Capítulo LXXIV

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Depois de muitos detalhes ainda frescos e recentes e os dramas que um grande amor inevitavelmente enfrenta, o Nathan finaliza com a minha proposta de virmos para cá e também participo para dar mais ricos detalhes, contar sobre a minha condição de cárcere privado e explicar melhor toda a relação com a Carolina.

- Se você não tivesse desviado o olhar de mim esse tempo todo, eu poderia jurar que o Calvin tinha pesquisado uma sinopse qualquer de uma novela mexicana, tinha te enviado por um ponto minúsculo ou por telepatia de casal e você desenrolou todo o enredo no improviso. - o Matías parece bem impactado com a nossa trama e até a mim, nessa posição agora, de ouvinte também, mesmo tendo digerido esses acontecimentos, é inacreditável relembrar disso e saber que eu tive uma nova chance de viver e que tive que pôr meu amor e minha esperança à prova da minha vida.

- Agora é com você, eu sei que você já citou a Carolina e sobre vocês mas queremos saber mais. Tenho certeza que ainda falta algo... - o encorajo para que ele não tenha medo, caso seja isso que o impeça de contar, mas também respeitando a sua liberdade se não for esse o motivo.

- Por muito tempo tenho evitado de falar sobre isso porque toca num ponto muito sensível mas sinto que estou preparado... Realmente está falando algo. Na verdade, alguém... - ele se levanta e também a sua blusa, se virando de costas e revelando para nós, no topo de suas costas, uma única tatuagem ali, como se merecesse aquele devido destaque e preenchendo um espaço muito simbólico. Era uma bela borboleta e cada ponta da sua antena formava o símbolo dos dois gêneros biológicos, que estava pousada em uma espada. Nos dando tempo suficiente para analisar a tatuagem e criar a dívida inevitável em nossas mentes, ele abaixa a sua blusa e se senta novamente, tratando de se explicar. Ele respira fundo de olhos fechados, como se escondesse e estivesse prestes a contar um segredo de família e nos preparamos para o que vem por aí.

- Antes da Carolina, houve alguém. Houve um grande amor, que ainda persiste no meu coração. Josephine. - talvez fosse uma namorada anterior ou se eu não acreditasse tanto no bom caráter dele, poderia pressumir uma amante secreta sendo descaradamente exposta. - Josephine era a minha irmã mais nova e única, nasceu após muito tempo de espera dos meus pais tentarem uma gravidez que desse certo, e desde então, se tornou o motivo gratuito do nosso amor e da nossa atenção ao nascer e talvez trazer um pouco de harmonia àquele lar que já vinha se ocupando de intriga e mentiras dos meus pais. Josephine, que foi dada como um garoto ao nascer pelos médicos e pela ciência, que tinha suas roupas na cor e seu quarto na mesma tonalidade, não esperava em nascer num casulo tão conturbado, sendo a bela borboleta que era e que enfrentaria toda a infelicidade que o ser humano poderia a proporcionar, mesmo sem entender o ódio, a desaprovação e a incompreensão de todos e do mundo lá fora. Josephine, que ainda era Joseph, se tornava cada mais linda sem perceber, o tempo passava e conforme isso, confesso que o convívio com a família foi melhorando até certo ponto e senti amor reviver com a vinda da Josephine. Até que Josephine foi evoluindo suas práticas de comunicação e de mais interação, as coisas complicaram um pouco mas eu sentia o mesmo sentimento por ela desde que peguei aquela criança pela primeira vez e que me causou tanto amor sem nem saber o que era isso. Logo logo, Josephine foi matriculada em uma escola perto de onde morávamos, eu já podia notar que era esperta e seu desempenho sempre foi muito elogiado, talvez apurados pelo seu fascínio por leitura como a mim desde cedo e que a fez desenvolver uma facilidade de fala, a tornando extrovertida e incrivelmente comunicativa. Antes de dormir, sempre me pedia para que eu lesse para ela alguns dos meus contos de fantasia que eu criava ou pedia, sempre atrevida, alguma história de terror que ela lia secretamente do meu armário. Sempre imaginativa e criativa, sempre fantasiava comigo e isso se perdurava até em seus sonhos, que me contava empolgada ao acordar, apesar desses não ser a inspiração de sua vida, e nossa relação se fortalecia cada vez mais, me fazendo amar enormemente a minha irmãzinha caçula.

CONTINUA...

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