Capítulo XLIV

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Me deito na cama como me foi solicitado e cubro até os meus ombros com o fino cobertor e coloco uma máscara para esconder parte do meu rosto, para que ela não me reconhecesse e aguardo o Dr. Richards e a megera chegarem em minha posição. Fico imóvel para não ser pego de surpresa e de olhos fechados, meus sentidos se atentam a captar os sons de movimentação e de fala e depois de alguns minutos de espera, ouço um barulho perto da porta, uma conversa em voz alta, talvez seja um sinal dele para que eu me preparasse e eu assinto ao seu possível sinal.

- Lhe chamei por conta desse paciente, ele parece bem mal desde que chegou e peço que supervisione ele, só não chegue tão perto porque não sabemos o que ele tem de fato, mas ao que tudo indica, parece ser contagioso, por isso, ele usa máscara. - ele inventa todo esse enredo do meu estado clínico e até improvisa pela minha máscara, me concentro para que meus olhos não tremessem e controlo minha respiração. Agora, preciso mostrar todo o meu dom em atuação e tudo que a minha experiência cinematográfica com mortos e doentes me ensinaram. Apenas abro um olho com cautela quando ouço que ele vai sair novamente, ele pisca para mim secretamente e eu nem retribuo, apenas miro meu olhar para ela, sem movimentar minha cabeça e ela não parece desconfiar de nada, nem do plano e nem que sou eu bem na frente dela. Ela permanece concentrada no seu companheiro eletrônico, como sempre, sem muito contato visual com o meu corpo, enquanto eu luto para manter meu papel de paciente definhando, mas se depender dessa mosca varejeira que está rondando meu rosto, o plano e minha carreira de ator vão por água abaixo. Ela pousa na minha máscara e acelero um pouco a minha respiração para espantá-la mas a megera percebe a minha máscara movendo e se atenta mais a mim, travo meu semblante na hora e a maldita continua ali, a sobrevoar meu ouvido direito, enquanto a outra maldita permanece a me encarar, pelo pouquíssimo que tento visualizar. Ela se cansa de me atazanar e voa para longe, me aliviando e sou salvo pelo gongo, tanto pelo voo da mosca que queria procriar no meu ouvido e pelo retorno do doutor ao quarto.

- Houve alguma alteração ou sinal de piora, Sra. Mildred? - ela nega. - Não acha que já é hora de examiná-lo?

- Não sei doutor, não acha mais seguro você fazer isso?

- Para tudo tem sua primeira vez... E será mais empolgante do que você imagina. - ela estranha de começo pela insistência mas acaba convencida, já posso sentí-la próxima, sem que me tocasse ou que estivesse perto de mim, apenas pela sua vibe pesada e negativa. Ela finalmente se aproxima, arranca primeiro o cobertor, o deixando na altura da minha cintura e revelando as minhas mãos, uma sobre a outra no meu peito e parece receosa por conta da minha virosa contagiosa e inexistente, por demorar tanto a retirar a minha máscara. Ela agarra o elástico preso às minhas orelhas e os tira delicadamente, revelando aos poucos, o meu rosto inexpressivo, mas louco para gargalhar por dentro. Ela parece processar a situação, talvez imaginando que teve o gosto de me ver morto na sua frente como a psicopata da minha mãe e só assim abro os olhos e a encaro, ela se retrai e olha para o doutor.

- Querida, querida Mildred, feliz em me ver? Ou melhor, em me rever? Pena que não foi do jeito que você esperava... - indago ela, com sarcasmo e gozação.

- Você sabia disso, não é mesmo, Dr. Richards?

- Eu não só sabia Mildred, como armei essa armadilha para você, que trata os pacientes com incompetência e irresponsabilidade e chegou a hora de arcar com suas penitências.

- Você vai me prender, é isso?

- Não sou policial, meu bem. Meu dever é salvar vidas, não tirá-las, como você planejava por aí. Não sou eu quem vai te prender, já fizeram o favor de te denunciar.

- Isso é o que vamos ver! - ela o dribla rapidamente, sem tempo de qualquer reflexo ou reação, ela se choca contra a porta e a abre para fugir e sai tão ligeira que quase a leva junto, corremos logo atrás para a encurralar, mas a polícia já foi acionada e faz bem o seu trabalho, diferentemente dela. O Nathan está ao lado deles e sorri para mim, com o olhar de missão cumprida e sorrio de volta, e recebemos o olhar das pessoas que estão ao redor, curiosas e atentas com a tentativa fútil de fuga da Mildred para o lado contrário da saída. Facilmente, ela é alcançada por um único policial e logo é imobilizada e algemada por ele no chão, ele a traz humilhada e apenas observo a justiça sendo feita por quem a faz. Cruzo meus braços e observamos ela sendo levada para a viatura, a acompanhamos até o lado de fora e vemos ela entrando no camburão.

- Sua mãe vai saber disso, seu viadinho! - ela destila seu veneno contra mim, se debatendo como uma possuída mas sem escapatória.

- Infelizmente, ela não teve a mesma sorte que você, meu bem. Que Deus tenha piedade do nome e da alma dela. Espero que as grades da cadeia sejam bem estreitas para que você não consiga escapar de lá se esqueirando pela lacraia que você é. - jogo beijos repletos de deboche para ela e graças ao policial, não posso mais me deparar com sua deprimente situação, sendo jogada para dentro do carro, assim como eu fui.

- Mais uma vez, o amor salva o dia! - o doutor vem ao meu encontro e me abraça, e só agora que eu me lembro que eu e o Nathan estamos imundos e vestidos em mulambos mas ele parece não se importar, comemorando conosco.

- Tudo graças a você, Dr. Richards! Eu e o Nathan seremos eternamente gratos a você. Pelos seus serviços adicionais, eu diria. - ele dispõe e nos dá a sua licença, quando vê a aproximação do Nathan, eles se abraçam brevemente e o Nathan também o gratifica.

- Conseguimos, meu amor! - eu apresso os passos para chegar logo ao encontro dele e me abraça tão forte que posso sentir o odor de nossas roupas e ainda, suspende meu corpo levemente no ar, tirando meus pés do chão.

- Graças a nós, o que seria de mim sem você...

- Ainda seria você, Calvin. Mas confesso que não tão feliz quanto hoje. - ele se gaba e sorri de canto, dou um leve tapa em seu peito pela sua falta de modéstia mas tenho que concordar.

- Muito convencido, mocinho. - eu o beijo, depois de tanto tempo e ergo um dos meus pés, enquanto suas mãos estão juntos atrás da minha cintura, minha postura firme cede logo e me entrego a ele.

- Não tão convicto quanto a sua auto- confiança e amor próprio agora. Você detonou a Mildred, mas pisou com bondade.

- Ela merecia ser pisada como um chiclete grudado eternamente na sola do meu sapato, mas julgar não é o meu dever. Tenho muito a aproveitar com o meu amor para lidar com isso. Literalmente. - ele se sente orgulhoso e feliz pela minha convicção e que meu processo de auto aceitação têm progredido, seguimos para o carro, com a certeza da nossa saúde estável e de que nenhum mal pode mais nos atingir definitivamente e mais do que nunca, a certeza do nosso amor.

P.S do autor: Oi pessoal, quanto tempo hein! Quando disse "até a próxima aparição" não esperava que demoraria tanto assim. Nesses últimos tempos, aconteceram tantas coisas... talvez vocês saibam um dia mas só vim através desse p.s. para pedir desculpas pelo sumiço e para confirmar que eu tô de volta e que a frequência das postagens vão aumentar para suprir essa falta. Então, continuem aqui para acompanhar o meu retorno, me apoiando e votando e dando seu feedback. Kisses ❤️

Apenas Segure A Minha MãoOnde histórias criam vida. Descubra agora