Posso ver, finalmente, a placa de boas vindas de NorthSide City, após muita impaciência e agonia, aliás, o prefeito daqui deveria aprimorar um pouco mais isso, os turistas não devem se sentir atraídos a vir aqui antes mesmo de entrar na cidade pelo desgaste, pelos grafites obscenos e toda a ferrugem daquela chapa de metal. As primeiras casas e sinal de civilização melhoram um pouco a paisagem conforme vou adentrando a cidade e pelo o que eu conheço daqui, o centro fica bem longe e não é para lá que eu vou, pois o GPS indica que a SFS fica alguns longínquos minutos daqui. Aumento a minha velocidade, sem ser imprudente porque já estou de volta à estrada de asfalto, apesar de não ter tido desconforto na estrada de terra irregular e observo um pouco de comércio, círculo maior de pessoas e de outros estabelecimentos que complementam meu campo de vista. Após muito trajeto de curvas e cruzamentos, viro a última esquina indicada e sigo reto pela rua longa, pouco povoada pelas contáveis casas e sem muitos pontos de referência, estou próximo do destino mas lembrando que estou a caminho da floricultura, e não da casa, por isso vou ter que acalmar os ânimos e resolver esse mistério. Reduzo a velocidade conforme vou me aproximando devagarosamente, já posso enxergar a placa de identificação da floricultura, aliás, o designer da placa da floricultura poderia renovar a placa de boas vindas pelo seu capricho e o GPS anuncia o meu destino, estaciono mas não desço. Respiro fundo, logo soltando o ar em forma de bocejo e fechando os olhos, passando meus dedos entre meus cabelos um pouco bagunçados e os ajeito pela pouca visão do espelho acima de mim, decido o que eu posso fazer, se vou para a floricultura ou espero, mas desço, mesmo sem uma decisão, pelo ar quente e abafado que já circula preso aqui. Dou alguns passos pela calçada, apenas seguindo em frente e por mirar a placa no alto, vejo sem intenção no horizonte, não tão distante, alguém saindo de uma casa, com pressa o suficiente para chamar a minha atenção e afoita com um objeto nas mãos em passos corridos porém curtos. A mulher segue assim até o carro à beira da casa, ponho uma mão sobre os meus olhos por conta do sol que atrapalha a minha visão e tento identificá-la. Me espanto e me viro de uma vez, volto calmamente para o carro para não chamar seu olhar e me abaixo um pouco, para vê-la sem ser pego a espionando. Ela revira algo nas mãos que tremem, parece ser algo metálico e em monte deles e deixa um deles cair, antes de pôr no bolso e entrar no carro, estando a sua frente de frente para mim. Ela segue pelo sentido contrário do meu após uma manobra apressada, então não tinha risco dela me identificar por não ter desviado o seu foco do que a importava, até porque ela só havia visto o carro uma vez, mas receoso porque consegui a reconhecer mesmo tendo a vista pouquíssimas vezes e ela também poderia fazer o mesmo. Acho que seus olhos não alcançaram meu rosto ou sequer se deu conta que a presença do carro ali parecesse suspeita, só se tivesse gravado o meu carro no dia em que eu praticamente sequestrei o Calvin e tiver guardado cuidadosamente na mente com meu ódio. Depois do carro dela ser um mero borrão no horizonte ainda mais distante, eu desço novamente e caminho furtivo até o ponto onde ela estava, observo inquietamente os arredores para que eu não despertasse desconfiança ou suspeita em quem quer que passasse por ali e reviro um pouco aquela grama mediana, à procura daquele objeto metálico, que espero ser uma chave, mas não qualquer uma, mas a que abra aquela fechadura possivelmente trancada. A encontro com a ajuda do sol, que tanto me atrapalhou antes a reconhecer a mãe do Calvin, apanho aquela pequena chave que pode ter escapado das mãos dela e caminho até a porta, confiante em seguir sem checar antes de alguém pudesse conjeturar. Reluto a encaixá-la na fechadura mas após algumas tentativas de todas as combinações possíveis, finalmente ela se abre e eu mal posso acreditar, tento emitir o mínimo de ruídos possíveis, ora com a porta, ora com meus passos, a fechando logo em sequência. Estou incrédulo que acabei de invadir uma casa, por suspeitar de um sequestro em andamento nesse endereço e que estou prestes a salvar o Calvin (assim espero), minha vista permanece inquieta, assim como a respiração, atento até nas mínimas partículas de poeira daqueles móveis e caminho em passos estratégicos como em um campo minado, atônito a qualquer ameaça. Verifico se tranquei a porta por dentro, ponho a chave no bolso e minha intuição me leva a beira de um corredor, com algumas portas e com uma pequena copa, à direita, sem averiguar muito pelo pouco tempo que eu tenho.
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Apenas Segure A Minha Mão
RomanceCalvin Minsky é um garoto de 17 anos, promissor mas que ainda não enxerga em si potencial e está afundando em seus próprios dilemas emocionais. Sendo filho único e sem uma figura paterna presente dentro de casa, tem de conviver com sua mãe autoritár...