas ainda podiam aproveitar momentos simples como esses juntas.

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