Capítulo XX (parte 1/2)

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Assim como eu imaginei, aquelas dores e pesadelos permeavam meus sonhos sem descanso e me desconforta mais do que esse colchão no chão poderia. Me espreguiço sem demora para averiguar o estado do Calvin, me ajoelho diante da cama e ele parece dormir ainda e na mesma posição que se mantinha e podendo perceber seu sono e respiração calmos pelo tecido translúcido da sua camisa. Eu acaricio o seu pé, seguindo até a canela, sem o intuito de o acordar, mas eu estava tão biruta para o ver interagir, que seria a expressão mais sorridente que eu teria em dias. Ele se mexe um pouco mas não chega a despertar, apoio meu queixo na cama e ele parece acordar pelo meu carinho insistente e pela minha respiração constante em sua perna descoberta.

- Se você não tivesse uma cara tão linda, poderia acreditar que era uma assombração.

- Bom dia pra você também. - digo, num tom de queixa e desgosto.

- Bom dia, minha assombração mais perfeita. - ele diz novamente, com sua voz falha e sem ânimo.

- Ah, para! Você sabe que não são esses os objetivos que eu mereço. E como você dormiu?

- Dormir bem, até dormi. Meu corpo também descansou bem, nem sinto tanta dor.

- E quanto à sua cabeça? - me preocupo com meu paciente, digo isso pois percebo que estou de joelhos e ele está na cama, segurando a minha mão, como em um leito de hospital.

- Está bem. Acho que alguém cuidou muito bem de mim. - ele sorri, arfante, como se tudo estivesse bem e quisesse me tranquilizar, me fazendo respirar fundo e fechar os olhos de descontentamento.

- Não sabe o quanto sinto vergonha de mim ao olhar para você. Se não estivesse movendo seus lábios e seu peito que respira, podia jurar que estava em um túmulo de tão imóvel.

- Não há o porquê de tanto auto-julgamento. Se eu não te acuso, não tem o porquê de se queixar. Eu juro que não estou ressentido pelo incidente de ontem, o que importa é que você se arriscou do momento da caminhada até quando você desceu para me socorrer. - sinto verdade nas palavras dele, tentando arrancar de mim o sentimento de culpa justo e manipulando bem as minhas emoções.

- Tudo bem, não é o tipo de reconhecimento que eu mereço, eu ignorei todos os sinais de que tudo poderia dar errado e agora vimos o quanto a minha teimosia nos custou. Posso até tentar me convencer do seu perdão, não porque ele parece falso mas eu ainda não o mereço. Não agora. - ele não diz uma palavra sequer e percebe que não estou aberto para insistências para que eu pudesse mudar de ideia, que não estaria maleável para que ele me convencesse do contrário, ele se levanta da cama e fica de pé, já conseguindo fazer isso sozinho mas ainda se apoia em mim. Caminhamos para fora do quarto e mal sabemos para onde vamos, ele se debruça em meu peito, estando na minha frente e já é o suficiente para eu parar o meu trajeto.

- Também tem outra coisa que eu queria te perguntar. Eu queria saber se você queria ir ao hospital, para alguém avaliar melhor o seu ferimento. Parece meio absurdo perguntar isso mas queria saber se você assentia, para não parecer uma internação obrigatória. - ele assente com a cabeça, dando vagarosas piscadas e sorrindo fraco mas um simples assentimento não me basta, preciso ouvir a sua palavra.

- De verdade? Às vezes, eu sinto esse espírito de possessão que não gosto de sentir. São as piores sentimentos que me rodeiam quando eu só queria sentir amor unicamente.

- Claro que sim, meu bem. Desde do início, você sempre quis e quer o meu bem em todas as suas ações e você nunca me fez pensar o contrário disso. Você abriu as portas da sua casa e do seu coração para mim, não há nada nesse mundo que possa fazer esse ato de solidariedade e que eu possa fazer para retribuir e nem como o agradecer. E é por isso que eu também TE AMO!! - sou tomado pela surpresa e espanto pela declaração inesperada do Calvin mas não tenho reação de dizer algo por estar em choque e comovido. - Você acha que não o ouvi dizer que me amava e todas aquelas palavras doces e emocionantes? Eu estava imóvel mas estava atento a cada sílaba que você dizia. - ele retribui o seu sentimento e me faz perceber que ele é o motivo de todos os meus sentimentos e todas as reações do meu corpo, sem me importar com a demora de sua resposta mútua.

Apenas Segure A Minha MãoOnde histórias criam vida. Descubra agora