Capítulo XXXIV

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Para aliviar o meu tédio, por me sentir muito elétrico e agoniado, de tanto olhar aquele teto e de imaginar que meus dedos têm uma ponta colorida, que desenha invisivelmente aquela parede, eu resolvo me levantar para preencher a minha noite tão tediosa e monótona. Pelo meu tour nada prazeroso por aquela casa, eu pude reparar uma copa, com uma grande mesa e uma estante com incontáveis gavetas e me direciono para lá, para também aliviar um pouco da fome que só está para começar, já que a bonita saiu e aparentemente, só tem poeira e procriações de ratos e baratas naquele armário da cozinha. Reviro um pouco daquelas gavetas e tudo que me interessa são algumas folhas brancas e um punhado de lápis e outros, de cores, não tenho o que fazer e apenas sento para pôr em prática, a minha única habilidade, que não é ter controle da minha própria vida. Rabisco algumas coisas antes de, realmente, desenhar, apesar de faltar inspiração mas elaboro algo na minha cabeça: alguma cena, um símbolo ou alguma frase com letras desenhadas, como fiz anteriormente. Escrevo algumas frases motivacionais, para que eu lesse e me encorajasse, frases tão pessoais quanto ter o seu próprio nome e algumas se destacam.

'Como você acha que algo de extraordinário pode acontecer no seu futuro se nem vivo você quer estar para presenciar isso?' - um conselho exclusivo para mim e um solene recado para a minha mãe:

'Obrigado por tudo, mesmo não valendo de nada' .

Termino de rabiscar mais algumas coisas com os poucos tons que eu tenho e logo se acabam as pontas deles tão frágeis, assim como eu e bem miúdos por terem sido apontados com uma faca cega arranjada na cozinha. Dobro ele com muito cuidado, como o meu anterior, ainda na minha antiga casa, e o ponho embaixo no travesseiro para onde eu volto para deitar e tento lidar com a oscilação do meu humor e os pensamentos sobre o Nathan que afloram cada vez mais: como ele estaria, se ele estaria preocupado  com meu sumiço (por ele não ter aparecido no hospital) e se havia alguma possibilidade dele me encontrar aqui, nessa inóspita casa e nessa horrível situação. Meu rádio imaginário me faz cantar alguns versos de Train Wreck, apesar de ser um dos dons exclusivos do Nathan e me faz lembrar, de forma insistente, a minha situação pré-caos que estou vivendo agora: pela minha situação de morte iminente, meu sumiço repentino do mapa e a aparição do Nathan, que é a coisa que eu mais quero agora.

Laying in the silence, waiting for the sirens

(Deitado no silêncio, esperando pelas sirenes)

Signs, any signs, I'm alive still

(Sinais, quaisquer sinais de que ainda estou vivo)

I don't wanna lose it, I'm not getting through this

(Eu não quero perder, eu não estou conseguindo passar por isso)

Hey, should I pray? Should I fray to myself

(Ei, eu deveria rezar? Eu deveria refugiar em mim mesmo)

To a God, to a saviour who can...

(Para um Deus, a um salvador que possa...)

Unbreak the broken

(Remendar o que foi quebrado)

Unsay these spoken words

(Desdizer essas palavras lançadas)

Find hope in the hopeless

(Encontrar esperança na falta de esperança)

Pull me out the train wreck

(Me tire desse desastre)

... I am not ready to die, not yet

(... eu não estou pronto para morrer, ainda não)

... cause a one in a million chances

(... porque uma chance em um milhão)

Still a chance and I would take those odds

(Ainda é uma chance e eu prefiro apostar nessa chance)

... I'm down on my knees

(Eu estou de joelhos)

And I need you to be my guard

(E eu preciso de você para ser meu guarda)

Be my help, be a saviour...

(Seja minha ajuda, seja um salvador...)

Minha oscilação de humor me faz me sentir em uma gangorra onde estou sozinho e há bigornas sentimentais que me impedem de erguer, fazia tanto tempo que não a sentia e sentí-la novamente, me faz relembrar como é dolorido e tão difícil. Claro que eu tinha meus momentos de alegria e de tristeza e a depressão não é, necessariamente, caracterizada por tristeza e baixa energia mas carregar seu fardo e ter que respirar para balancear minhas emoções é desgastante e exaustivo. Agora, mais do que nunca, uma atitude do Nathan, ao invés de uma declaração, valerá muito para considerar o nosso sentimento ainda mais e espero muito não ter que esperar muito pela sua iniciativa. E é nesse estado sentimental e fragilmente emotivo que sinto meu corpo relaxar ainda mais no colchão e meus olhos relutantes a fechar. Bocejo e não demoro a me render ao sono que logo toma conta do meu corpo.

Apenas Segure A Minha MãoOnde histórias criam vida. Descubra agora