Estou deitado na cama, com os fones de ouvido, que me ajudam a me aliviar da minha tensão, ouvindo Marine Parade e me sinto emocionalmente tranquilo do meu fardo invisível, que agora se dissipa no ar. Converso com o Peter enquanto ouço música e aproveitando que citei ele, quero falar mais. Ele é gay, sua pele tem o tom de negro claro, seu cabelo é cacheado e seu corpo era magro, tendo sua estatura maior que a minha porém mais novo que eu. A outra integrante do nosso trio parada dura, cuja também conversávamos no nosso grupo, a Kendall era negra de pele escura, ela usava box braids nos cabelos, por isso nunca havia visto seu cabelo na forma natural, nem seu tamanho e textura, também era mais alta mas possuindo a mesma idade do Peter. Conversávamos no nosso grupo, sobre os assuntos que mais nos interessavam enquanto mandávamos áudio sobre alguma programação em mente.
- E aí? O que as bonecas têm planejado pra hoje? - disse a Kim.
- Eu nada, vocês sabem que eu sou prisioneiro encarcerado. - digo, dramatizando da minha condição de prisioneiro de calabouço.
- Eu também nada. A senhorita que cria os rolê, diz aí o que tem para nós. - diz o Peter, acreditando na supremacia da Kim sobre nós e sempre aceitando o que a Kim nos propõe por ter as melhores decisões.
- Eu sou muito cadelinha da soberania da Kim. Sei lá, nem que seja para sairmos para ficarmos um olhando para a cara do outro. Amo muito essa condição de mesma sem termos uma programação fixa, dinheiro ou algum lugar específico, o fato de nossa companhia e de termos um assunto que se destrinchasse em longos debates, já nos era o suficiente, prezando pela simplicidade, sem luxo e esbanjo, como toda amizade deveria ser. Depois de alguns áudios nossos, decidimos em consenso pela ideia inicial da Kim, de irmos ao cinema, mesmo sendo a rejeição da minha mãe, um empecilho mas não um obstáculo. A Kim não definiu um horário mas disse que avisaria bem antes para que desse tempo de todos se aprontassem e dali, eu saio do bate-papo e desço para lavar a louça. Antes de descer as escadas, eu tiro a roupa do corpo que saí e pego dos confins da minha gaveta, o meu cropped de regata e meu short mais curto, na altura da minha cintura, mostrando o cós da minha cueca e a pequena linha de pêlos que se formava abaixo do meu umbigo. Minha mãe não está presente no recinto e sigo para a pia, lavando a louça sem agitação de voz como antes, apenas se ouvindo o barulho de torneira sendo aberta e o bater das louças e os talheres contra o ferro do escorredor de louças. Aparentemente, ela deve estar enfiada no seu quarto, aos prantos refletindo sobre o quão infeliz é por ter me concebido e ajoelhada diante do seu santuário pedindo força pelo desafio pelo qual Deus "está" fazendo ela passar pela sua honra que ela tanto é convicta, mas eu sei que essa situação não poderia continuar mas ela é orgulhosa demais para querer dar bandeira branca. Eu espero muito que tudo se resolva da forma mais pacífica possível mas se dois não querem, dois não brigam e se ela não quer cessar seu bombardeio contra mim, não posso forçar um selo de paz, mesmo permanecendo e agindo como se minha mãe fosse uma desconhecida qualquer ainda me doesse.
Já eram 16:32, eu já havia almoçado e estou agora no meu pequeno universo de quatro paredes, meu ponto de paz e descanso o estômago que recompensei do café da manhã, que eu nem pude comer. A tensão na hora do almoço era notável, mesmo não estando juntos na mesa, ela preferiu se sentar no sofá, se entretendo com algum programa na televisão, talvez para não encarar a realidade (e o meu rosto) de frente. Contesto internamente em pedir perdão por algo que, com certeza, eu não fiz, só para reverter a situação e me sentir melhor para "poder" olhar nos olhos dela. Mesmo assim, me mantive na minha, concentrado dispersadamente no meu mar de pensamentos enquanto comia minha refeição e seguindo de volta para o quarto, tendo que cruzar a sala e a frente dela consequentemente. Para ser sincero, me sentia numa corda bamba onde eu só olhava para os meus pés e para o meu caminho, sem desviar o olhar para os lados, não sentindo seu olhar árduo sobre mim pois parecia concentrada e me senti um espectro passando em sua frente. Me encontro agora esparramado de qualquer jeito na minha cama meu celular vibra, espero que seja uma mensagem da Kendall confirmando o horário do João rolê, acendo a tela e o desbloqueio, confirmando que realmente é uma mensagem dela, marcando conosco às 19:30. Só faltava a mina resposta por todos já terem confirmado e digito, assentindo a resposta.- Se não fossem por vocês para me arrastarem de casa, eu estaria branco como uma folha de ofício.
- Só estamos fazendo o que o ser humano tem como direito: liberdade. Ninguém merece viver sobre essa custódia. - Kim escreve, caridosa e maravilhosa como sempre, junto de apoio, carinho e dezenas de outros emojis de coração.
- Em meio a sua dificuldade, eu admiro muito com você lida com isso e multiplica e espalha luz e boas energias. Tu sabe que nós te "ama" né, mana? A gente vai estar aqui sempre para te apoiar e contrariar o mundo se ele estiver contra você. - o Peter também me escreve e eu sinto meu coração preenchido e me seguro para não soltar uma lágrima com todo essa declaração inesperada.
- Vocês são uma dádiva que eu jamais poderia imaginar que merecia, poderia desejar uma milhão de coisas ou apenas uma, mas pode ter o maior tesouro que a vida ou pedidos fúteis a míseras estrelas cadentes pudessem me conceder, que é o valor imensurável de uma amizade. Ou melhor, de duas. - desabafei, agradecendo por áudio e sendo o mais franco possível com meus sentimentos. Depois desse combo de afeto, cada um envia um emoji de coração gigante, eu apoio a ambos e agradeço por ter duas pessoas em minha vida que não fizeram desejar mais nada no mundo. Todos ficamos off-line e fico mexendo nas outras redes sociais, vendo vídeos e memes para passar o tempo, até que chegasse um horário considerável para que eu pudesse me arrumar. Mesmo tendo convicção que sairia com meus amigos de um jeito ou de outro, eu ainda pensava em como eu poderia sair, sem uma ideia mirabolante de fuga mas espero que a solução seja a mais simples e descomplicada possível.
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Apenas Segure A Minha Mão
RomanceCalvin Minsky é um garoto de 17 anos, promissor mas que ainda não enxerga em si potencial e está afundando em seus próprios dilemas emocionais. Sendo filho único e sem uma figura paterna presente dentro de casa, tem de conviver com sua mãe autoritár...