Tento rebaixar a agonia com aquelas balas de goma oferecida pelo taxista que dão gosto a minha boca tão seca com o sabor mentolado do enxaguante bucal e o Nathan continua um pouco depressivo, porém o motivo em pensar que devemos aproveitar a viagem tanto quanto se eles estivessem conosco, é o que nos mantém esperançosos, ainda me consolando até o aeroporto, limpando meus olhos. Chegando lá, temos a ajuda dele novamente para descarregar as bagagens e juntamos todos os nossos trocados para pagar a viagem e também o ajudaria a facilitar o troco nas próximas vezes, o agradecendo. Assim, nos encaminhamos cada um com sua bagagem para os assentos enquanto esperamos a chegada do nosso vôo e pela minha inquietude, o Nathan me entrega o seu celular para que eu jogasse como se fazem para apaziguar as crianças mais enérgicas, e diz que vai dar uma volta e pede que eu vigiasse as coisas. Pela saída do Nathan e minha responsabilidade de guardar por tudo até ele voltar, nem consigo me atentar muito em mexer no celular, só ponho uma música para ouvir e meus olhos biônicos estão atentos a qualquer sombra ou matéria que se aproximasse. Depois do seu tour completo pelo aeroporto, ele volta com algo na mão, o que parece ser um livro, pelo formato e pelo plástico muito bem envolvido, faltando 10 minutos para a chegada do voo.- Parece que tudo ainda está intacto e inteiro. Não falta nada...
- Claro, os noticiários não notificaram nenhuma previsão de terremoto ou abalo sísmico. E o trabalho de checagem ainda não é seu, benzinho. - ele resmunga e eu só consigo pensar em quanto nós oscilamos de amor a ódio, de alegria a tristeza e de carinho a patada em segundos. Acho que é isso que faz nosso amor tão inseparável, porque avançamos tanto em maturidade e intimidade que temos tudo um do outro, independente do sentimento. - E o que é isso aí na sua mão? A capa não parece chamativa mas há um ditado popular para rebater a minha crítica antecipada.
- Se chama One Man Guy, aparentemente um romance gay pela capa e descrição nada sugestiva. Não quero ser precipitado mas há coisas que não há discussão.
- Não sei como ainda não se chegou em um consenso que as produções LGBTQ+'s feitas por pessoas pertencentes a comunidade, tanto literárias ou cinematográficas, são as melhores fontes de entretenimento. - torço de verdade e enalteço toda obra, seja ela grandiosa ou simples, aclamada ou desconhecida; que alcancem o merecido prestígio pois sempre será culturalmente e artisticamente gigante, apesar de todo o demérito e falta de destaque em todo o meio de venda ou todo meio que alcance o público de alguma forma. Depois de muito debate interno, nosso vôo é anunciado e passamos por toda a inspeção e vistoria necessária temerosos, mas somos liberados também após a checagem de documentos e todo o resto e seguimos para o embarque. Seguimos na fila assimétrica, nos acomodamos nas nossas poltronas, 34 e 35, depois de ter acomodado nossas bolsas no alto, e assim, passamos nossos cintos e coloco de volta os fones de ouvido enquanto o Nathan parece entretido com seu livro e pelo tanto de página que o marcador presente na capa do livro segura, ele parece ter lido bastante e me lembro de mandar mensagem ao pessoal avisando que já embarcamos. Ainda sem o avião decolar, observamos a fila eufórica que entra mas se apazigua conforme cada um se assenta e depois de algum tempo de espera, uma voz ecoante nós dá as boas vindas e instrui antes de decolarmos. Dada a partida, o avião entra em movimento e vai tomando altitude com tudo já em ordem. Bem, nem tudo em ordem. Semblantes apertados e apavorados, mãos sendo apertadas afim de aliviar o medo e orações múltiplas para todo tipo de entidade pertencente a todo tipo de religião, só não se ouvia gritos porque não estamos subindo em uma montanha russa mas é tão arriscado quanto, e também para manter a classe por estar se andando de avião, como se essa não fosse a primeira vez de muitos por aqui. Por minha vez, eu só apertava os olhos para me distrair e suavemente o jeans dele que lhe causava uma respiração forte e profunda, que chamava a atenção de uma das senhoras fiéis e rezadeiras dali, que provavelmente queria que fossemos os primeiros a serem levados por uma turbulência violenta pelo seu semblante nada amigável. Até todos se acostumarem com a, agora, adaptável sensação de se estar em um avião a centenas de pés do chão, levou algum tempo para que todos se recuperassem da agonia, sendo provavelmente o processo costumeiro de decolagem e passado o caos, aproveito a vista privilegiada da janela, apesar de ser estreita, ainda assim meus olhos continuam encantados com aquele vasto vale de nuvens e com o céu azul infinito, ainda esperando mais, como se fossemos atravessar a atmosfera em um foguete. As pessoas ainda movimentavam conversas com a sua dupla de poltrona, o Nathan permanece lendo e parece estar prestes a adormecer, não pelo tédio do livro, e sim pelo horário que acordamos e pelos seus olhos que lutam para ainda entender cada trecho que está lendo e também não vou resistir se o sono vier, com a cabeça recostada a janela e com o volume dos fones no mínimo. O tempo passava sem pressa alguma ou era minha compulsão em olhar o relógio repetidamente que mal deixava ele passar, eu já estava bem contorcido na minha poltrona e fechando seu livro na página onde havia parado com o marcador de trás agora e tirando meus fones, o Nathan levanta o suporte da minha poltrona e repousa a sua cabeça em meu ombro, que era um pouco macio que a rude almofada da poltrona. Ele acariciava meus cabelos sem os bagunçar mas que instigava ainda mais meu sono, eu pondo meu braço ao dele e que expõe a minha cicatriz para ele, que a cobre infinitas vezes com a ponta do seu indicador. Ele me faz viajar com seu carinho mas me atento a um detalhe ridículo que não me deixa escapar o comentário.- Por incrível que pareça, eu só pensei nisso agora... Mesmo que a gente não tenha propriamente definido isso, eu pensei que as nossas roupas fossem para o evento e não para ida até dele. - digo e o único músculo que se move é meu maxilar, torcendo por uma resposta e que ele não houvesse já dormido.
- Meu Deus, é verdade! Eu acho que é esse o momento que eu tô percebendo isso mas foi tanta ansiedade, até para usar essa roupa, que eu mal pude esperar e de tão avoados que nós estávamos com todos os outros requisitos. - assinto plenamente, que sai como um carinho ao seu ombro e claro que não deixaríamos de ir ao evento ou compraríamos outras roupas só porque elas estão em nós agora, se eram para ser usadas exclusivamente no evento.
- Mas é aquele ditado: quem não pode usar look repetido, é celebridade em premiação. Mas se houver algum imprevisto de sujeira ou algo parecido, torcemos para o hotel ter algum serviço de lavanderia ou lá pelas redondezas. - ele também assente com sua postura mole e é a última coisa que dizemos antes de nos rendermos a inevitável e breve sonolência, que nos toma momentos depois.
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Apenas Segure A Minha Mão
Любовные романыCalvin Minsky é um garoto de 17 anos, promissor mas que ainda não enxerga em si potencial e está afundando em seus próprios dilemas emocionais. Sendo filho único e sem uma figura paterna presente dentro de casa, tem de conviver com sua mãe autoritár...