107. Por ela, só por ela

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Rafaella estava nervosa. Havia marcado de se encontrar com o ex-marido na casa que eles um dia haviam compartilhado. Ela queria um lugar privado para os olhos das pessoas e aquele pareceu a melhor opção. Gizelly não havia gostado nada daquela ideia e havia tentado diversas vezes convencer Rafa que ela deveria ir junto, mas no fundo as duas sabiam que a conversa seria mais bem recebida se elas não esfregassem o novo relacionamento na cara de Pedro. Não que a advogada se importasse com os sentimentos do cara, mas se elas queriam paz através de diplomacia, ela teria que engolir em seco seu descontentamento por toda a situação.

Antes de sair de casa e deixar uma Gizelly séria no sofá com Larissa, Rafa beijou a testa da namorada e acariciou seu rosto.

"Vai ficar tudo bem," a influencer prometeu.

Antes que ela pudesse se afastar por completo para deixar o apartamento, Gizelly segurou sua mão, fazendo Rafaella encará-la. Os olhos castanhos brilhavam em preocupação.

"Se cuida," foram as palavras da advogada. "E volta logo pra gente," ela completou.

Um sorriso expontâneo abriu no rosto da mineira e ela voltou a dobrar seu corpo para ficar na mesma altura de Gizelly no sofá, tocando suas bocas em um selinho rápido.

"Sempre," Rafaella prometeu facilmente, finalmente pegando suas coisas para ir encontrar seu ex-marido.

Entrar naquela casa depois de tudo ainda era muito estranho para Rafa. Desde o divórcio, tudo estava empacotado por ali. O objetivo era levar Larissa de volta para a casa onde ela crescera em busca de normalidade, mas toda vez que Rafaella entrava ali, não conseguia ser preenchida por esse sentimento de pertencimento. Pelo contrário, aquelas paredes pareciam guardar solidão e aparências.

Por isso não havia ainda nem cogitado a ideia de sair do apartamento novo e voltar para ali. Ela queria sim que Larissa tivesse o sentimento de ter algo fixo, mas em seu peito ela sentia que não havia maior ou melhor estabilidade que os cafés da manhã sobre o balcão da cozinha, as tardes preguiçosas no sofá da sala, o pôr do sol lendo na sacada e muitas outras lembranças que haviam compartilhado a três no apartamento. Rafaella percebeu que a normalidade que ela queria oferecer a sua filha, não estava ligada a contrução física alguma e sim a atmosfera de amor que as rodeava. E isso elas tinham de sobra.

Sentou-se em um banco que tinha ali na área externa mesmo e se pôs a esperar por Pedro. Ela poderia entrar na casa, afinal havia levado as chaves, mas decidiu que teriam aquela conversa ali mesmo. Os grandes portões e muros já eram suficientes para proteger a privacidade que ela procurava e Rafa também queria proteger o seu coração — e de certa forma o de Pedro também — das lembranças que o inteiror da casa trariam.

POV RAFAELLA

Até me surpreendi quando Pedro chegou apenas 20 minutos depois do horário que havíamos marcado. Não era de hoje que eu sabia o quanto meu ex-marido tinha problemas com pontualidade.

Abri o portão para ele entrar com seu carro e fiquei de pé, em frente ao banco que estava sentada anteriormente, a sua espera. Ele não demorou a sair da caminhonete, retirando seu chapéu da cabeça.

"Olá," ele disse em tom sério e formal. Não conseguia ler nada em sua expressão, a nossa conexão já estava quebrada há muito tempo para isso.

"Oi, Pedro. Obrigada por vir," respondi educadamente, lhe indicando o banco ao meu lado.

Eu vi seus olhos desviaram para a porta de entrada antes de voltarem até mim. Pareceu que ele ia falar alguma coisa, mas desistiu, se encaminhando até onde eu havia indicado.

O clima era esquisito e pesado, como se nenhum de nós soubesse como começar. Era estranho. Nunca me acostumaria com o fato de sentir tanta estranheza com alguém que já compartilhei meu tudo.

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